segunda-feira, 19 de maio de 2008

CAPÍTULO 7 - RENASCENDO PARA CRESCER

“Todas as Revelações chamadas Iniciáticas ou Fundamentais são reencarnacionistas; a reencarnação é a válvula redentora e evolutiva dos espíritos, com ou sem os palavrórios humanos.”
“Se a Terra não existisse; se nada do que há conhecido, no plano carnal ou espiritual existisse, na Ordem Cósmica ou Divina tudo seria realidade; é muita a presunção humana, porém o Senhor Deus é Infinito em todos os sentidos.”

Entrei para um casulo de carne e deram-me o nome de Florence; a terra em que nasci foi a França; o tempo foi, uns setenta anos após os trágicos acontecimentos de São Bartolomeu. Para que nasci? Para aquilo que todos nascem, que é despertar em si mesmos a Verdade e a Virtude, porque a lei dos dois V’s contém em si todos os fatores positivos, sem os quais ninguém atingirá o Grau Crístico.
Os trágicos acontecimentos de São Bartolomeu tiveram um efeito contrário ao esperado pelo fanatismo sanguinário de Roma; porque o ideal da Reforma cresceu, o revide atingiu montante realmente expressivo, embora tudo ficasse na letra morta, num outro e também prejudicial fanatismo sectário.
A humanidade não tem feito mais do que se suceder em sectarismos estreitos, embora qualquer mente, por inferior que seja, possa considerar que os infindos mundos e tudo quanto lastreiam, toda a prodigiosa vida, tudo quanto é necessário à subsistência das coisas e dos seres, nunca jamais dependeu de religiosismos, de fanatismos sectários, de malabarismos clericalistas, de livros ditos ou tidos como sagrados, porém fartamente empanturrados de erros e mentiras.
Quem vive sobre um mundo, seja lá qual for, em virtude de um livro ou de milhões de livros fanatizantes?
Qual o sol que aquece, fornece energias e luz, em função de alguma obra tida como salvadora de almas, porém realmente causadora de separações terríveis entre os filhos de Deus?
Quem é que, para respirar o ar de que carece, para fazê-lo depende de umas páginas fanatizantes, verdadeiras fábricas de mórbidas paixões?
Quem irá colher os frutos da terra, ou movimentar os elementos da natureza, por efeitos de textos e traumatismos derivantes?
Que livro foi, meus irmãos, que ensinou ao Emanador o que fazer, como fazer e para o que fazer?
Entretanto, os donos de religiões sempre os tiveram como salvaguarda de seus mais tenebrosos engenhos!
Todavia, as piores tendências e paixões humanas, em tais livros foram beber sempre as justificativas para seus crimes!
Porém, meus irmãos, a infinita Obra de Deus, com suas leis Eternas, Perfeitas e Imutáveis, nunca estará abaixo de alinhavações humanas!
Porém, meus irmãos, um Divino Modelo um dia passa pela carne, foi desde pequenino perseguido pelos donos de livros ditos sagrados, foi preso e castigado, foi crucificado e insultado pelos donos de clerezias, mas foi apresentado pelo nosso Pai Divino como Modelo da Ressurreição Final do Espírito, sem ter escrito coisa alguma, pelo fato de saber que a Verdade e a Virtude não cabem em coisas que os homens fazem, quando manobram formalismos ao prazer de suas mediocridades.
Por mais inferior que um mundo seja, a vida nele se expressa imensamente vertiginosa, ensinando aquelas lições que todos deveriam procurar aprender e respeitar.
Por mais que uma humanidade seja infantil, tudo tem para compreender as necessidades fundamentais da vida, reconhecendo que não fez a Terra que tem debaixo dos pés, nem o sol, nem os mundos, nem o ar que respira, nem coisa alguma que só Deus pode emanar.
Qualquer indivíduo que se dê a pensar, logo descobrirá que é um escravo de muitas necessidades, sendo também assim os seus irmãos, podendo compreender, portanto, que da parte de Deus o Supremo Ideal só poderá ser a Fraternidade.
E para saber que assim o é, duas razões lhe sobram e muito inconfundíveis: a Lei de Deus, que não manda ter religião ou sectarismo algum, e o Divino Exemplo do Cristo Planetário, que foi por todos os sectarismos perseguido e crucificado, porque o clero levita representava a todos eles.
Nada tenho de importante a dizer daquela vida, a não ser que nasci com um defeito na perna direita, defeito que me obrigou a saber manobrar as mãos, no bendito mister de costurar e bordar.
Quanto à religião, era de origem protestante, cultivava o fanatismo da letra morta, achando que até Deus devia estar sujeito a tudo aquilo, porque alguns homens assim haviam escrito, estando Deus, portanto, obrigado à sujeição.
Quando desencarnei, fui recolhida imediatamente, sendo instruída também imediatamente; e a companheira de moradia, uma jovem muito alegre, disse-me com a sua bela voz:
— Você ganhou no jogo do Bem e mereceu o nosso pronto acolhimento; se não tivesse admitido os ensinos da Lei de Deus e do Cristo, e se fosse atrás do que dizem as religiões, talvez tivesse que passar alguns anos nas trevas, antes de vir para o nosso meio.
Olhei para a minha perna, que vinha de ser endireitada, e foi a ela que enderecei o meu pensamento de agradecimento; não sei o que teria feito na vida, como a teria aplicado, se tivesse tido as pernas direitas. Pode ser que sim, pode ser que não, mas o fato é que pensei assim e assim continuo a pensar.
Costureira saí da carne e costureira vim a ser no mundo espiritual; passei vinte e três anos no mundo espiritual e retornei à carne, agora na América e no Brasil.
Fui barata de igreja, mas não fiz mal a ninguém com o meu fanatismo católico, porque uma negra escrava nada tinha a fazer dessas coisas, visto como os bens a dispor e os objetivos a atingir eram mais do que limitados.
Casei com um negro escravo, dócil e prestativo, tendo sido ambos muito bem tratados pelos amos, dos poucos que dispensavam aos escravos bons um passadio de brancos. E como tínhamos a vantagem de lidar na cozinha da Casa Grande, tudo se encaminhou para o melhor possível, com a nossa boa conduta e as graças de Deus.
Foi uma vida longuíssima, tendo atingido eu os cento e dois anos; e a saída foi boa, porque uma negra escrava, nem no mundo espiritual iria esperar tudo aquilo que ele me deu.
Todavia, quando me disseram se queria continuar negra ou branca, achei bom optar pela cor branca. Pude em breve conhecer algumas vidas pretéritas, ficando bem e mal ao mesmo tempo, porque os méritos e os deméritos equilibravam. Todavia estava livre de pecados, sendo apenas um espírito carecente de evolução, de vidas e mais vidas, para ir realizando em mim mesmo a Verdade e a Virtude.
— Então assim é? – disse a quem me esclareceu.
— A libertação só se consegue quando se atinge o Grau Crístico, porque significa vencer a lei das encarnações obrigatórias. Ser um espírito sem crime a descontar não significa libertação total. O processo evolutivo tem o seu seguimento normal, devendo o espírito atingir a sagrada finalidade, custe mais ou custe menos. Se errar terá que acertar, mas a vida é eterna e tudo continuará.
Veio-me à lembrança perguntar sobre futuras vidas, tendo ele respondido:
— Posso garantir que estamos no limiar de grandiosos acontecimentos, pois a Doutrina deixada pelo Cristo será restaurada e estendida sobre a Terra. Temos ordens de aguardar os acontecimentos; quando for hora, teremos os avisos e deveremos cooperar no grandioso movimento.
Mal saída de novo da carne, abalou-me ouvir aquilo, pois era fervorosa católica, capaz de afirmar que fora do catolicismo não poderia haver Doutrina de Jesus Cristo. Como ficasse profundamente chocada, disse-me Tancredo:
— Não te perturbes, porque terás que estudar um bocado, Alice, antes de entrares para novos trabalhos; e saberás o que foi e o que voltará a ser a Doutrina de Jesus Cristo, cujos fundamentos são a Moral, o Amor, a Revelação, a Sabedoria e a Virtude, e tudo isso à margem de quaisquer clerezias, de quaisquer manobrismos de grupos formalistas e comercialistas. Compreenderás então que tudo repousará no cultivo da Verdade e da Virtude, tendo a Revelação como instrumento de advertência, ilustração e consolo.
— A Revelação? Isso é como a Anunciação, irmão Tancredo?
— Tal e qual, pois tudo se resume na comunicabilidade dos anjos, espíritos ou almas, que é como na Bíblia chamam aos espíritos comunicantes.
— Se Deus assim quer, que assim seja...
Tancredo viu-me pensativa e indagou-me:
— Em que pensas, Alice?
— Minha gente falava com os espíritos; isto é, fala com os espíritos. Se é isso que vai ser conhecido de todos, creio que será vantajoso.
Fazendo sinal de prudência, acentuou:
— Não te importes com o que irá acontecer, porque tudo acontecerá segundo ordens de muito mais alto. Afinal de contas, sabemos por informes de nossos instrutores, que em todos os mundos as humanidades, encarnada e desencarnada, terão que se infusar. A evolução conduz a este estado de vida, porque desperta nas criaturas sentidos novos e apropriados a isso. E sem te dizer mais nada por hoje, posso afirmar que as coisas já estão muito bem encaminhadas, porque um grande espírito já se encontra encarnado e em trabalhos, estabelecendo as bases doutrinárias. Dentro de alguns anos o mundo todo começará a falar nisso, e com mais alguns séculos, a humanidade inteira estará consciente de verdades maravilhosas. Então é que a Terra passará a viver a Civilização Cristã, posto que isso que chamam de Cristianismo nada mais é do que triste arremedo, verdadeiro paganismo aplicado despoticamente, para saciar erros, corrupções e acobertar crimes inomináveis.
Dito isso, Tancredo despediu-se, porque era professor e tinha outras aulas a dar. Fiquei conversando com algumas amigas, tornando a me familiarizar com tudo quanto pudesse, sobre a vida no mundo espiritual. Porque embora tudo seja como prolongamentos do mundo terreno, para melhor ou para pior, para baixo ou para cima, a verdade é que se estranha bastante a mudança quando se sai dos conceitos católicos, que são completamente errados sobre estas plagas.
Os formalismos, os simulacros, todos os fingimentos, todos os sacramentismos e tudo quanto diga respeito a milagres e a mistérios; tudo isso que ilude a uns, engordando a outros, colocando galardões sobre criaturas ignorantes e petulantes; tudo isso que faz traidores da Excelsa Doutrina passarem por ministros de Deus, tudo isso cai por terra, quando se entra no mundo espiritual um tanto superior.
Aquela chave libertadora: a Verdade, a Virtude e o Trabalho, isso de novo eu aprendera. E aprendera a ver Deus através de sua Emanação, de tudo quanto tinha ao meu redor para ver e compreender, sentir e viver. Porque isto ocorre com facilidade, nestes reinos – em lugar de sujeitar as realidades de Deus ao crivo muitas vezes estúpido das letras ditas sagradas, o que se faz é compreender que essas letras estão muito longe do que pretendem os seus fanáticos.
Outra realidade que por aqui defrontamos é esta – prontamente observamos que os encarnados fazem questão de criar dogmas, de fabricar ortodoxismos, de manobrar com estatutos, mas tudo isso em benefício de interesses subalternos, tudo isso para acobertar ignorâncias, tudo isso para engordar o bolso, o estômago e outros tantos infelizes fatores.
Se ao menos houvesse pureza de intenção nos erros, muito bom já seria, porque em um mundo inferior como a Terra, aquele que age com boas intenções já é digno de considerações. Ao primeiro toque da Verdade e da Virtude, da Moral e do Amor, o homem realmente bem intencionado dará o seu passo à frente. Mas isso é muito raro, porque costuma dizer que o Reino do Céu está longe e que o reino das vantagens imediatas está neles mesmos, ataca-os de frente e a todos os momentos.
Também as letras ditas sagradas, ou que alimentam fanatismos em nome de Deus e do Cristo, tornando-se por isso instrumentos de dissídias e de mortes, por estas bandas são de outro modo consideradas, porque em lugar de agir como aí, onde os filhos de Deus com elas pretendem escravizar a elas o próprio Deus, aqui são encaradas de outro modo. Elas dizem muito mal, muito mediocremente, de gloriosas realidades que vivemos, de verdades divinais que sentimos verter da Presença do Emanador, que é tangentíssima realidade.
Não falamos, é óbvio, dos planos inferiores do astral, para onde se prolongam as porcarias do mundo carnal; mas falamos dos planos melhores, já não digo muito melhores, onde a Bíblia de Deus é toda Luz e Glória, onde a palavra do Messias é Espírito e Vida, deixando muito longe o arremedo todo adulterado que os terrenos ousam dizer que é Evangelho. Se me puderem compreender, quero dizer que há por aqui uma Verdade Intrínseca, um Amor Intrínseco, um Deus infinitamente presente e glorioso a dominar tudo, e de tal modo, que as suas letras ditas sagradas, se fossem lidas aqui ao pé da letra, fariam corar a um defunto, se estas maravilhosas paragens pudessem albergar defuntos.
É por isso que muitos religiosos, quando aqui aportam, sentem profunda revolta contra certas afirmações ditas aí sagradas; aqui eles procuram trocar tudo por Moral e Amor, Verdade e Virtude, realidades essas que por aqui brindam a todos com perenidade de presença, como realidades vivas e não como longínquas tiradas teologais, tiradas de efeito impressionante para aqueles que as usam para tapear os menos cautos, os compradores de idolatrias e de simulações.
Creio que descobrem, pelas palavras que lhe dirijo, o quanto o problema religioso está, na Terra, em profundo atraso; de tal modo atrasado, que o mais bem intencionado esquece prontamente de viver a Verdade e a Virtude, para consigo mesmo e para com os seus irmãos, para ir adorar vestes fingidas e idolatrias, pagando bem caro pelas simulações que um dia o atirarão nos abismos trevosos. E quem foi que forjou tudo isso? Quem colocou tudo na frente de dogmas e de ortodoxismos, de estatutos truculentos?
Muitos dizem, porque temos ouvido em todas as partes, já que agora estamos funcionando no Consolador Restaurado, que um novo Cristo devia encarnar, para ensinar verdades puras, para consertar a humanidade. Entretanto, esses mesmos que dizem isso, podem considerar que o Cristo é eterno, perfeito e imutável como lição, porque representa a Lei de Deus vivida, a vontade de Deus executada. Mas de modo prático, no meio das ruas, junto das gentes, falando a linguagem da Moral vivida, do Amor trocado por bondades distribuídas.
Não ficou o Cristo no mundo, dentro de um templo, a tecer futricas teologais; não perfilhou os conceitos farisaicos nem dedilhou a lira dos escribas, sempre meticulosos em vírgulas e acentos, jogos de palavras e mil futricas; foi Ele, o Divino Modelo, consolar aflitos, curar feridas, dar ouvido a surdos, vista a cegos; foi chorar com quem chorava, foi compartilhar das angústias daqueles que sofriam nas mãos dos ditos ministros de Deus!...
O seu livro sagrado foi o programa de Moral e de Amor, de Verdade e de Virtude que pôs em prática!
A nova ordem anunciadora, deixou-a no Consolador, na Revelação generalizada que do Pentecoste em diante teria ficado no mundo, se Roma não truncasse tudo com a sua traição!
E a prova da Moral e do Amor vividos, demonstrou-a com a Ressurreição, com a Glória com que Se apresentou após a crucificação.
Estas realidades, todos por aqui as conhecemos, por isso mesmo que devotamos um profundo pesar a todos os ortodoxismos, a todos os dogmatismos, a todos os estatutos que visam reduzir a Verdade e a Virtude a decretozinhos de homens. Temos a mais plena certeza de que, com um dedalzinho de prudência, de bom senso, qualquer um pode compreender que a Moral e o Amor, a Verdade e a Virtude, não cabem em papéis e decretozinhos humanos.
As coisas deviam ser repostas no lugar e já foram mesmo restauradas, mas em caráter de Doutrina Viva, evolutível ao infinito, e não como instrumento de novas dogmatizações, e não como edição moderna de viciosos fanatismos sectários. A Excelsa Doutrina do Cristo não cabe em livros, é Espírito e Vida! Os livros devem ceder lugar aos atos de Verdade e de Virtude! As grandiosas lições de Deus estão no infinito emanado e toda a real Sabedoria está no Amor praticado!
Os homens ignorantes esperam o novo Cristo, mas o Cristo eterno espera pelos homens prudentes através de suas obras. Não há outro Deus a ser anunciado, não há outra Lei a ser promulgada, não há outro Cristo a ser apresentado, não há outro Amor a ser indicado, não há outra Justiça a ser lembrada.
Quem afirmou perante o mundo que Deus é Espírito e Verdade, assim querendo que Seus filhos venham a ser, nunca jamais passará, porque essa afirmativa contém a Sabedoria Total. Ninguém dirá verdade doutrinária maior do que essa, diga o que disser, no infinito do Espaço e do Tempo.
Não há que esperar um novo Cristo; há que desabrochar o Cristo Interno, conforme a Divina Modelagem do Cristo Externo, que Jesus, o Diretor Planetário, viveu diante da humanidade. Porque Cristo é grau, e todos devem atingi-lo.

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