terça-feira, 6 de maio de 2008

CAPÍTULO 2 - NOS ABISMOS DA SUBCROSTA

“Em verdade, em verdade vos digo, que não saireis dali até pagar o último ceitil” – Jesus.

Os Sete Céus que compõem o mundo astral terrícola, ou sete faixas concêntricas e superpostas, naturalmente se subdividem em múltiplas subfaixas; e tudo isso para que cada espírito receba, por habitação, o seu lugar específico, a sua morada segundo as determinações dos condicionamentos vibratórios.

Ninguém tem o seu plano de morada por força de organismos burocráticos ou de maquinações de gabinetes; mas a cada um será dado morar em um plano de vida que represente, no exterior, o correspondente do seu padrão interior. É a lei do peso específico a encaminhar cada um ao seu nível comum de habitação e vida, meios e fins.

O submundo, a vida astral da subcrosta, essa vasta morada daqueles que mal se comportaram, que jogaram mal com o dom sagrado de relativa liberdade, é constituído de quase setenta subfaixas. E quanto mais para o centro da Terra sólida, tanto mais inferior. E não é necessário dizer que os mais terrificantes estados existem por ali, e que os corpos astrais ou perispiritais vão se degradando, na razão direta dos desequilíbrios mentais. Portanto, é muito comum a característica de um ser humano, no seu corpo astral, vir a ser a de um animal inferior, podendo atingir a configuração de répteis, que são os níveis inferiores, que são as primeiras manifestações da escala evolutiva, depois dos blocos e das larvas, logo em seguida aos filamentosos.

Falando agora, depois de alguma recuperação feita, posso garantir que a Terra é um mundo muito inferior; porque além de ter um submundo assim medonhamente inferior, tem para o exterior, para fora do mundo físico, muitas faixas negras a contar, onde legiões de seres penam suas transgressões contra a Lei. Não são piores do que as tenebrosas habitações do submundo, mas são lugares de sofrimento, são ambientes de expiação.

Quanto tempo ficará um espírito sujeito a tais expiações?

Tudo corresponde ao montante de faltas, não havendo regra geral, sem ser no fato de ter que sofrer a punição. E como quem paga é quem contraiu a dívida, fica saliente que o próprio ser é o juiz em causa própria. A vida de cada um é como a sementeira própria, sendo obrigado a colher assim como semeou.

Haveria como discutir com a Lei ou com a Justiça Divina?

Nunca! Porque o SER INFINITO que é Deus, jamais desce à condição de individualidade, para reger o que quer que seja com caráter de particularidade. Em Deus tudo é UNIVERSAL, porque tudo rege por meio da Lei. A Lei Central de Equilíbrio funciona eterna, perfeita e imutavelmente! Ela mesma se desdobra em leis e mais leis, mas a sua marca essencial é fazer tudo retornar à Lei Central.

Em virtude de ser assim, qualquer desequilíbrio representa falta cometida contra a Lei Central de Equilíbrio ou Harmonia; e como a registração é feita no corpo astral do faltoso, quem a desmanchará, sem ser ele mesmo? E se lavrou ata contra si mesmo através de obras, como a resgatará, sem ser através de obras? E se foi em vida, como encarnado ou desencarnado, por que o não terá que ressarcir em vida, até o último ceitil?

Quero deixar bem patente que o sofrimento expiatório não significa crescimento em VERDADE e em VIRTUDE; a punição pelo erro cometido nada tem que ver com a lição a ser aprendida. Depois de sofrer nos lugares de dor, terá que trabalhar e realizar em si a VERDADE e a VIRTUDE, que é como se desabrocha no íntimo o Reino do Céu.

Se a criatura errar, pagará e continuará a caminhada realizadora; mas o ideal seria observar a Lei de Deus, para se manter em eqüidade perante a Lei de Harmonia. Porque discutir ninguém poderá e por cima da Lei ninguém passará!

Estive setenta e tantos anos a perambular pelos lugares mais tenebrosos da subcrosta, tendo dali saído para as faixas exteriores ou umbrosas, sem saber; e se fiz isso automaticamente, ou em virtude de ir pagando contas, ou diminuindo a pressão vibratória, devo dizer que os funcionários desses departamentos e lugares é que me foram aproximando do primeiro posto de socorro. A Lei de Harmonia agia de dentro para fora e eles, sem eu saber, agiam de fora para dentro; e quando as coisas estavam vibratoriamente favorecendo o acontecimento, houve a eclosão do fenômeno inteligente e consciente, houve o contato entre eles e eu.

Fui observando uma luz distante, muito ao longe, luz que se foi aproximando, cada vez mais se aproximando, até que um dia falou, ordenando-me lançar veementes apelos a Deus e a Jesus Cristo.

— Brada ao Emanador e a Jesus Cristo, ó tu que tantos crimes cometeste em nome

Deles! Levanta o teu pensamento aos planos de luz e de amor, ó tu que em nome da luz e do amor tantas trevas e tantas dores semeaste!

Estava desnuda, ferida, suja e mal cheirosa; estava defrontando a mim mesma, tal e qual me fizera; mas estava vendo uma luz que falava, que me concitava marchar ao encontro de Deus no meu interior. Depois de pensar, não como falo agora, mas como então podia fazê-lo, atirei-me ao chão bolorento e fétido e chorei como jamais poderia descrever, porque com a alma é que chorava. Para mim, eu estava é saindo do inferno, por uma graça de Deus, tendo obrigação de agradecer a essa graça, a esse favor do Céu. Mais tarde é que me informaram do contrário, de ser a Lei sempre compulsória, obrigando a cada um o dever de reequilibrar.

Quando se me estancaram as lágrimas, levantei os olhos e ouvi que a luz me ordenava caminhar, segui-la sempre, não mais parar; e foi assim que dei, dentro em pouco, com um terreno algo melhorado, cujo melhorado foi aumentando, até ver umas casas semeadas ao longe, em terreno que parecia ser ainda melhor.
Animada, cheia de esperanças, rumei até perto de uma das casas; e foi dela que saiu uma senhora, em cujas mãos trazia umas roupas.

— Vista isso, minha irmã...

— Suja como estou?!...

Ela sorriu, um sorriso penetrante, realmente sorriso fraterno, dizendo:

— Eu sei disso... Todos vêm assim e as nossas roupas são para isso mesmo.
Por ter-me encabulado com aquelas palavras, tornou ela:

— Isto é apenas um posto de socorro... Quem vem vindo, porque vem sendo guiado, deve encontrar normalmente um lugar de recepção, onde encontre roupas e explicações preliminares. Alguns vêm famintos, ou famintas, mas a maioria não, porque as longas tormentas fizeram esquecer essa necessidade.

Tive que fitá-la, sem falar, porque muitas coisas me vieram à mente, ao ouvi-la falar assim; e foi ela quem adiantou, explicando:

— Isto é no mundo espiritual, compreende? Tudo se parece com a Terra, porque é um lugar muito inferior, é a porta de entrada para os planos de mais luz e de mais amor... Vá procurando entender, mas sem pensar demais, porque todas as verdades derivam de Deus, são simples e normais, em nada importando os conceitos humanos, favoráveis ou contrários... Observe tudo, acima de tudo ame com ardor a tudo quanto for encontrando, porque o amor é a grande lei que glorifica os filhos de Deus.

— O amor é a grande lei que glorifica os filhos de Deus! – repeti eu, com incontida vontade de lhe cair aos pés.

— Isso mesmo – repetiu ela, com voz muito carinhosa.

— Quem a mandou fazer isso? – perguntei-lhe.

— Deus! – respondeu com firmeza.

— Deus?! Ele vem aqui?!... – indaguei, admirada.

Ela sorriu, deu-me tempo de meditar mais e a seguir explicou:

— Minha irmã, tudo quem dá é Deus, porque sem Deus nada existe; porém, se o seu desejo é conhecer as coisas pelas extensões do relativismo, devo dizer que entre Deus e nós duas existem milhares e milhares de chefes, de graus hierárquicos. Assim sendo, Deus nos dá tudo através de Seus mais imediatos filhos, aqueles que mais se elevaram na escala evolutiva. Por exemplo, temos o nosso Cristo Planetário, conhecido pelo nome de Jesus, que você bem conheceu de nome, porque foi em Seu nome que tamanhos crimes cometeu...

— Conhece tudo sobre mim e meus crimes?!... – perguntei, perplexa.

Ela encolheu os ombros, sussurrando:

— Eu também fiz isso tudo... Aqui estou a falar com você, Leonor, como funcionária de Deus, através de Jesus Cristo, e a Este segundo os escalões hierárquicos normais.

Há muita ordem nos planos de luz e de glória, porque a cada um é dado rigorosamente segundo o que merece.
Minha cabeça estava cheia de perguntas, mas calei-me; e foi ela quem de novo falou, indagando-me:

— Leonor, quer seguir ou quer entrar e comer alguma coisa?

— Quem diria!... – exclamei, quase assustada.

Ela tornou a sorrir, aquele sorriso fraterno, sentenciando:

— Assim é pela Vontade de Deus. Que adianta pensar de outro modo?
Acanhada, perguntei:

— Não a estou importunando?

Ela chegou-se, abraçou-me, beijou-me e respondeu:

— Eu preciso trabalhar nos domínios do Bem e do Bom, minha querida irmã, para ressarcir grandes faltas do passado e vir a merecer melhores moradias e melhores serviços. Tenha a bondade de servir-se de meus préstimos, para que eu ganhe bem o meu salário...

— Que amor! Que amor!... – exclamei, toda feliz.
Enquanto entrávamos casa adentro, ela é que enxugava umas lágrimas. E se é certo que ela me rogava servir dos seus préstimos de funcionária do Bem e do Bom, também é certo que eu me sentia cada vez mais acanhada; aquela catadupa de amor punha a minha alma em estado de prostração. Ela já era muito grande, amando daquela maneira ao serviço do Bem, enquanto eu era muito pequena, sentia em mim apenas a dívida que contraía. Vendo-me pensativa, e pensativa precisamente por esse motivo, trouxe-me uma vasilha cheia de frutas, algumas conhecidas na Terra e outras não, perguntando-me:

— Não faça isso! Por que ficar triste, agora que está recolhida?
Embora com voz embargada, pude responder:

— Eu sou uma grande criminosa e recebo tanto carinho... Como pagarei tudo isso, minha senhora?

Levantou-me a cabeça, e advertiu-me:

— Já disse que sirvo a Deus e a Jesus Cristo, apenas, aplicando o pouco de amor que consegui realizar em mim, eu que também cometi faltas gravíssimas; e é como você irá fazer, assim que puder. E não pense mais em mim, no meu tempo e no que lhe der, porque isto corre por conta de Deus, o Nosso Pai Divino. É por meio de leis que distribui Justiça, para efeito de punição ou de prêmio. Se esteve pagando pelos erros cometidos, aproveite com gratidão aos benefícios que o Pai agora lhe oferece. Pense nas leis que regem os fenômenos, para não viver cometendo outras tantas faltas.

— Nunca entendi nada disso, minha senhora – respondi.

Ela murmurou, compassiva:

— Eu também nada entendia, pois fora uma freira fanática e cruel, muito mais cruel do que você o foi. Todavia, aqui estou, sentindo a falta que me faz um pouco mais de... amor... Sim, minha querida irmã, eu gostaria de amar de um modo celestial, nem sei como dizer...

Enquanto comia frutas, a conversa se estendeu, até que perguntei onde e quando poderia tomar um banho.

— É num outro posto, que fica logo adiante; ali há gente especializada nesse mister. Os banhos dependem do estado da pessoa, compreende?

— Quando irei para lá?

Com verdadeira ternura no olhar, aconselhou-me:

— Vá correndo, minha querida!

Ajoelhei, agradeci a Deus por tudo aquilo e, por ela acompanhada, subi a colina que ficava atrás da casa. Daquele alto se avistava um vale já bem verdejante e florido, com muitas mais habitações esparramadas.

— Entre naquele casarão que tem uma torre, ouviu?

Despedi-me e rumei para o belo casarão; mas até hoje, depois de tantos anos e tantas vicissitudes, de tantas amizades e de tantos serviços feitos, até hoje, repito, depois de reencarnar duas vezes, lembro-me dela, que agora está encarnada, com uma saudade que me fere com um carinho todo especial. Eu sentia que do eterno inferno alguém me havia livrado por graça, e por graça também havia colocado aquela irmã no meu caminho. Do seio daquelas tormentas inenarráveis, sair para encontrar tamanho carinho, tudo aquilo era coisa para mim inconcebível. Em outras circunstâncias, muito mais poderia parecer muito menos; mas naquelas, eu tinha que sentir e muito a chocantíssima diferença.

Naquela irmã, cujo nome era Aurora, quero ver e reverenciar a todos os trabalhadores do amor; porque onde esteja alguém semeando a Verdade, o Bem e o Bom, o Pai Divino ali estará, em maior ou menor grau, agindo sobre Seus filhos, conclamando-os à Perfeição. E não resta dúvida alguma sobre ser o amor, vazado em termos de bondade, quem realmente levanta os espíritos aos páramos de luz e de glória.

Os religiosismos, os agrupamentos sectários, clericalistas ou não, com suas arengas, com suas falsas importâncias, com seus títulos e suas nobiliarquias, tudo isso é roteiro de aparências e até mesmo crimes; mas o amor vazado em termos de bondade praticada, não de conversas longas, é o caminho do Céu.

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