“O que é Verdadeiro, Bom e Belo, conduz a Deus” – Pitágoras.
Acordei envolvida ou penetrada de uma leveza estranha, suave, celestial; parecia ter vindo de distantes regiões, e, se fosse comparar com o estado anterior, diria ser um estado realmente celestial.
Deram-me, para mudar, uma roupa cor-de-rosa:
— Fica-lhe mais de acordo com o estado psíquico; o branco é muito simples, desde que não seja brilhante, e o rosa é mais vibrátil. Você sempre foi bastante ativa e inquieta, nervosa e impulsiva, não é isso?
— Seja como for, Rosa, esta cor me agrada mais. Será um simples caso de simpatia, mas o fato é que o rosa me agrada bastante.
Olhando, observei que as roupagens eram de variados tons, havendo gente enfeitada, com roupagens de três e quatro cores. Perguntando, respondeu-me Rosa as condições de tudo, roupas e utensílios, que eram por gosto e, acima de tudo, por merecimento.
Entretanto, passou-me o recado:
— Saiba, Leonor, que você tem cinco dias ao seu dispor, para observar o lugar, ler e passear, visitar algumas casas e fazer algumas perguntas.
— Algumas perguntas? Como saberei o que e como perguntar?
Sempre solícita, Rosa discursou:
— Leonor, esta região é a porta de entrada aos planos de luz e de glória; e nós somos gente que vem de baixo e não de cima; portanto, observe, teremos muito que perguntar e por milênios a fio, durante as vidas sucessivas e as avalanches de questões a defrontar. Nesta região, por exemplo, embora sendo inferior, todos podem notar a diversidade de atividades normais e a multiplicidade de recursos a serem empregados, para a máquina funcionar bem. Ninguém aqui poderia fazer tudo, nem tampouco saberia fazer tudo, como você irá observar. Portanto, repetimos a velha sentença: “Quem não respeita o Saber e a Virtude não é civilizado.”
— E as perguntas? – indaguei, interessada.
— As perguntas – prosseguiu – você as fará quando achar conveniente. Porém, tenha certeza, muita coisa entrará como experiência própria e muita coisa irão lhe dizer, sem que você formule perguntas.
— Por exemplo, Rosa, você falou em vidas sucessivas; aí tenho eu por obrigação perguntar, visto como os padres enviavam aos calabouços por muito menos.
Abanou a cabeça negativamente, perguntando-me:
— Quem perseguiu, prendeu, judiou e crucificou o Cristo?
Notou em mim a perplexidade causada pela sua resposta, adiantando:
— Querida irmã Leonor, peça Virtude aos virtuosos, Verdade aos verdadeiros,
Conhecimento aos conhecedores e Liberdade aos livres; não cometa a leviandade de confiar em quem fala de Deus ou em Seu nome faz gestos e mercâncias. Temos em nós as provas de tantos males derivados das clerezias em geral, que já deveríamos estar imunizados contra tudo isso pela eternidade afora.
— A Verdade, o Bem e o Bom! – repeti, com entusiasmo.
Encarou-me com aquela singeleza que a caracterizava, completando:
— Na medida de suas possibilidades, saia imitando o Cristo; isto é, procure ir vivendo a Lei de Deus. Porque eu te afirmo, Leonor, que ela inteirinha tem aqui aplicação. E quero afirmar que, nos mais altos planos da vida, sempre subindo em suas mesmas amplidões, ela é a Chave do Triunfo.
Andando que estávamos, a conversa nos furtou de observar melhor o terreno e as coisas que se passavam; mas agora Rosa estacou, apontando:
— Estamos andando na direção do Vale da Separação...
— Vale da Separação?
— Sim, por onde todos chegam aqui... O caminho que você trilhou.
— Não percebi Vale algum.
— Não perseguiu uma luzinha que chegou a falar, Leonor?
— Sim, assim foi.
— Muito bem. A luzinha era um servidor dos caminhos, e o Vale você não poderia mesmo notar, estando como estava. Entretanto, saiba, ninguém aqui chega por acaso e sem ser por esse Vale. E saiba também, que sem ser um labirinto, ninguém o percorre e atinge os nossos campos já verdejantes e floridos, sem ser guiado.
— Entendo, Rosa, que a Justiça Divina funciona com inteira organização e através de leis e elementos, como já me disseram. Enfim, Deus está em tudo e oferece o merecido a cada um. E para ser assim, os ambientes e as pessoas entram na movimentação dos fatos até mesmo sem saber.
Rosa revelou alegria, dizendo:
— Isto mesmo! Vá tirando conclusões por si mesma, que valem mais na estrutura do orçamento evolutivo.
— Gostaria de ver mais nessa direção; é isso possível?
Rosa agora soltou amigável gargalhada, adiantando:
— Muito vai ter que agir por esses abismos, fazendo marchar gente que andou semeando trevas e que vive colhendo infernezas, antes que volte à carne. Seu trabalho vai ser por aí mesmo, por um bom tempo, e depois reencarnará. Mas, vamos até a saída do Vale. E vamos andando, que você não poderá voltar antes de tomar o quarto banho.
Antes que eu perguntasse, ela falou:
— Eu sei que tem muito a perguntar, Leonor; e darei as respostas, como as possa dar, sempre que possível. Agora, sobre os efeitos do banho, digo que têm a propriedade de tornar mais leve o seu corpo espiritual. É uma espécie de descondensação, ou de mais fluidificação, para vir a ter mais saúde e a poder volitar quando quiser.
— Em todos os casos? – perguntei.
— Jamais! – respondeu, afável – Os casos variam de muito, para não dizer ao infinito. Alguns passam meses entre feridas e febres, enquanto outros, como o seu caso, prestam-se a imediatas recuperações. E não faltam os perturbados mentais, que vão para outros departamentos, compreende?
Quando chegamos diante da casa onde recebi a roupa e as primeiras instruções, Rosa me avisou:
— Veja que temos doze casas alinhadas, com a frente voltada para o Vale; e lembre-se de que cada uma oferece uma espécie de ajuda. Você só precisava de uma roupa, mas há outros que precisam de comidas, bebidas, informes jeitosos, palavras de estímulo, fumos, padiolas, etc. Lembre-se de que, se tiveram que viver longos anos nas trevas, também o simples fato de merecer recolhimento significa medida de respeito aos seus usos e costumes normais.
— Por isso recebem a todos com verdadeira ternura? – inquiri.
— Ternura! Ternura! – balbuciou ela, enlevada – Que palavra maravilhosa, para significar o amor que nós devemos ao trabalho em si e aos irmãos aos quais podemos e devemos ajudar, através do trabalho.
Depois de breve e meditada pausa, retornou:
— Sim, minha querida irmã, aqui estamos para estender as mãos, para amparar, porque a Justiça Divina cabe a Deus, e não a nós, dela dispor. E bem sentimos nós, todos os trabalhadores destes locais, que viemos dos lugares de pranto e de ranger dos dentes, que AMOR é a palavra mágica de que precisamos, para, traduzindo-a por ternura, como você disse, convertê-la em vida feliz e esperançosa.
Rosa tinha os olhos marejados, os seus grandes olhos verdes e cismadores, e eu tive que lhe perguntar:
— De que a fiz lembrar, minha amiga? Lamento o que fiz...
Ela assinalou que não, abanando a bela cabeleira castanho-clara, explicando:
— Todos merecem ser tratados com ternura, depois de virem ter às nossas residências e departamentos; mas é muito triste lembrar a chegada daqueles que a vida ou destino fez-nos ligar pelos elos consangüíneos mais íntimos. Estava a lembrar a chegada de minha mãe, faz uns cinco anos... Eu só o soube uns três meses depois, quando ela já estava muito melhor, e isso devi à ternura de trato daqueles amigos que a receberam e a trataram. São estas atenções, Leonor, que trazemos em nossos corações, fazendo-nos reconhecer que as graças de Deus com bem pouco esforço podem ser vazadas por nós, Seus filhos ainda pequeninos.
Enquanto apontou para um vulto que vinha surgindo das brumas, foi avançando nos conceitos, até considerar:
— Por isso é que compreendo a função missionária de Jesus; é que ninguém é grande fora do amor, e os grandes de verdade, parece que com bem pouco esforço se convertem em ternura para os seus irmãos menores, ignaros e maldosos.
Ela continuou apontando para o vulto negro e vimos, dentro em pouco, que era um homem esfarrapado, que mais andava de rastros do que de pé; e como Rosa cruzasse as mãos sobre o peito, entrando em oração, naturalmente em favor do pobre irmão, também fiz o mesmo. Orei com o melhor dos impulsos, lembrando o carinho com que fui recebida, procurando agradecer a Deus por tudo, ao ofertar ao pobre irmão aquela rogativa. E senti um estranho movimentar de forças em mim, dentro e fora de mim, que cheguei a me assustar um pouco.
Ao terminar a oração, Rosa disse-me:
— Faça sempre assim, ouviu?
— Como?
— Agradeça a Deus oferecendo préstimos aos outros, sejam lá de que ordem possam ser, porque assim Ele o deseja. Deus não quer ser adulado, quer ser servido. E como servir a Deus, sem ser através da Verdade, do Bem e do Bom?
— Mas, Rosa, como soube o que eu pensei?!
— Como você também virá a saber, quando chegar a hora.
Apontou para o lado das brumas, na direção de onde viera surgindo o homem e disse, perguntando:
— Que vê, naquela direção?
— Brumas e nada mais.
— Mas eu vejo longe, através do vale, sabendo onde estão os servidores do Vale e o que estão fazendo; como julga que isso acontece?
— Faculdades? – perguntei, duvidosa.
— Sim, mas faculdades que estão em todos os filhos de Deus, restando apenas i-las desenvolvendo. Eu consigo um pouco, mas há irmãos, por aqui, muito avançados em muitas outras virtudes espirituais. E, lembre-se, isto por aqui é lugar de gente muito pequenina em matéria de luzes e glórias espirituais.
Chegou-se a mim, colocou-me o polegar entre os dois olhos e disse-me:
— Vá pensando em ver, em penetrar nas brumas, em estar lá dentro delas...
Primeiro senti uma carga de força que me fez estremecer toda; depois, aos poucos, fui observando rolos de fumo, que se envolviam, parece que vindos do chão; e depois notei que via alguém, não distintamente, que estando enroupado e coberto com um capacete luminoso, endereçava o jato fosco em certa direção.
— Olhe na direção do jato! – ordenou Rosa, com vigor.
Olhei e vi o jato bater na testa ou na cabeça de um vulto muito alto, porém parecendo feito de carvão, tal a densidade e o facetado que revelava. Eu tive a impressão de ver um homem enorme, feito ou vestido de carvão de mina, mas Rosa logo me informou:
— Cada um constrói o seu corpo astral de acordo com o seu modo de sentir e agir; e posso lhe garantir, Leonor, que os muitos anos passados em tal estado, podem fazer revolver as formas animais inferiores pelas quais já transitamos, durante a escalada pelos reinos e espécies. Surgem homens e mulheres das brumas, e surgem também monstros por fora que casulam homens e mulheres por dentro.
— E que fazem, para eles?
— Vão parar na casa própria, que é a da extrema esquerda; o pessoal é competente e a aparelhagem é própria. É só questão de dardejar com jatos de força e fogo, para surgir o ser humano, mais ou menos ferido. E como a tramitação pelas casas de tratamento é normal e perfeita, pode compreender que tudo são leis e recursos, atrás de cujas leis e de cujos recursos, está o Emanador, agindo através de irmãos nossos muito crescidos em Amor e Sabedoria.
— Crescidos em Amor e Sabedoria! Como isso é bom de ser ouvido!...
— Melhor de ser vivido, Leonor – respondeu Rosa, lançando-me olhar inteligente e compassivo.
Não tive receio de perguntar, notando-a assim amiga:
— Você conhece gente desses reinos superiores?
— Sim, todos os trabalhadores desta região conhecem criaturas algo superiores...
Digo algo superiores, porque os de muito alto nada poderiam fazer entre nós. Para cada plano do mundo astral há um modo de viver, porque há um modo de ser que condiz com o grau de evolução ou de progresso das criaturas. E por ser assim, os nossos mestres nos falam consoante as nossas possibilidades de entendimento e de ação. O que nos mostram e nos dizem é compatível com o que devemos ir pondo em prática.
E fitando-me nos olhos, como a querer falar ao mais profundo de mim, lembrou o Cristo:
— O Cristo, o Grau Perfeito, está para todos nós reconhecido intelectualmente... É a
Sagrada Finalidade a ser atingida através do Processo Evolutivo... Mas seria loucura pretender lá chegar sem escalar todos os matizes de graus que ficam nos intermédios.
Creio que você pode compreender a evolução gradativa das criaturas, não pode?
Externei o meu pensar:
— Bem, se a Perfeição é obrigatória, porque em Deus não há desígnios que possam falhar, para lá marcharemos. Porém, Rosa, do modo como as religiões ensinam as criaturas, isso deve custar muito.
Calhou de vir aparecendo outro vulto, mas este rastejando e bradando socorro, e Rosa o apontou, murmurando:
— Observe, Leonor, o que fazem os falsos ensinos religiosos... Em lugar de mandar viver a Verdade e a Virtude, para que o Cristo Interno se realize segundo a Divina
Modelagem do Cristo Externo, o que fazem é mandar dobrar os joelhos diante de seus donos e dos simulacros que os engordam. E o resultado, observe bem, aí está demonstrado nesse pobre irmão, que bem representa a Humanidade ludibriada pelos religiosismos.
Atrás do irmão rastejante estava um vulto envolvido em grossos panos e coberto por um capacete muito esquisito; foi para ele que Rosa apontou, explicando:
— O irmão rastejante não sabe que está sendo socorrido, por isso clama por socorro; entretanto, guiado pelas projeções do trabalhador, lá vai na direção da casa que lhe compete. E, tome nota, alguém já recebeu o aviso, estando de prontidão, para o receber do melhor modo.
— Gostaria de ver isso de perto, para ir aprendendo – roguei.
— Então, vamos para lá! – anuiu Rosa, satisfeita.
E assim que iniciamos a marcha, acentuou:
— É muito bom que você tenha vontades felizes; isso nos auxiliará a ministrar ensinos, compreende?
E fomos seguindo de perto o homem que rastejava, desejando ardentemente que chegasse o mais depressa à casa na direção da qual estava indo. Tendo em mim as marcas de duríssimas tormentas, parecia que me sentia nele, tendo nisso uma das grandes razões para lhe desejar o melhor possível.
A caminhada foi um tanto demorada e dolorosa, cheia de exclamações da parte do homem rastejante; ele parecia estar fugindo de alguém, pois olhava de quando em quando para trás, arremetendo após com impetuoso impulso para a frente. Notando isso, perguntei a Rosa, tendo ela respondido:
— Em tais estados, lembre-se, a criatura pode estar vendo coisas criadas pela sua mentalização. Não vê o que há, mas aquilo que criou pela ideoplastia. Note que ele não vê o trabalhador nem a nós tampouco, enquanto vê ou julga ver perseguidores ou fantasmas, etc.
A certa distância da casa objetivada, o trabalhador parou, fitando-o com o máximo de atenção, depois de tirar o capacete. E Rosa convidou-me:
— Vamos ter uma prosa com o irmão trabalhador, enquanto o outro chega perto da casa e alguém lhe vem ao encontro.
Estivemos conversando uns minutos, diremos, com o trabalhador, e ele nos disse ser aquele um dia fraco de trabalho; poucos vinham do abismo, poucos estavam atingindo as fronteiras de luz e de socorro.
Era um homem alto o trabalhador, enorme mesmo, de fala grossa e potente, um trovão me parecia; seu semblante refletia a dureza de seu olhar, uma dose de energia bastante grande. Diria que era alguém treinado para mandar mentalmente, e que assim fora treinado, pelo simples fato de ser isso nele natural. Estava talhado para a coisa, funcionava no terreno certo.
Após a breve conversa, disse ter mais duas horas, ou medidas de tempo a tirar antes de ser substituído. E lá se foi, bruma adentro, à cata de trabalho, para dele tirar os proveitos normais progressivos. Quando meteu o capacete na cabeça enorme, reparei que tinha na frente um pedaço de metal ou uma pedra polida, sendo dali que devia sair o tal jato de luz ou força. Tendo perguntado a Rosa, sobre a questão, respondeu-me:
— Não sou forte nisso, mas pode estar certa de que o pensamento do trabalhador é a chave do êxito... Tenho observado, Leonor, que tudo por aqui depende do pensamento que emitimos. Existem elementos e aparelhos, mas é necessário pensar certo e forte, para conseguir o desejado. E sabemos que, quanto mais para os altos planos, tanto mais a mente dirige tudo.
Estávamos andando na direção do irmão rastejador, que se avizinhava da casa que lhe competia, a fim de receber os primeiros socorros, quando Rosa apontou:
— Veja lá adiante, à esquerda, o que acontece.
Divisei um enormíssimo chimpanzé, ladeado por alguns trabalhadores, cujos jatos eram endereçados ao monstro.
— Observe como procuram controlá-lo... Pense também, quanto trabalho dá aos socorristas... E considere que atrás de tudo estão a Lei de Equilíbrio e a Máquina
Judiciária, agindo em conjunto, para que tudo atinja seus objetivos.
— Perfeita organização! – exclamei.
— Muito bem, perfeita organização. E, resumindo, tudo para indicar a todos os filhos de Deus o sentido Moral da Vida, sem o qual não se atinge o Amor. Se alguém quisesse dar explicações ao porquê de tudo, teria que reduzir tudo a três fatores – Origem
Divina, Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade.
Dois homens saíram da casa, assim que o irmão rastejante dela se avizinhou, equipados de uma padiola verde, bem verde, parecendo de madeira pintada. Trataram de colocar o pobre irmão sobre ela, sem falar, embora ele, todo desajeitado, continuasse a pedir socorro.
Entramos na casa e Rosa nos apresentou, e a duas irmãs também; e pude observar as roupas do homem, esfareladas e lamacentas, mas onde se via que era uma sotaina. E clamava socorro contra os demônios que o perseguiam.
— Olhe bem para ele! – ordenou Rosa, com muito vigor.
Estremeci, porque era o padre Marcial que tinha os olhos saltados, revelando estar em grande perturbação. Direi que era o retrato do pavor, apenas isso. Mas o meu susto logo passou, porque Rosa sentenciou:
— Leonor, nós temos a Grande Via dentro de nós mesmos; ela vai para baixo e para cima, sendo que cada um se movimenta pelas suas obras, nada mais. Quem se estabelece na Consciência da Verdade, encara tudo com inteira prudência, porque sabe que em
Deus não há erro. Apenas, observe bem, agirá sempre na certeza de que não existem mistérios nem milagres, porque tudo é regido por leis e elementos.
Assim observada, ponderei:
— Outra vez, Rosa, vem à tona a questão religiosa...
Ela me tolheu a fala, afirmando:
— É uma questão de Verdade e não de religião, minha querida irmã; é para a frente e para o alto o sentido da vida, não é para baixo e para trás. Vamos encarar a questão pelo prisma do Cristo, que dentro de alguns tempos começará a ser realmente conhecido e imitado; vamos deixar as superstições e as idolatrias para trás, que outros tempos estão sendo avisados pelos nossos instrutores...
Agora foi minha vez de interrompê-la:
— Que tempos, Rosa?
Com acentuada penetração nas coisas do porvir, esclareceu:
— Estamos sendo avisados de acontecimentos futuros grandiosos... Nossos irmãos de pouco mais alto, quando nos visitam, dizem de acontecimentos futuros maravilhosos, pois falam na restauração da Doutrina deixada pelo Cristo... Dizem que vultos de escol estão encarnando, seguidamente, para este fim. E também salientam, que estando nós mais perto da crosta, muito iremos ter o que fazer, porque outros departamentos irão sendo instalados, quando for hora, para o desempenho de funções que ainda não conhecemos. E os nossos chefes, talvez mais avisados, vivem demonstrando umas alvíssaras indefiníveis, parece que prevendo uma renovação do mundo, a volta do
Cristo ou de alguém que fale por Ele.
Neste ponto estacou, olhou-me bem e balbuciou:
— Bem, minha irmã, isto me parece ser o que dizem... Eu também gostaria que isso acontecesse... Afinal de contas, Jesus não pode ter sido o que dizem os religiosos, os donos de religiões, essa droga que anda envenenando as gentes, remetendo essa pobre gente aos infernos, de onde se sai desse jeito...
Cismou, colocou as duas mãos sobre o peito e completou:
— Ora! Ora! De onde viemos todos nós... Com quem aprendemos a errar? Em virtude de que crimes praticados passamos dezenas de anos nos abismos? E que fazemos, militando nestes lugares inferiores, senão curtir o atraso que os falsários religiosos nos impingiram?
Enquanto Rosa terminava o seu veemente protesto contra as patifarias que andaram e andam passando por religião na Terra, o homem dementado dava entrada em uma sala ampla, bem arejada, profusamente enfeitada com folhagens e flores, conduzido, é claro, pelos padioleiros.
— Que belo o enfeite desta sala! – exclamei – Quantas flores!
Rosa explicou-me, solícita:
— Aqui não valem como enfeites e sim como terapêutica... Preste atenção no que vai pelo chão.
Vi que a padiola fora colocada sobre uma corredeira de madeira, toda gradeada: parecia uma mesa toda furada e muito longa, porém baixinha, de uns vinte e cinco centímetros de altura, no máximo. E foi ali que ataram, com padiola e tudo o mais, o pobre irmão.
Eu ia perguntar, mas Rosa fez sinal de silêncio, assinalando também que procurasse ver tudo com muita atenção. O ato seguinte foi a retirada de um estrado que fazia a vez de assoalho, aparecendo uma canaleta de um metro e pouco de largura, por onde a seguir começou a correr uma água muito limpa.
Depois vieram mais quatro irmãos, que davam a impressão de sadios lutadores, dado que ostentavam possante envergadura física. Colocaram-se todos ao lado do irmão dementado, como que aguardando ordens. E foi o que aconteceu, porque a mais autorizada irmã, a seguir, comandou:
— Vamos todos estender as mãos na direção do irmão, porém vamos dividir as forças, metade para cada lado.
Rosa me aconselhou:
— Faça como os outros, apenas, que tudo sairá bem.
Ora, foi o que fiz, estendendo as duas mãos na direção de padre Marcial, que foi como os outros fizeram.
— Roguemos ao Senhor – ordenou a irmã – em benefício deste irmão; que se faça a Sua
Divina Vontade!
Dentro em pouco as coisas se foram mudando, porque uma neblina densa, porém de aromatizada intensidade se formou, envolvendo a todos, mas de preferência ao irmão Marcial. E reparei que tudo vinha de cima, caindo sobre ele, ou passando por ele, caindo após na canaleta, mas agora com feias cores, um visgo repugnante, que não cheirava nada bem.
E aquela batalha durou um bom tempo. Digo batalha porque, estando o pobre irmão agora a queixar-se muito, dele emanavam nuvens negras, que pareciam lutar contra a densa e cheirosa neblina, que vinha de cima, empurrando tudo para dentro da canaleta.
— Mais perto! – comandou a irmã.
E nos achegamos, ficando com as palmas das mãos sobre o padre Marcial, que parecia cair em prostração. Nossas mãos estavam a uns trinta centímetros de altura, tendo eu visto perfeitamente que delas saíam uns raios de luz, não sendo porém iguais, de pessoa para pessoa e de dedo para dedo.
— Mais baixo! – tornou a irmã.
E puseram as mãos sobre ele, que agora dormia. Entretanto a neblina caía com liberdade agora, sem encontrar oposição em nuvens negras. Também o visgo se foi diminuindo, começando a correr, dentro em pouco, água limpa pela canaleta.
— Terminado! – determinou a irmã.
Uma vez livres, Rosa perguntou-me:
— Gostou de auxiliar?
— Gostei; mas ele ficará dormindo?
Rosa indicou o movimento e disse:
— Olhe e entenda; porque ele será levado para a sala ao lado, onde deverá ficar, até que acorde normalmente.
De fato, estavam-no desatando. E onde o colocaram, uma mesa pintada de verde, com abas levantadas, foi também coberta de folhagens e flores, ficando padre Marcial completamente coberto, mergulhado em flores e folhas.
— Daí sairá liberto? – perguntei.
— Complexa pergunta! – exclamou Rosa, abrindo muito os olhos.
— Por quê?
Ela pensou um pouco, para depois responder:
— Primeiro, que ele talvez fique sujeito a muitas aplicações como estas; segundo, que a cura do corpo astral não significa redenção de faltas; terceiro, que a verdadeira libertação só se atinge pela cristificação.
— Creio que entendi... – tentei explicar.
Rosa adiantou-se:
— Bem, você irá entendendo aos poucos; mas faço questão de salientar que o problema da libertação total só se consegue pela vitória sobre a lei das reencarnações obrigatórias. Só depois de atingir o Grau Crístico, entendeu?
— Quer dizer que agora ele terá que sarar do corpo astral, nada mais?
— Embora sarando por fora, ficará com as marcas registradas por dentro; o corpo astral é todo escamado ou fibroso, e as registrações ali ficarão, para serem desfeitas no curso das provas e expiações. Quem cria é que deve modificar, ninguém podendo fazer por ele a modificação. A Lei de Harmonia é Perfeita e a Justiça Divina é simples. Não entende quem não quer.
— Quando terá, ou teremos, que fazer as modificações?
— Resumindo, Leonor, o nosso corpo astral terá que vir a ser Luz Divina, ou como o é o chamado Segundo Estado de Deus; eis como já são os espíritos cristificados, eis como seremos todos, porque os desígnios de Deus não falham. Pouco importa perguntar onde, como ou quando, porque da Lei de Deus ninguém escapará. Se quiser saber das ferramentas a usar, digo que são duas, porque elas contêm todas as demais – Amor e Sabedoria!
Ali findou a prosa, porque Rosa tinha outros compromissos em vista. Despedimo-nos de todos, que se mostraram gentis em extremo, fazendo questão de oferecer os seus respectivos préstimos.
terça-feira, 6 de maio de 2008
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