segunda-feira, 19 de maio de 2008

CAPÍTULO 18 - O CRISTO É PERMANENTE

“Cristo é Grau, não é nome, e, portanto, um espírito cristificado o representa diante de uma humanidade em evolução. Sendo Grau de Unidade com o Pai, é naturalmente VERBO DIVINO, ou representante de Deus.”
“Se os mistifórios clérico-políticos não tivessem alterado as lições do Cristo, todos já teriam conhecimento delas, e do que o Cristo é, e representa, ou a síntese das verdades fundamentais.”

Um Cristo será sempre rigoroso e causticante em suas palavras, mas os Seus exemplos serão sempre amorosos e cheios de renúncia. Aqueles, porém, que se tornam adeptos do anticristo, em suas palavras querem parecer bons, tolerantes e vítimas de certo modo, mas as suas obras revelam covardia, falsidade e traição, sendo comum apelarem para atos violentos ou repugnantes.
Todos os movimentos renovadores, principalmente os de ordem Moral, sempre viram surgir, em seus meios e no meio de seus elementos, essa coisa feia, essa mancha. Uns por excesso de zelo, outros por excesso de vaidade, mas o fato é que nenhum movimento, até o presente, deixou de ter contas a ajustar com esse doloroso fato.
Alguns apelam para os anos passados em estudos ditos doutrinários, sejam estes ou aqueles os sectarismos; outros querem valorizar os seus cabelos brancos; ainda outros pretendem dar boa representação ao reumatismo que ostentam, achando que ele é testemunho de sabedoria; e não faltam os portadores de outras marcas de perebas, que com elas fazem questão de marcar ponto no relógio dos estatutos e das instituições.
Caifás, Anás, o Sinédrio, os fariseus, os saduceus e os escribas, todos falaram de cadeira, todos tinham uma tradição, não permitindo que Jesus Cristo pudesse falar em nome da Moral, do Amor, da Revelação, da Sabedoria e da Virtude. É que Jesus era jovem, não tinha rugas, reumatismos, calvície, perebas e outros argumentos da mesma marca. Em conseqüência, o ranço e a ferrugem puderam mais do que a Verdade e a Virtude!
Considerando que isto poderá acontecer e muito, ainda, no Planeta, bom será que se evitem ortodoxias, dogmatismos, fanatismos sectários, etc.
O essencial, para não cairmos em tais faltas, seria não termos jamais ignorâncias a encobrir nem interesses subalternos a defender; mas, quando iremos planar nessas alturas?
Observemos, portanto, que o maior risco é ou será, sempre, daqueles que se acreditam proprietários da Moral e do Amor, da Verdade e da Virtude. Tudo isso em termos teóricos, porque os praticantes, os vivedores dessas virtudes, jamais cairiam em semelhantes emboscadas, em tais leviandades.
Foi um caso, fica bem saliente, enfrentado por nós, que motivou este capítulo. Sempre, portanto, aprendendo com as grandes lições da vida prática! Sempre focalizando a Lei de Equilíbrio, através dos vincos profundos deixados naqueles que contra ela atuaram, por culpa de seus fanatismos sectários, ou de seus orgulhos feridos, ou dos clamores de seus mais imediatos interesses mundanos.
Estávamos em nosso reino, reunidos em torno de uma irmã; brilhava o sol da Verdade Central, de Deus, que nos ilumina e aquece, sustenta e estimula; e ela, recém-chegada dos abismos, em processo de tratamento, fora colocada ao lado de belo jardim, florido e perfumado. Nosso instrutor falava e ela ouvia, coisas sobre Jesus Cristo, que ele sempre filtrou como Verdade e Virtude. Porque ela vinha de uma vida desregrada, isto é, sem Verdade e sem Virtude.
Estando entre flores e águas, servidores do Bem e conversas edificantes, não há quem não sinta surgir de dentro aquela cura que não pode vir de fora; e como uns aprendem com outros, ali éramos ouvidos abertos, armazenando conhecimentos, quando vimos chegarem, acompanhados do diretor dos hospitais da região, dois vultos maravilhosos, simplesmente estuantes de espiritualidade, que vinham ao nosso encontro.
Eram irmãos de alta hierarquia, habitantes de reinos superiores, diminuídos em si mesmos, cumprindo alguma delegação, isso bem se descobria; e foi como nos falou o diretor dos hospitais da região, apresentando-os:
— Tancredo, venho apresentar estes funcionários da Mensageiria Superior, em virtude de trabalho a ser feito. Alguém deve desencarnar, dentro de dias, e é quando eles deverão estar presentes. O mais tudo, eles mesmos farão, porque são os encarregados da missão que lhes cumpre levar a termo.
Disse os nomes, mas isso não importa porque não saberia como traduzi-los e porque a essência da coisa é que nos faz estar escrevendo. Se não fossem eles, é certo que seriam outros, porque a Lei e a Justiça pairam acima de indivíduos. O que é por Deus, alguém terá que fazer, sem dúvida alguma!
E tudo ficou combinado, quando o mais categorizado deles, explicou:
— Um irmão, de nome Plácido, deverá ser retirado da carne dentro de uma semana. Desejamos que nos avisem, quando chegar a hora; e a hora será, lembrem-se, quando o irmão doutor Bezerra de Menezes for atender como clínico ao chamado de uma nossa irmã, que é a progenitora de Plácido.
Disse como proceder, enviando a ele a mensagem mental, retirando-se após. E nós ficamos meditando e comentando, quem seria o irmão Plácido, para ser assim recebido. Para nós, conforme os usos, devia ser alguém de bastantes merecimentos, pois os dois elevados irmãos agiam também segundo ordens superiores. Portanto, para todos os efeitos, seria muito interessante o trabalho a ser feito; porque o aprendizado vem sempre através dos fatos comuns da vida.
E uma semana depois, entrando por um cortiço adentro o doutor Bezerra, fomos topar com o nosso irmão Plácido; atirado no fundo de um quarto escuro, mais miserável do que pobre, estava um homem de meia idade, todo retorcido, aleijado, tendo ainda a mão esquerda ressecada, mais parecendo um galho seco de árvore.
A pobre mãe, ou riquíssima, talvez, assim implorou:
— Doutor, trate de meu filho!... É assim, porém eu só tenho esse... Sei o que tem feito e peço a sua ajuda....
Bezerra deu tudo, receita e dinheiro, dando também uma fervorosa oração; e o mundo deste lado, que o acompanhava sempre, deu o que devia e podia dar.
Tancredo fez como recomendou o tal Mensageiro Superior, e ele, dentro de segundos, estava presente, dizendo:
— Hoje à noite, terá que deixar o corpo... E vamos, por ora, formar um círculo, dando-nos as mãos. Vamos rogar a Jesus, o Divino Medianeiro, por este irmão altamente comprometido perante a Justiça Divina.
Assim foi feito. Fazer um círculo e dar as mãos, entrando em oração, produz maravilhas. E quando já em oração, disse o Mensageiro Superior:
— Olhem bem para ele e observem o que vai ocorrer.
Nós já tínhamos visto um monstro agarrado ao pobre irmão, tão agarrado que pareciam dois em um; tínhamos visto quatro bondosos pretos velhos, sorridentes e felizes, que lhe montavam guarda, cumprindo ordens superiores. E dali em diante, observando bem, fomos notando que um vapor subia do chão, envolvendo o homem e todos nós. Pouco depois, o vapor deixou de ser denso, tornando-se luminoso, cada vez mais luminoso.
Quando a luminosidade atingiu certo ponto, apareceu uma paisagem, que bem vimos ser a velha Jerusalém. Tudo como naqueles dias, quando Jesus palmilhou aqueles caminhos, para viver a Lei, Batizar em Revelação e testemunhar a Ressurreição Final do Espírito.
Tudo era simples, claro, normal, exato. Jesus estava vestido como os Nazireus, com a Sua túnica branco-opalina e coberto com o manto carmesim. Era jovem, esbelto, imensamente espiritual, ligeiro, pensativo e algo triste. Por todas as partes muita gente a cercá-Lo, pedindo curas, sorte, o Céu, etc.
E do meio do povo saía, repetidas vezes, um sacerdote magricela, barbudinho, encaveirado, de olhos faiscantes, que atirava contra Jesus ofensas, ora como perguntas, ora como afirmativas severas, lembrando os preceitos, etc. E Jesus calava e trabalhava, ou respondia algumas vezes, sempre rodeado pelos Seus discípulos, sempre muito amparado por algumas mulheres contritas, fervorosas e piedosas.
Vimos depois, dentro de vasto e muito ornamentado salão, Jesus sentado sobre um tamborete, estando alguns sacerdotes e outras pessoas, do outro lado, à Sua frente, fazendo perguntas as mais contraditórias. Dentre eles se destacava o sumo sacerdote com um pergaminho na mão direita, que lia e argumentava contra Jesus. Porém, o sacerdote magricela e encaveirado pedia licença e dizia tremendas coisas contra Jesus, chamando-O feiticeiro e discípulo de Belzebu.
E o cenário mudou, num repente, aparecendo o Monte das Caveiras com as três cruzes levantadas.
Também isso logo mais desapareceu, voltando tudo ao quarto miserável, com o sacerdote magricela, agora na personalidade daquele pobre aleijado. E o Mensageiro Superior explicou, em breves palavras:
— Estamos na presença de um dos grandes algozes de Jesus... Porém, não vem diretamente de lá esta situação. Porque outros já se recuperaram, estando em boas condições, servindo a Causa da Verdade e da Virtude, absolutamente à margem dos religiosismos perniciosos. Este pobre irmão, entretanto, tem errado muito, tem recaído em faltas, tendo agora sido obrigado a renascer assim, para ser obrigado a resgatar um pouco de suas imensas culpas.
E voltando-se a Tancredo, recomendou-lhe:
— Assim que for desligado, ao entrar no hospital, desejo ser avisado; é só fazer como fez agora, e depressa virei, para tomar as providências necessárias. Como sei que gostam de aprender, digo que o movimento restaurador grassa no mundo, havendo grandes oportunidades para muitos errados de outros tempos. E este nosso irmão vem de receber de Jesus uma oportunidade de trabalho; porque, como deveis saber, perdão não existe, mas existe o trabalho que ressarce e constrói o Reino de Deus dentro de nós mesmos. Ele voltará à carne em breve, com boas faculdades, com boas ferramentas e, no trabalho mediúnico, servindo aos outros com o devido carinho, estará conseguindo servir a si mesmo.
Pouco depois da saída de Bezerra de Menezes, também nós saímos, ficando tudo bem combinado para a retirada do pobre irmão, logo à noitinha. E como tudo gira em torno de leis e sobre leis, tudo foi encaminhado devidamente. Quanto ao fundo moral da questão, que cuidem bem de si mesmos, antes de mais nada, aqueles que se escravizam a estatutos e a instituições humanas. A Moral e o Amor, a Verdade e a Virtude, não são realidades que possam caber em conchavismos de homens. Títulos dados por homens, reumatismos e perebas não significam espiritualidade!

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