segunda-feira, 19 de maio de 2008

CAPÍTULO 15 - BEZERRA FORÇA O MUNDO ESPIRITUAL

“Nunca deixará, o esforço humano, de influir sobre os planos espirituais; porém, assim como pode forçar os superiores, também o faz para com os inferiores. Importa, pois, saber usar as leis de Deus, ou que Deus nos colocou ao alcance da vontade.”
“Se Jesus tinha os anjos subindo e descendo sobre Ele, é porque todos os filhos de Deus podem tê-los. Basta merecer.”

A nossa região teve que aumentar o número de organizações socorristas e de trabalhadores, com o avançamento do trabalho de Bezerra de Menezes. Onde quer que estivesse, o bondoso médico ia distribuindo benefícios e endereçando almas ao Regaço do Pai Divino, através da Divina Modelagem de Jesus Cristo.
Antes eram os caminhos, aqueles caminhos que saíam dos abismos, que mais davam trabalho aos nossos hospitais; mas depois começaram a ser os trabalhos de Bezerra, porque o seu trabalho estava articulado com ordens muito superiores, em virtude daquilo que bem mais tarde deveria dar-se, como de fato se está dando, e com imensos crescimentos de minuto a minuto.
As escolas ou centros de doutrinação, segundo o Cristianismo do Cristo e não segundo as balelas romanas, também tiveram aumentadas as suas funções, porque o Consolador generalizado pelo Divino Mestre e corrompido pela Roma pagã, havendo sido reposto no lugar, teve necessidade de aumentar seus quadros de serviços e de servidores.
Os centros espíritas foram aumentando, e aumentando foram os nossos trabalhos de variada ordem. Quando digo de variada ordem, não pretendo que os encarnados tenham noção exata daquilo que estou falando; porque os nossos trabalhos de recolhimento e de tratamento, de orientação e de preparação de novas reencarnações, excedem de muito aos seus poderes de entendimento. Podem saber que fazemos de tudo isso, mas não podem conceber as extensões de nossos trabalhos, quando penetramos os matizes de nossas atividades.
Uma das medidas é o entrosamento de serviços, entre as regiões inferiores e as regiões imediatamente superiores. E como tudo isso ocorre por meio de organizações e de atividades individuais, de centros de serviço e de interferências pessoais, tendo no centro de tudo a Lei de Equilíbrio, devem compreender o quanto este vastíssimo mecanismo atinge de amplidão, dando serviço a legiões de servidores. E por isso mesmo, quantas especialidades se fazem mister, por meio de criaturas dotadas dos mais variantes graus de sabedoria e de tendências.
Se todos pudessem, durante a romagem carnal, compreender a importância das amizades, das simpatias, como conseqüentes de efeitos a serem produzidos nestes reinos mais tarde, ou no após desenlace, todos procurariam compreender o motivo de Jesus ter calcado toda a futura felicidade nos atos de fraternidade, nas felizes ações praticadas entre irmãos, durante a vida carnal.
Se é certo que ninguém deveria praticar o Bem com olhos fitos nas recompensas futuras, porque isso implica em certa forma de egoísmo, também é certo que uma nobre ação, uma simples palavra bonita aplicada na hora certa, tudo quanto seja realmente edificante ficará registrado no indivíduo, para efeito de contagem no após desencarne. E assim, é claro, tudo quanto for contrário ao Bem!
Muitos ainda pensam que Deus manda seus anjos registrarem nos livros do Céu, ato por ato dos Seus filhos encarnados; e se é real que todos temos uma folha corrida nos reinos administrativos, o mais justo, o mais respeitável, o mais necessário de reconhecimento é saber que tudo fica em nós mesmos registrado. E disso os exames psicométricos dão cabal evidência!
O caso seguinte é um dos muitos em que alguém, de plano ou reino superior ao nosso, interveio em favor de outro alguém que se achava em perturbação depois do desencarne. Não é um caso como o do irmão Pureza de Jesus, que foi por apelo feito por um encarnado; este derivou de uma ordem superior, vinda pelos canais administrativos.
Qual o histórico?
Todos os históricos se parecem, pouco ou muito, não é verdade? E por isso este caso teve por centro de gravidade duas irmãs, duas filhas de Deus, cada uma estribada nas suas convicções e tendências em geral. Como ninguém vive isolado totalmente, porque todos estamos mergulhados na caudal humana, também Angélica e Clarinda se encontram no curso da vida, criando uma situação, construindo uma conseqüência para o futuro.
Quem fora Angélica?
Angélica fora freira, superior de uma escola de meninas; porém, tão fanaticamente católica ou clerical, que os deveres cristãos mais elementares ficaram para longe de suas cogitações, muito para longe. Se muitos clérigos atingem os planos ou reinos de Luz e de Glória, embora muito relativos, pelo fato de praticarem o Bem, independente de serem clérigos, outros há que descem aos abismos da subcrosta pelo fato de se tornarem simplesmente clérigos, produzindo muitos males e nenhum Bem.
Porque a Deus importa o Bem a fazer e realmente feito, o Amor posto em prática, sem importar a cor sectária do indivíduo, a roupa que vestia ou se gostava de macarrão ou de farinha de milho... Lembre-se de que as parábolas do Cristo estão cheias de muita moralidade, pelo fato de colocarem o Bem acima de qualquer cogitação religiosista. Para o cristão, a Bondade é a única maneira de desabrochar o Cristo Interno, porque é a Bondade quem dinamiza o Amor!
Angélica fez absoluta questão de ser clériga, achando que somente assim poderia servir a Deus; e quando pilhava alguém em menos condição de respeito ao seu clericalismo fanático, punia, impunha castigo rigoroso, odiava de corpo e alma, fazendo reaparecer a grande servidora inquisitorial que fora vidas atrás. Tinha que descer para lugares terríveis, porque a lei do peso específico é por Deus e não pelos homens!
Quem fora Clarinda?
Esta pobre mãe, quase analfabeta, começou a questão no fato de Angélica ter-lhe castigado severamente uma filha, além de, após, expulsá-la. Entre ambas surgiu diferença de ânimo, porém Clarinda não tinha em si a mania dos ódios sectários, a pretensão absurda de achar que religiosismos estes ou aqueles representassem bem ou mal a algum filho de Deus. Para ela, a questão estava cingida ao cumprimento dos deveres e ao fazer todo o Bem possível.
Quando alguém fundou em sua cidade natal um abrigo, procurando servir a todo e qualquer filho de Deus, ela se ofereceu para lavar roupas, cobrando bem menos do que a importância devida, com o fito de fazer alguma coisa pelos órfãos. Em muitas ocasiões, organizava listas e pedia esmolas, também para auxiliar os mesmos órfãos. E assim foi atravessando a sua jornada terrena, sem saber ler bem o Evangelho da forma, porém sabendo escrever muito bem o seu caderno de merecimentos.
A freira desencarnou muito antes; foi o seu falecimento cantado e lastimado, tendo um enterro concorridíssimo; mas, como a Lei de Equilíbrio funcionou integralmente à margem dos conceitos e dos preconceitos humanos, ela desceu a lugar bem desagradável.
Clarinda desencarnou bastantes anos depois, e, como já vinha de uma longa e bela escalada sentimental, sua morte fora a de uma pobre mãe envelhecida, porém chorada por muitíssimos corações agradecidos. A casa era pobríssima, porém os irmãos de reinos superiores ali estavam, para recebê-la carinhosamente.
E mais tarde, uns trinta e tantos anos depois de sua passagem, Clarinda fora designada a receber Angélica, assim que fosse retirada do terrível lugar em que estivera, penando em parte por seus feitos muito religiosos!... Em parte, sem dúvida, porque bem depressa reencarnou, ela que não podia ouvir falar nessa lei do Emanador, sem sentir os bofes a lhe saírem pela boca; e reencarnou, estando ainda na carne com uma tremenda corcunda nas costas, além de viver de esmolas, que em nome de Deus as pede.
Como se deu a chegada de Angélica?
Deu-se, como tantos outros, subindo a rampa trevosa, para atingir, rastejante, uma casa de socorro. Ali foi recolhida, vestida e alimentada com sucos, para depois ser enviada a um dos nossos hospitais, onde ficou em tratamentos por algum tempo, visto como seu corpo astral era muito denso, muito pesado, não podendo ceder depressa aos impactos curativos.
Quando estava em condições de passear pelos nossos floridos bosques, que não são lá muito diferentes dos da crosta, mas já refletem as graças de Deus de modo absorvente, calhou de dar-se o seu reencontro com Clarinda.
Sentada sobre uma pedra, ali colocada propositalmente para servir de pousada aos convalescentes, viu ela aparecer, subindo a ladeira florida, uma figura feminina de tal modo brilhante que se atirou por terra, a nossa macia e cheirosa terra, clamando pela Virgem Maria!
Clarinda chegou-se, levantou-lhe a fronte e falou-lhe:
— Irmã Angélica, eu estou muito longe da sublimidade da Virgem Mãe!
Angélica fez muito esforço para fitá-la, porque Clarinda se manteve brilhando intensamente, de acordo com a ordem recebida. Ela poderia recolher ou controlar o seu brilho, mas a ordem fora cumprida, porque o seu brilho teria de significar um bom ensino doutrinário. E quando Angélica viu quem era, depois de Clarinda ir diminuindo lentamente o seu brilho, sem perder a majestosidade dos espíritos que são simplesmente bons e humildes, cobriu o rosto com as mãos, caindo em pranto, gemendo palavras de arrependimento.
Clarinda sentou-se no chão, afagou-lhe a cabeça, beijou-a com maternal ternura, fê-la sentir-se à vontade.
Quando tudo estava em paz e alegria, Clarinda falou-lhe:
— Minha irmã Angélica, vim por ordem superior; vim dizer que o Nosso Pai é, em todos os sentidos, Eterno, Perfeito e Imutável; que é Onisciente, Onipotente e Onipresente; que não estima filho algum por causa de religiosismos ou sectarismos; que deseja a todos de uma só maneira, porque sujeita, através de leis fundamentais, à Verdade e à Virtude.
Angélica bramiu, pesarosa:
— Tenho sofrido muito!... Muito!... Peço que me ajude!...
Clarinda explicou-lhe:
— Nada podemos fazer fora da Lei, irmã Angélica. E não se respeita a Lei apenas clamando “Senhor! Senhor!” Você irá ler uns livros que temos, para, através deles, aprender o seguinte: – fora da Moral e do Amor ninguém realiza em si o Reino de Deus, a Luz e a Glória. Se fosse o Reino de Deus uma questão de religiosidade, Jesus, que foi expulso do templo, perseguido e assassinado pelos donos de religião, teria ido parar nas trevas, não é assim?
Angélica pensou como pôde, perguntando:
— Mas os assassinos de Jesus foram os padres israelitas, não foram?!
Clarinda, abanando a cabeça formosa e ainda bastante luminosa, respondeu:
— Sempre acham um motivo, num Profeta, para perseguirem e matarem a outros e outros Profetas; a Lei de Deus opina por alguma religião? Por que, então, dar ouvidos às religiões, aos sectarismos, esquecendo de viver a Lei, que foi o que Jesus fez, porque a Lei é Moral, Amor, Revelação, Sabedoria e Virtude?
Aquele colóquio era um encanto, porque as duas falavam como se fossem duas almas gêmeas; é que Clarinda envolvia Angélica no seu manto de luz azulina tão pura, que esta sentia-se à vontade, vivendo numa atmosfera de Amor, tal e qual jamais poderia ter sonhado na vida.
Em dado momento, Angélica murmurou:
— Você tem estudado muito?
— Não, Angélica, eu leio pouco e trabalho muito... Sou uma espécie de Diretora Geral das escolas de crianças de algumas regiões, tendo que estar em perene contato com centenas de mestres e milhares de milhares de alunos. Porém, se me pode compreender, meu trabalho é mais vibratório do que intelectual ou físico, embora considerando a nossa condição física. Quem lida com crianças, deve procurar compreender, deve pôr em tudo mais coração do que mesmo intelecto.
— Locomove-se como quer, não é assim, irmã Clarinda? Basta pensar para estar onde bem quiser. Eu ainda nada disso faço... Ainda ando rente ao solo...
Clarinda sorriu, o seu carinhoso sorriso, tentando explicar:
— Consigo um pouco mais... Tenho aprendido a amar mais do que a pensar; o Nosso Pai concedeu valer-me da lei da Divina Ubiqüidade; você não sabe o que é, mas eu digo que posso estar aqui, sabendo o que há muito além daquelas distantes montanhas, podendo mesmo influir sobre quem achar conveniente. Posso, também, enviar o meu duplo mental a muitos lugares, sem sair de um lugar. E se você não estranhar, digo que posso, através dessa lei ou desse recurso, apresentar-me em muitos lugares ao mesmo tempo, esparzindo radiações ou benefícios vibratórios.
— É maravilhoso! – exclamou Angélica, passando a mão no vestuário de Clarinda, que parecia feito de luzes azulinas transformadas em sedas, mesmo tendo ela reduzido de muito a sua grandeza espiritual.
Clarinda levantou-se, depois de avisar que precisava retirar-se, prometendo à Angélica que a visitaria em breve, quando fosse hora de retornar à carne; e foi como aconteceu, tempos depois. Angélica não poderia saber, mas nós sabemos que a grande servidora do Amor a beneficia, transmitindo-lhe pensamentos de prudência e de resignação, de tolerância e de perdão, pois ela tem no programa ser atingida pela chacota de muitos irmãos menos compenetrados da Grande Lei de Harmonia.
Devo dizer que também nos beneficiamos com essas visitas superiores, pois os agentes superiores são reais manifestações do Senhor. Todos estamos nos endereçando aos planos de mais Luz e de mais Glória; todos temos que nos unir ao Divino Modelo, seguindo a trilha evolutiva; mas, enquanto isso, no caminho, vamos bebendo a água cristalina das fontes mais límpidas. Quem mais tem mais dá, sendo normal que os que têm menos, calhando a oportunidade, peçam e recebam um pouco. E como temos irmãos para baixo e para cima, assim como pedimos aos de mais alto, assim distribuímos aos de mais baixo.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog