Paz e Ventura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração ao Espírito Santo (Mensageiria Divina) . . . . . . . . . . . . . . . | |
Crística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a Jesus Cristo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a Maria Madalena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a Bezerra de Menezes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
A Oração pela Criança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração a André Luiz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração dos Pretos Velhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Oração das Crianças. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Obras de Osvaldo Polidoro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
“A Maria, a Senhora Eleita, a chefe das falanges que socorrem nas trevas, dedicamos a narrativa seguinte, agradecendo enternecidamente a sua graciosa cooperação na transmissão da mesma.”
M.E.B.
Estar em dia com as leituras sobre a Lei de Deus e o Evangelho não significa que se esteja em dia com aquelas obras que a Lei e o Evangelho concitam; porque é muito fácil conhecer, propalar, fazer berreiros aos semelhantes, mas não é fácil viver as lições e ordenanças que os dois excelsos documentos comportam. E é por isso que os abismos da subcrosta e os umbrais estão cheios de criaturas tituladas com as mais variantes colorações religiosas do Planeta.
A bem pensar, ou pensando simplesmente, qualquer um pode chegar à conclusão de que, realmente, a Justiça Divina jamais poderia estar conforme com os exteriorismos que as religiões fabricam e exportam a bom dinheiro, quando nisso ficam, pois com eles costumam, acima de tudo, manobrar governos e impor suas imperativas ditaduras, na certeza de que, pelo fato de serem fabricadas e impostas em nome de Deus, todos as aceitam, cabisbaixos, submissos, pagando ainda para assim se revelarem ignorantes e ridículos.
O único grande tribofe da História é, sem dúvida, o tribofe religioso, pois é aceito e pago, em nome de Deus, curvando-se as vítimas defronte aos tribofeiros, pelo fato de terem sido suficientemente ludibriados. Dir-se-ia alguém, bastante roubado, que viesse por fim a pedir uma ficha de estulto, para em apresentando-a, obter as palmas de uma assembléia de outros tantos infelizes.
Já disse alguém, de vosso plano de vida, que se a metade dos que berram em nome do Evangelho no mundo, vivesse a metade do que o Evangelho ensina, desde muitos séculos a Terra não seria mais um mundo de guerras, pestes e fomes. Infelizmente, os temas evangélicos são comumente transformados em cabides de vaidades e interesses subalternos, sendo muitas vezes usados para ocultar os mais hediondos crimes. Tudo serve de reposteiro, no mundo, para ocultar vergonhosas ações; e os motivos celestiais, embasados na Lei de Deus e no Divino Exemplo do Cristo, são os preferidos, pois com eles costumam obter, não apenas a justificativa dos erros, mas também as ridículas curvações das próprias vítimas.
Desde remotos dias, no início das Iniciações Fundamentais, e por infeliz acréscimo, depois da vinda do Cristo, grupos de homens, com manias clericais e desejosos de mandonismos a todo custo, deram de confundir entre a Verdade e os religiosismos. E de tal modo se aprofundaram no erro, e de tal modo apanharam sempre as gentes desprevenidas em matéria de conhecimentos da Verdade, que conseguiram burlar até mesmo a si próprios; porque muitos dos seus elementos, passaram a acreditar piamente nos engodos por eles mesmos fabricados.
Parece impossível que um filho de Deus, chegue a não confiar na Verdade, no Amor e na Virtude, em práticas sociais, para acreditar em todos quantos macaquismos ritualistas uma plêiade de agrupamentos clericais conseguiu organizar; mas a realidade é simplesmente essa, pois há muitos que, para cumprir uma oferenda mentirosa ou comprar uma indulgência altamente criminosa, passam por cima dos mais comezinhos deveres de Justiça e de Bondade. E é por isso que, todos os minutos e segundos, o plano carnal remete a estes lados, criaturas que ostentam carradas de escapulários e tranqueiras adquiridas a bom preço e curvações, estando apenas em condições de chafurdar por longos anos nas regiões de sombra e de dor, não só a pagar as lesivas liberdades pretendidas à custa de formalismos pagos, como também o fato de se tornarem propositalmente idólatras.
A Lei de Deus e o Cristo ensinam que a Libertação é filha das ações sociais corretas ou condizentes com eles mesmos, as duas testemunhas fiéis e verdadeiras de que trata o Apocalipse; ensinam a praticar o que é Verdadeiro, Bom e Belo; mas os lastros mistifóricos que a Humanidade consigo arrasta, fazem desprezar o que é justo e imperecível, para correr após aquilo que é caro, comprometedor e ridículo.
Eis a razão por que os abismos da subcrosta e as faixas umbrosas que circundam o Planeta, albergam bilhões de criaturas rotuladas com todos os matizes das mais estranhas policromias religiosistas. Não se duvida de que, se os rotulismos tivessem préstimos, até o próprio Deus, se fosse individual ou antropomórfico, já teria sido derrotado por certos campeões da farândola ritualista. Sucede porém, e com vigor de Eternidade, ser a Justiça Divina acima de ginásticas humanas, bem ou mal intencionadas.
Resta-nos pensar, todavia, quando a Humanidade terrestre irá aprender a lição do bom senso, para confiar na Verdade, no Amor e na Virtude, em obras sociais, em lugar de andar se esforçando para adquirir idolatrias, ou mesmo ouvir discursozinhos histéricos, sobre a Lei de Deus e o Divino Exemplo do Cristo, por parte daqueles que, fora disso, nada mais sabem fazer do que dar maus exemplos.
* * *
Cada centelha espiritual é um Cristo feito ou um Cristo em fazimento; se está feito, trilhou os milhões de anos de auto-elaboração e atingiu a Sagrada Finalidade; e se não está feito, quer dizer que resta fazer-se, tendo que elaborar o que ainda em si mesmo não elaborou. Em Deus tudo é Eterno, Perfeito e Imutável, e Seus Santos Desígnios não voltarão atrás. Faça, ou cuide o homem de seus deveres e direitos, que é tudo quanto lhe compete. Saiba, porém, que diante da Justiça Divina, jamais rótulos religiosistas formarão como elementos de outorga celestial, para garantir vantagens que em Espírito e Verdade não foram adquiridas. Pelo contrário, bilhões é que somam o número dos que vergam sob o peso de semelhantes e infernais enganosidades.
Resta aqui prestar homenagem ao Bem-Fazer, ao Amor posto em prática nos atos sociais; porque aqueles que tenham exercitado a Bondade, se perdem na certa com as idolatrias, ou com os escapulários comprados à guisa de absolvições, ganham na certa pelo Amor posto em prática. Tudo é questão de atingir o devido grau de compensação vibratória, de movimentar no bom sentido a lei do peso específico.
Dito isto, em linhas mestras tudo está dito; mas a História de uma galáxia, de um sistema planetário, de um povo ou de um espírito, é a História das movimentações coletivas, em leis, elementos e fatos indispensáveis. Não acredito que chegue alguém ao Grau Crístico, sabendo dizer tudo sobre todos os motivos de felicidade e de tristeza, que no seu caminho tenham aparecido, desde antes de ingressar nos reinos mineral, vegetal e animal, para no seio deste, ao ingressar na espécie hominal, terminar a sua longuíssima carreira. E como seria desprezível aquilo que fez vibrar, que forçou o despertar de uma consciência?
Para outros fins é importante saber o que vai pelas trilhas do espírito, antes de ingressar na espécie hominal; para nós, entretanto, é a questão Moral que nos importa, porque somos funcionários de um Departamento que trata dos compromissos Morais dos espíritos. Os respeitáveis fatores que dizem respeito aos automatismos e reflexos apenas instintivos, esses não são os nossos, pois a nossa tarefa é lidar com aqueles filhos de Deus, nossos irmãos, que já atingiram a escala da razão, dos jogos intelectivos, das elucubrações mentais; lidamos com aqueles que lidam no seio dos conceitos de Passado, Presente e Futuro, aí se preparando, portanto, para algum dia ingressar no de Eterno Presente.
* * *
Quando alguém encarna cumpre um desígnio natural, submete-se ao determinismo de uma lei simples, cujo fim é fazer atingir a Sagrada Finalidade; se o sujeito sabe ou não, dos porquês, isso em nada importa à lei. Algum dia ele o saberá, e mais do que isso, pois terá que vir a ser um administrador de alta hierarquia, antes de atingir o Grau Crístico. Todavia, é bom perguntar de onde vem, como vem e para o que vem, não de modo genérico, porém específico.
Quando alguém desencarna, também cumpre desígnio simples, porque sair da carne é medida que cumpre a quem encarnou; resta saber, porém, de onde veio e como e para o que fazer, e para onde e como irá, em virtude do que fez ou deixou de fazer.
Existem os abismos da subcrosta, com sessenta e oito subdivisões, tudo pertencente ao Segundo Céu, pois a crosta ainda está a ele sujeito. Portanto, pode o encarnado vir daí, de uma dessas subdivisões, depois de ser convenientemente preparado. Somam bilhões os habitantes desses lugares e são os que mais necessitam voltar às lides carnais, em termos de provas evolutivas e de expiações necessárias ao reequilíbrio Moral.
Pertencentes ao Terceiro Céu temos sessenta quilômetros de atmosfera terrestre, temos mil e duzentos quilômetros de faixas umbrosas e temos as primeiras zonas de sombra, que dão acesso gradativo aos primeiros rincões de acentuada celestialidade, porém lugares ainda próprios de organizações hospitalares e outros socorros.
Daí para cima ou para fora do Planeta, temos o Quarto Céu, que indo até às fronteiras do Quinto, vai entregando o espírito a elevados níveis vibratórios, até entregá-lo, um dia, ao chamado Oitavo Céu ou Céu Crístico, quando a lei das reencarnações obrigatórias cessa, só vindo a reencarnar em condições de toda liberdade.
Considere-se que mais reencarnam os mais necessitados, e observe-se que todos devem sair de algum lugar, em tais ou quais condições, para tomar um corpo, uma nova ferramenta. Assim mesmo, quem desencarna irá parar nalgum lugar, para baixo ou para cima, ou poderá ficar muito tempo na atmosfera terrestre, no duplo astral de tudo quanto a Terra tem, sabendo ou sem saber que é um desencarnado.
Tudo pode ser dividido em três partes:
a) A Origem Divina, a chamada saída de Deus ou da Essência Divina, ou do Ato de Manifestação da centelha, por parte de Deus, fato que excede ao que por ora a nossa objetividade pode alcançar, para discernir;
b) O Processo Evolutivo, a longa jornada através dos reinos, espécies e famílias, até atingir a espécie hominal, no seio da qual realizará a plena conscientização;
c) A Sagrada Finalidade, o Grau Crístico ou de Unidade Vibratória com a Divina Essência Onipresente, Onisciente e Onipotente, que tudo rege por leis Eternas, Perfeitas e Imutáveis.
Só isso, apenas isso, nada mais do que isso, embora isso, por ora, esteja acima de nosso poder de análise. Para definir isso, lembremos, teríamos que saber analisar totalmente o Emanador, a Emanação e todas as leis determinantes da marcha evolutiva dos espíritos, além de termos que analisar o Espaço e o Tempo, que para Deus são apenas como se não fossem, além de termos que analisar os infindos mundos, todos e cada um em particular, em tudo aquilo que importe em suas verdades intrínsecas, em realidades e valores que a ciência terrestre desconhece.
E ainda assim, quando soubéssemos aplicar toda a terminologia técnica ou científica, explicando assim todas as razões e valores de todos os infindos mundos, estaria o fator Moral, o Centro de Gravidade dos espíritos, a nos sujeitar ao seu desiderato final, pois a Ordem Moral é aquela que realmente importa, é aquela que significa a Balança da Harmonia, da qual ninguém jamais poderá se livrar, porque ela está presente sempre, no espírito, seja ele um Cristo, seja ele alguém que se arrasta nos abismos da subcrosta, purgando hediondos crimes. Se a Ordem Cósmica ou física é aquela que o Cosmo apresenta, como vedes, façam idéia do que seja a Ordem Anímica, a Ordem Moral, que do imo de cada centelha tudo vigia e determina, em matéria de direitos e deveres.
Afirmar que Deus, de Seus filhos, apenas espera Amor, isso é repetir a receita imortal, é aconselhar o que todos aconselham aos outros... Entretanto, ninguém se verá um dia no Céu Crístico, por ter apelado para outro fator básico. Se empatar tempo em muitos outros afazeres é importante, nada é tão importante como produzir atos de Bondade Pura, de perfeita Renúncia. Até onde conheço dos Altos Planos da Vida, a regra do viver é fazer todo o Bem possível, jamais passando pela mente de alguém, prejudicar o seu irmão. A simples idéia de Mal, se houvesse, faria sombra à Luz Divina com que se vestem as almas cristificadas.
* * *
Vivia eu a minha vida de advogado novato, em pequena cidade do interior, sem ter a menor idéia de casamento. Pensava, é certo, contrair matrimônio algum dia, quando as coisas andassem economicamente melhores. Mas como a cada dia basta a sua preocupação, segundo os ensinos do Cristo, também a cada dia compete apresentar o seu coeficiente de novas questões e oportunidades. Nem poderia ser de menos, pois em um mundinho tacanho como a Terra, como haveria progresso, sem que o Emanador fizesse jorrar, continuamente, novas modalidades de acontecimentos na vida de Seus filhos? Como irem Seus filhos à Verdade Integral, sem que ela se revelasse, todos os dias, em novas peculiaridades?
Bailes, eu os tinha dançado, e moças prendadas já havia muitas no rol de minhas amizades; mas Noêmia apareceu, naquela noite festiva, naquele aniversário de gente amiga, e em face de qualquer coisa estranha que sua presença espiritual revelava, disse eu a mim mesmo, que com ela iria me casar. Quem encarna mergulha as lembranças de sua história num véu de esquecimento, enfumaça a vista do espírito e veda a passagem de suas observações mais íntimas; porém o sentimento, a impressão que entra pelo coração, mostra com mais facilidade os horizontes da história e dos fatos que ela registra. Assim é que vemos alguém, não entendemos esse aparente estranho, mas de pronto o coração diz alguma coisa, queiramos ou não. E se a razão precisa trabalhar para revelar, o coração abre ou fecha portas repentinamente, causando muitos esforços às modificações porvindouras, quando se fazem necessárias.
Noêmia teve em mim todas as portas abertas, desde a primeira visão, quando a vontade de dançar me fez girar para trás; porque ela estava a um metro, se tanto, de mim, e ao virar tive-a diante de mim, como se fora uma aurora de luz, despontando ao meu espírito, dentro daquele salão de danças, em casa de família amiga.
Ela atendeu, sorridente, e nós atravessamos a noite em danças e conversas felizes, porque seus pais ali estavam, eram tios da jovem aniversariante, e uma vez feitas as apresentações, ficamos unidos por fortíssimos sentimentos de amizade. E com o progredir de tudo, marcamos casamento dois meses depois, para ser realizado um ano adiante, como de fato aconteceu, para um roteiro feliz, para uma vida repleta de graças do Céu.
E como não é possível conhecer mais pessoas sem enfrentar mais problemas, o casamento com Noêmia lastreou três cunhados, um dos quais era padre de profissão e de exercício; isto é, assim ganhava a sua vida e punha, ou julgava pôr, em prática a sua devoção. Era simples, aparentemente manso, tendo para mim bem saliente uma duplicidade de modos, que ocultava com muito engenho. Ocupava a condição de padre, a de familiar e tinha, também, aferrada tendência à política, manifestando fortes evidências ditatoriais, pois nunca entrava com suas livres opiniões, e sim com suas truculentas exigências, ainda que apenas teóricas. Tudo porém indicava que, se um dia fosse eleito e tivesse outorga executiva, muito mais lhe agradaria mandar com exigência do que observar a lei com elevada reverência.
Entre todos os familiares e ele, para efeitos de religiosidade, as coisas andavam pelas vielas do comodismo eufórico; ele o padre, o salvador da família e o orgulho da parentela toda, e a família e a parentela toda, sempre curvada a ele através dos ritos. E assim por diante, todos curvados a Roma, que inventou um clero para através dele defender um Império, teve o Império desfeito e o clero a dominar tudo.
Tudo sempre correu em santa paz, nada anuviou a vida familiar, sem ser doenças e mortes, aquilo que é normal. Padre Antônio fechou os olhos para o mundo no dia em que Noêmia, minha esposa, completava quarenta e nove anos; e fê-lo, segundo o mundo, em cheiro de santidade, porque, acreditava eu, tivera a sorte de jamais ter-se metido em política de modo ostensivo. Seu despotismo, aplicado dentro da Igreja Romana, fê-lo não ir além de simples cura de aldeia; ele agia com muita cautela, para não se revelar como de fato o era, mas se traía facilmente, para com os seus superiores, dando opiniões contrárias, pretendendo forçar situações, criando casos e pondo-os alerta. Para o bispo, um homem encanecido e pacato, aquele padrezinho nervoso, cheio de idéias esquisitas, bem que poderia fazer a vida mudar de rumo, ir parar em lugar bem menos sossegado. E tudo isso para o mundo continuar o mesmo, dizia o bispo, pois nem Jesus Cristo o consertara! Que todos, portanto, fossem vivendo, que bastantes pensares já lhes causava o pastor luterano, desviando ovelhas ou fregueses para outras bandas ou balcões.
Muitos são os vícios, e perigosos, mas nem todos são realmente catalogados ou mesmo admitidos como tal, porque escapam ao raciocínio lógico, ao veredicto da inteligência superior, e superior porque trabalhada na forja dos estudos e das experiências contínuas. Sem isso, como pensar livremente? Sem isso, como marchar para Deus, deixando para trás os ranços da miséria humana?
Piores do que o fumo, o álcool, a bebida e outros, é a mente viciada no comodismo formalista dos religiosismos. A mente humana, derivada da Mente Divina, deveria ficar sempre acima de preceitos humanos, sempre ligada à Causa Fundamental e Universal, que não admite dogmas, instituições e estatutos humanos, como cangalhas, como peso em cima. Quem sujeita Deus e Suas Divinas Leis a preceitos humanos, a igrejismos, não sujeita realmente a Deus, mas a si mesmo se escraviza, a si mesmo se corrompe e desvirtua.
E padre Antônio fora enterrado sob toneladas de discursos encomiásticos, até havendo quem mandasse esperar “milagres” de seu túmulo, tal o montante de virtudes e galardões que a sua pessoa arrastara em vida. E para nós, os parentes, aquilo era uma participação no Reino das Graças, porque ele era nosso, era privativo do sangue e de bastantes documentos selados e registrados em cartórios. Por cima o tempo mandou chuva, chuva grossa, que a gente do povo ligou ao fado da sorte, porque aquilo que aconteceu com a rica e poderosa família, não estava, quem sabe, no mérito de alguma pobre gente, se o defunto fosse dela, que não seria rico, padre nem poderoso. As coisas, vistas pelo prisma do mundo, de seus conceitos e dos cômoros de sua multimilenar superstição, não são como são, porém como parecem, como as pintam os olhos vesgos do mundo. Aquela bruta chuvarada seria uma praga num enterro de pobres, mas era bênção de Deus num enterro de ricos; e confesso que a minha causídica mentalidade aceitava tudo aquilo, achava normal, mesmo levando em conta que as leis de Deus, regentes da Natureza, não seriam modificadas pelo enterro de mais um filho Seu, que explorara o Seu Nome a vida inteira, para ser servido e festejado por outros filhos Seus, pequeninos e humildes, a grande maioria embutida em tremenda ignorância e pobreza. Aquilo me soava bem, porque um pedaço do defunto me cabia, por ser meu cunhado. O Céu nada avisou, a chuva caiu e rolou normalmente pelo chão, a terra dadivosa também fizera silêncio... Mas tudo aquilo era sorte, a chuva abençoada regara, limpara de alguma coisa a alma do santo padre Antônio... Assim diziam e assim se ouvia e acreditava!
O papel a ser representado pela Justiça Divina, segundo as crenças do mundo, seria o da ignorância e do ridículo, somados, bem somados, para gáudio de todos os cérebros doentios, escravos de ajeitamentos e interesses subalternos. Principalmente destes últimos, pois enquanto o povo ignaro aceita tudo, muita gente se locupleta, materialmente, mesmo sabendo que perante Deus as coisas se passam de outro modo. O bolso, o estômago e outros fatores, queiramos ou não, vivem a nos açoitar a vida inteira, enquanto nos arrastamos sobre a Terra; e de tal modo inculcam seus ditames, que em altas doses passam para cá, forçando a remorsos e angústias. Não é fácil analisar o homem, quando encarnado, porque mil e um fatores o tornam realmente insondável; as aparências se apresentam prontamente, são logo vistas, porque todos as temos, mas a realidade íntima, todos a escondemos, quem mais e quem menos, e com inaudita capacidade automática. O encarnado parece que vive mais de malícia do que de alimentos e do ar que respira!
E como no Espaço e no Tempo todos os fenômenos se desenvolvem, chegou o dia em que se ouviu uma mulher do povo dizer:
— Sempre vejo padre Antônio correndo, fazendo viagens entre a igreja e o cemitério...
Quem era essa mulher do povo? Quem era essa infeliz que via o santo padre Antônio correndo, entre a igreja e o seu túmulo? Era uma pobre lavadeira, alguém muito pobre, viúva cheia de filhos, que por dizer aquilo perdera ali o seu ganha-pão, pois a rica e culta família a pusera fora da porta, com ordem severa de jamais ali retornar, nem mesmo para pedir esmola.
— Que atrevimento!... – bramiu a minha boa sogra, encarquilhada pela idade, mas cheia de mil certezas sobre o Paraíso em que seu rico e poderoso filho deveria estar.
Entretanto, porque a consciência fala alto em horas que muitas vezes parecem impróprias, a família começou a pensar em rezar missas, muitas missas, centenas de missas, milhares de missas. E a boa mãe de padre Antônio, começou a se fazer mais afim com o rosário, de vez em quando regando-o com suas maternais lágrimas.
— Que diz, você, Artur? – perguntou-me Noêmia, sem se revelar surpresa.
Eu, que não esperava pela pergunta, e que como advogado devia partir sempre da segunda intenção, segundo a escolástica e os dotes da malícia, dei-me a raciocinar, para enfim dizer, vagamente:
— Acho melhor, querida, não dizer coisa alguma...
Noêmia encarou-me bem, enterneceu os seus já bem ternos olhos, murmurando:
— Meu bem, nós não temos certeza alguma... Quem sabe é Deus...
E assim findou a conversa, pairando um abismo entre os conceitos humanos e a Soberana Justiça de Deus, que ninguém encontra de modo materialmente ou individualmente exposta, para com ela discutir, levantar questões, quem sabe ensinar-lhe alguma coisa, que seria do gosto de muitos sobre a Terra.
Como é da ordem natural, fomos enterrando os outros, até que um dia chegou a nossa vez; fomos pela porta simples e boa da Morte, que entrega a domicílio, sem ter nada que ver com o produto, se é melhor ou pior em matéria de qualidades.
* * *
Embora todos estejamos acostumados, multimilenarmente acostumados, a Morte é a Vida que se apresenta com vestes um tanto diferentes, por isso mesmo que parece novidade, feia ou bonita, segundo o estado de merecimento e segundo o estado mental da pessoa. Diremos que ela é igual para todos, mas nem todos são iguais para com ela e suas decorrências. Ela é simples funcionária da Vida, faz apenas a sua parte, mas as decorrências dão ou podem dar muito o que falar, porque a Síntese da Vida é muito simples, mas as minúcias se desdobram ao Infinito. É muito fácil dizer o que é um grão de areia, mas não é fácil dizer de onde vem, para onde vai, como realmente é e para o que serve, bem como onde poderá vir a estar e como, no curso dos milênios ou da Vida Eterna que tudo em Deus tem.
Sempre tive por lema da vida não pegar causas repugnantes; a mim mesmo me dizia medroso, talvez covarde, mas escolhia minhas causas, porque pretendia dizer a verdade. Um tremendo sentimento de culpa me acompanhava, surgindo dos abismos de minha consciência; e mesmo não sabendo de seus porquês, que vinham do meu histórico, a ele fiquei devendo mil e um favores. E como, por medida de prudência, dava meus trabalhos aos mais pobrezinhos, digo que tive sorte, porque a Morte me entregou nos braços de gente amiga, pouco hierarquizada mas de boa qualidade em questões de sentimento, de préstimos e vasto lastro pelos séculos pretéritos.
Dormi e acordei, logo em seguida ao enterramento do corpo; e se tenho a dizer que a Morte não causa abalos de morte, devo dizer que ela muda repentinamente o panorama exterior, pondo em sérios embaraços o mundo dos reflexos interiores, das impressões imediatas e irrefreáveis.
— Tenha confiança em si mesmo, mantenha a mente vigilante, lembre-se de que nascer e morrer é o comum da vida! – dizia-me o professor Silvestre, que fora encarregado de me cuidar, até a entrega do corpo no cemitério.
Porém, que lição tremenda de autodomínio, ver a família reunida defronte ao nosso cadáver, chorando pelo parente vivo diante do corpo inerte, sem poder dizer coisa alguma, remetido irremediavelmente a outro continente vibratório. Os sentimentos prendendo à esposa e aos filhos, a mente ligada aos destinos do espírito e a novidade da Morte fazendo fremer o campo das esperanças, defronte ao infinito dos fenômenos porvindouros, daquilo que é simples na ordem natural, mas que as incertezas do momento fazem parecer sonhos indecifráveis.
Todavia, como as leis regentes pertencem a Deus, tudo foi acontecendo, vendo eu enterrar o corpo, com discursos e festas intelectuais, achando tudo muito esquisito e interessante ao mesmo tempo, de certo modo pensando que não era comigo ou em torno de mim que se movimentavam aquelas formalidades caudalosas. Nunca me sentira assim importante, cercado de tantas “virtudes de tabuleta”, tudo isso de que se enfeitam as imagens, quando chegam as datas festivas. Sinceramente, vinham à minha lembrança os dias de minha infância, quando os retratos de Santo Antônio, São João e São Pedro eram festejados, eram retirados do porão da casa, limpados e enfeitados, lá de quando em vez comprados novos, para os devidos festejos, para logo mais voltarem ao porão... Tinha chegado a minha hora, pensava, enquanto uns e outros chegavam, diziam coisas tristes e bonitas à minha adorada viúva, fazendo com que ela caísse em repetidos prantos, o que me incomodava bastante, pois ela e eu parecíamos um só, conforme a lição bíblica.
— Quanto falta para o enterro? – perguntei muitas vezes a Silvestre.
E Silvestre filosofava antes, para lacônico responder:
— Isso é assim mesmo! Você vai se acostumar!...
— Acostumar com o que, professor?!...
Ele sorriu, muito brevemente, argumentando:
— Isto é... Se você tiver que servir como eu, em acompanhamento de enterros, logo verá que a coisa se repete tanto, tanto... A novidade, Artur, é para o recém-vindo, e assim mesmo as incertezas e esperanças, bem como esse sofrimento todo causado pela separação dos entes queridos... Nós, entretanto, que fazemos isto há muito tempo e por obrigação funcional, achamos até bastante monótono esse negócio de morrer...
Silvestre fora meu professor ginasial, talvez um pouco aparentado de bem longe, homem simples e de língua solta, isto é, de coração na boca ou franco a todo custo. Alegre, tomando a vida como era, sabendo fazer amizades e gozando em mantê-las. Deixara longa progênie e muito bom rastro sobre a Terra, saudades incontáveis, e para mim fora muito bom tê-lo ao meu lado na hora do desprendimento. Se vinha encontrá-lo como receptor de novatos junto aos impérios da Morte, isso não poderia eu dizer porque, em que grau da engrenagem do imenso maquinismo se fundamentariam os motivos. Mais tarde eu o saberia.
— Então, professor, isto não lhe parece um sofrimento tremendo?!...
Ele encolheu os ombros e comentou:
— Pode ser que pareça, como não, meu caro Artur... Mas quem vai mudar isso que é por Deus?... Lembre-se, acima de tudo, que você teve a sorte de ser imediatamente recolhido... Pior seria, Artur, acontecer isso e você estar endereçado aos lugares de pranto e ranger dos dentes...
Devo ter apresentado uma careta muito expressiva, pois ele completou:
— Sim, senhor!... Você pensa que Jesus falou aquilo tudo em vão ou para ter como empatar o tempo? Há criaturas que nem sabem que deixaram o corpo, tal o estado de atraso, ignorância, confusão e dores em que o fazem...
— Vão parar no inferno!... – exclamei, sentindo alegria imensa, pelo fato de ter merecido outra direção.
— O nome certo eu não sei, Artur, mas a verdade é essa mesma; acho até que nomes não importam, o que importa é não parar nesses lugares medonhos, seja pouco ou muito tempo, porque aqueles que de lá vieram, com quem tenho falado, contam coisas horríveis.
A conversa andava nessas alturas, quando a hora do enterramento do corpo chegou, e tudo depois aconteceu, como ficou dito anteriormente. A seguir, ou depois do enterramento do corpo, fui dormir. Quando acordei, estava deitado ao lado de formoso riacho, no meio de vasta campina florida, um verdadeiro tapete de flores que não deixam de ser fragrantes e perfumadas. Um indizível prazer espiritual me invadia e, por isso, dei-me a levantar depressa, olhar ao redor, respirar aquele ar perfumado, tisnado de um não-sei-que celestial, esse sentimento da Presença Divina que se tem nos lugares de Paz e de Luz.
Observei a planície florida, os montes distantes, o céu de um azul puríssimo e o voejar de aves e borboletas maravilhosas; vi que a certa distância perambulavam alguns homens, notando que um deles vinha ao meu encontro, ou pelo menos na minha direção. E como tivesse vontade de conversar com alguém, de entrar em contato com a nova condição de vida, fui-me ao seu encontro, vindo a estacar diante dele, sem dizer coisa alguma, apenas observando que era feliz, saudável e risonho, parece que revelando uma intimidade qualquer, que eu não podia no momento explicar ou admitir.
— Sou apenas um servidor... – disse ele – Como são vários os que dormem para se refazerem, uns tantos guardas perambulam pela campina, a fim de atender aos que porventura venham a carecer de socorro...
— Neste lugar de Paz e Ventura celestiais alguém pede socorro?! – perguntei, interrompendo-o.
— Embora seja de Paz e Ventura, como diz, alguns aqui aportam com os seus dramas em continuação. Isto não é o Céu Crístico, nem mesmo um Céu muito inferior ao Crístico, mas de elevada capacidade vibratória, onde os recém-chegados podem estar absolutamente livres de certos percalços. Quem aqui chega, tanto pode estar um pouco melhor, como um pouco pior, nada além disso...
Estava gostando da conversa, principalmente notando que tomava caráter técnico, e de uma técnica que fugia aos meus conceitos de celestialidade. Essa questão do Céu ou de Céus, para quem passa uma vida inteira comprando formalismos clericais, não voga bem a quem chega ao mundo espiritual, todo ele totalmente diferente das mesmas encomendas formais. Portanto, procurei dar andamento à conversação, perguntando:
— Você conhece bem o problema dos Céus?
Afável, de uma afabilidade nada formal, toda absorvente, respondeu:
— Como você virá a conhecer, pelo Mapa Diagramático, uma vez que, para conhecer praticamente, necessário é evoluir praticamente.
Antes que entrasse em detalhes, perguntei sobre o ponto que mais me interessava:
— Como é esse Mapa Diagramático?
— É o Atlas Astral do Planeta, nada mais. Mostra o Planeta sólido e os Céus astrais, que vão do seu interior até certa distância, para o exterior, até atingir a fronteira vibratória do Céu Crístico. Quando estiver familiarizado com o Mapa Diagramático, verá que a questão não reside em dar muita atenção ao que a Deus compete, e sim ao que nos compete, que é atingir o Céu Crístico o mais depressa possível. Isto é o que nos cumpre, é ao que chamamos evoluir praticamente, aquilo que não é apenas conhecimento teórico.
— Nunca ouvi dizer isso lá na vida carnal...
Ele deu continuidade, depois de fazer um gesto de lamentação com a cabeça, como a dizer que, infelizmente, as religiões se importam muito com os formalismos que engordam orgulhos e vaidades, em lugar de cultivar o máximo respeito pela Verdade:
— Nem eu tinha ouvido dizer isso, nem muitas outras verdades mais, que vim aqui encontrar. Por lá tudo cheira a conceitos e preconceitos humanos, de sorte que, quando se pensa estar adorando ou servindo a Deus, se está fornecendo farto material de monopólio aos engodos religiosistas. Enquanto aqui se aprende que o Pai deseja de nós Verdade, Amor e Virtude, traduzidos em obras sociais, por lá a coisa funciona em termos de ritualismos comercializáveis, com grandes somas votadas em favor dos orgulhos nobiliárquicos, que no curso dos milênios criaram raízes profundas no arcabouço da humanidade.
— É lastimável!... – murmurei, entrando a meditar sobre mil e uma questões, porém sem articular palavra, para que o guarda fosse avante com as suas considerações.
— Sim, é lastimável... Até parece que as religiões, na Terra, nada mais fazem do que servir ao Mal em nome do Bem... Pelo menos, meu irmão, podemos afirmar que há uma diferença muito grande entre as verdades reais e os interesses de grupos religiosistas.
Naquele momento, pouco adiante, um vulto se pôs de pé, começando a berrar e a correr pela campina; e o guarda volitou no seu encalço, deixando-me sozinho, ou em companhia de minhas elucubrações. Pouco depois, havendo retornado, sem fazer referência ao caso, perguntou-me:
— Quer ficar mais um pouco por aqui, antes de ir para a sede da região?
— Antes gostaria – repliquei – de saber como terminou o acidente... Pareceu-me que o nosso irmão não estava bem...
Ele deu de ombros, sorriu e disse:
— A sua interpretação do caso, irmão Artur, bem prova que não conhece destes misteres; isso nada tem de acidente, é apenas o normal por aqui, como já lhe falei antes. O tal irmão, como viu, saiu correndo e gritando, de medo da Morte, da desencarnação...
— Mas se ele já morreu!... – atalhei.
Novo sorriso e nova explicação singela:
— Mas ele não é obrigado a saber isso, logo após a desencarnação. Sucede, também, que deixou a carne por motivo de doença cardíaca prolongada, por cujo motivo sofreu angústias horríveis, que o traumatizaram mentalmente. E, para o seu governo, vá desde já observando que tudo isso é normal, importando apenas o fato de que é necessário ampará-los na hora certa e com os recursos certos. Nunca, por aqui, faremos o que fazem os religiosismos terrícolas, que depositam confiança nos seus rotineiros formalismos, deixando de parte a essência das questões. O lema, por aqui, é atacar o centro de gravidade das questões, e esse, pode estar certo, não é com exteriorismos idólatras que serão resolvidos.
— Eu lhe agradeço as lições e lhe peço que me encaminhe à sede da região, pois estando encantado com tudo isto, desejo ser útil o mais breve possível. E se me quiser responder, diga-me sobre o fato de saber o meu nome, pois ainda há pouco me chamou por ele.
Ele me reclamou a mão, apertou-a com efusiva alegria e disse:
— Você, Arthur, foi meu benfeitor no mundo... E eu pedi para ser o primeiro a lhe falar, ao acordar do sono reparador. Por ora, nada mais quero dizer, sem ser que muito feliz me considero, de tê-lo servido.
Mostrou-me o caminho, dizendo:
— Siga o riozinho, pois ele atravessa a cidade... E, lembre-se, não faça caso de algum perturbado que possa encontrar pelo caminho, pois os que estão servindo são muito competentes e bem controlados.
Nas regiões de Paz e Ventura há um Amor que brota do imo de tudo e de todos, e a este Amor eu tenho atribuído todas as alegrias destes rincões maravilhosos; e se é certo que ainda estamos muito longe do Céu Crístico, também é certo que tudo isto, apesar de muito inferior ainda, deixa longe, muito longe, aquilo que as estultices religiosistas da Terra apregoam.
* * *
Não sei quanto tempo terei demorado na caminhada, pois fui observando as belezas da natureza. Com aquela graça que tudo tem, e mais um sentimento profundo de Amor que invade a vida em geral, não se tem pressa para nada, sem ser na hora de atender alguém, de fazer um bem, de ter a santíssima oportunidade de pôr em prática o sentimento de fraternidade.
Ao chegar ao topo da colina, de onde se descortinava o panorama da cidade, os olhos se me encheram de lágrimas; parece que de dentro, das profundezas de mim mesmo, alguém dizia que eu voltava ao meu lugar de partida. E como aquele sentimento de Deus Presente me dominava intensamente, dobrei os joelhos e orei, caindo num pranto, de tamanha alegria, que ninguém poderia jamais traduzir em letras de forma.
Levantei-me e prossegui, até o local em que o riozinho fazia uma curva, para depois entrar na cidade, que mais parecia um jardim entremeado de casas. Não esperava, entretanto, que um grupo de cidadãos da cidade me viesse dar as boas-vindas, ao transpor o marco de entrada da mesma. Entre eles estava Silvestre, tendo sido ele o apresentante de todos, que, disse, já eram do meu conhecimento, porque dali partira eu para reencarnar.
E fomos ao governador da cidade, um irmão que na encarnação fora político de não poucos valores, porém incompreendido, razão por que veio a desencarnar muito cedo, atacado de mal cardíaco. Embora tudo certo, porque fatores cármicos assim determinassem, mas a realidade é que, infelizmente, na Terra, bem pouca coisa é feita com o sagrado objetivo de atingir os supremos desideratos do espírito. Tudo ainda é feito em termos de concorrência, de invejas, de falsidades e de traições, enquanto se fazem discursos laudatórios a bem da humanidade e das indispensáveis instituições basilares.
— Terá uns dias de folga – disse o governador da cidade – para rever tudo quanto quiser... E não diga que vai dispensá-los, porque terá que aproveitá-los e muito, fazendo muitas perguntas e ouvindo bastantes respostas.
E enquanto me dava o seu abraço amigo, entressorrindo observou:
— Não pense, por ora, em visitar a família, que seria menos interessante para si e para os seus; lembre-se de que tem amigos que tudo já providenciaram, conforme o possível, pois é natural que as condições e situações, criadas na Terra, representem lições imperiosas, traduzam aprendizados indispensáveis ao despertamento da consciência.
Agradeci por tudo, como melhor pude, prometendo que, em breve, gostaria de fazer pelos outros, uma partícula daqueles bens de que estava sendo objeto. E foi assim que partimos rumo ao meu novo domicílio, onde fui reencontrar alguns parentes distantes, pois os mais próximos haviam já reencarnado, alguns no próprio seio familiar, o que muito me fez sentir alegria.
Estando com a esposa, os filhos e os pais encarnados, e sendo os parentes de boa distância, tive facilidade em fazer de toda a comunidade a minha família. E digo isto com algum embaraço, porque só seremos grandes de fato, quando o sentimento de irmandade for capaz de abraçar a humanidade cósmica, assim como por ora abraçamos o mais querido parente, aquele que pareça ser a razão de ser da nossa própria vida. Tal é o destino glorioso dos filhos de Deus, todos eles, pois que filhos especiais nunca os fez ou teve, dizem os grandes mestres que de mais altos planos vêm, para nos falar e envolver com a grandeza de suas luzes, com o poder de suas auras benfazejas.
Silvestre me apresentou a certo irmão, dias depois, dizendo:
— Conhece-o, Artur?
— Tenho certeza que sim, mas de onde não me recordo – respondi.
— Funcionou como seu Anjo de Guarda, como dizem; seu nome é Solano, que foi o último usado na Terra. E não tenha para com ele mesuras especiais, porque tudo é simples, é normal, além de ter sido você, já, o seu Anjo de Guarda.
Abraçamo-nos carinhosamente, como irmãos do coração, tendo-lhe eu agradecido por tudo quanto teria por mim feito, aquilo que eu de modo algum poderia aquilatar, visto nada entender de tais assuntos, de modo prático. E com esses e outros acontecimentos, a montante amiga crescia, dia a dia, enchendo minha vida de imensas alegrias e fartíssimas obrigações de puríssima amizade.
Devo dizer que o caso do meu cunhado, padre Antônio, começou a tamborilar no meu cérebro, cada vez mais intensamente. E se nada disse aos mais chegados, que eram Silvestre e Solano, porque os parentes tinham ocupações muito diversas, foi em virtude de reconhecer que eles conheciam os meus pensares e desejos. Eles, pensava eu, diriam sobre a questão o mais certo e útil, assim que fosse chegado o momento. Entretanto, mais de uns três meses depois, fui perguntado:
— Quer estar presente a uma aula?
— Quero estar onde quer que seja que possa aprender ou ser útil.
— Então, logo mais, que vai estar de folga, venha me procurar em casa, que juntos iremos a essa aula.
E lá estava eu, na hora, entrando pela casa adentro, onde alguns outros amigos também estavam; a residência de Silvestre estava sempre cheia de visitas, nas horas determinadas, certos dias, em virtude dos serviços que prestava, pois era chefe do grupo de guardas que funcionava naquela planície, onde eu dormira para efeito de recuperação perispirital.
Partimos dali, rumo ao Salão de Conferências da cidade, a fim de assistir à aula, para a qual fomos convidados. E para o achatado prédio, plantado como um enorme repolho no centro de formoso gramado, adentramos poucos minutos depois, mesmo andando a pé. Notamos que os salões internos se dividiam em forma de V, com o vértice para dentro, observando assim a simetria do prédio. E como no centro havia uma cúpula, avisou-nos Silvestre que ali estavam instalados os aparelhos de projeção. Isto é, que para as trinta e tantas salas se distribuíam canais especiais, para as devidas ilustrações durante as aulas, quando se fizessem necessárias.
Ali, foi dizendo, projetavam desenhos e mapas, de galáxias, sistemas planetários, planetas, satélites, nebulosas e diagramas em geral, além dos diagramas em geral, de espécies minerais, vegetais, animais, etc. Disse-nos da importância do ser humano, com as sete coroas energéticas ao redor da centelha, ativando o corpo perispirital e o físico, quando encarnado. Falou de cada chacra ou plexo, os sete, cada um correspondendo a uma coroa, enaltecendo a importância do seu desenvolvimento, até a formação, ao atingir a espécie humana, para depois se dilatarem e observarem a ação convergente, ou unificação de todos no plexo coronário, ao atingir o Grau Crístico.
A conversa se alongou até o momento da entrada de um grupo, chefiado por um velhote muito alto e simpático, e grupo que foi instalar costados lá na frente, a uns dez metros do painel vítreo que ficava nos fundos, ocupando toda a largura da parede.
Como eu nada de mais observasse, perguntou-me Silvestre:
— Não viu alguém do seu parentesco no grupo?
— Não.
— Seu cunhado está ali no meio...
— Padre Antônio?!...
— Sim.
— Que faz ele?
— Prepara-se para reencarnar, Artur.
— Ele está bem, Silvestre?
— Agora está melhorando...
— Esteve mal?
— Muito e muito tempo...
— Por quê, Silvestre?
— Porque a Justiça Divina funciona divinamente, Artur.
— Ser padre compromete?
— Até certo ponto, Artur.
— Que ponto, Silvestre?
E o diálogo parou, porque uma campainha sinalou o início da aula, que foi apenas uma leitura, feita por aquele encanecido irmão, com um vigor tal de voz, que mais parecia um dardo fumegante a penetrar nossas mentes.
De pé, sozinho lá na frente de todos, bem encostado ao painel, começou a ler:
“LEMBRA-TE”
1 - Que Deus, a Essência Divina que tudo emana, sustenta e destina através de Leis Eternas, Perfeitas e Imutáveis, é por si mesmo Onisciente, Onipresente e Onipotente, pairando acima de todos os conceitos e preconceitos humanos, crentes ou descrentes;
2 - Que a Emanação, espiritual e material, que enche o Infinito, do qual todos somos parte e relação, não a manifestou Deus segundo os caprichos religiosistas ou não de quem quer que seja;
3 - Que o Movimento, ou a lei que a isso força, obriga tudo e todos no sentido da Finalidade, também sendo acima de manobrismos sectários quaisquer;
4 - Que a Imortalidade é normal no que deriva de Deus, nada devendo aos conchavismos religiosistas ou não dos homens;
5 - Que a Evolução é lei simples, queiram ou não as crenças ou descrenças humanas;
6 - Que a Responsabilidade cresce nos espíritos, sempre em correspondência com o crescimento em conhecimento de causa, nada havendo que possa depor contra;
7 - Que a Reencarnação é lei comum na Ordem Divina, é a válvula redentora e evolutiva dos espíritos, aceitem ou não os fanatismos religiosistas de quem quer que seja;
8 - Que a Revelação é Instituição Divina, com a função de advertir, ilustrar e consolar os filhos de Deus entre si, funcionando nos mundos e intermundos, saibam ou não os homens, gostem ou não os religiosismos humanos;
9 - Que a Habitação Cósmica é uma herança de todos os filhos de Deus, que nada deve aos conceitos humanos, crentes ou descrentes, ditos sábios ou ignorantes;
10 - Que a Sagrada Finalidade é um Desígnio de Deus, não havendo quem possa eliminá-la;
11 - Que os Dez Mandamentos constituem o Código de Conduta, contra o qual se rebentarão todos os erros humanos;
12 - Que a Lei de Deus e o Cristo sintetizam a Moral, o Amor, a Revelação, a Sabedoria e a Virtude, sendo as duas testemunhas fiéis e verdadeiras de que fala o Apocalipse;
13 - Que a Verdade que Livra é o cultivo da síntese da Lei e do Cristo, a VERDADE, o AMOR e a VIRTUDE, jamais havendo argumentos religiosistas ou formalistas que possam substituí-los;
14 - Que a Autoridade Doutrinária pertence à Moral, ao Amor, à Revelação, à Sabedoria e à Virtude, jamais podendo pertencer a homens e a instituições humanas;
15 - Que no AMAI-VOS UNS AOS OUTROS está resumido tudo, em matéria de deveres morais, importando aos filhos de Deus cumprir esses deveres, visto que a parte de Deus não depende dos homens e de suas concepções;
16 - Que a Religião é o cultivo da VERDADE, do AMOR e da VIRTUDE, que sintetizam os ensinos da Lei de Deus e do Cristo, e que devem ter absoluto emprego nos atos entre irmãos;
17 - Que o Reino de Deus é de ordem interna, é a Glória que deve ser desabrochada no íntimo de cada um, pelo desabrochar das virtudes espirituais em geral, que se resumem em VERDADE e AMOR;
18 - Que a Volta do Cristo é sobre as Legiões Consoladoras, a quem cumpre advertir, ilustrar e consolar os irmãos entre si, assinalando que é bem-aventurado todo aquele que, tornando-se consciente, venha a tomar parte nesse Divino Ministério;
19 - Que é infeliz aquele filho de Deus, em quem a Justiça do mesmo Deus encontrar sem VERDADE, AMOR e VIRTUDE, pois nenhuma artimanha religiosista poderá jamais dar-lhe Paz e Ventura;
20 - Que o conhecimento das VERDADES FUNDAMENTAIS constitui o CÓDIGO IMORTAL, pairando acima de religiões, filosofias, instituições e estatutos humanos quaisquer, porque vigora no templo da consciência, responsabilizando totalmente o filho de Deus;
21 - Que só existe uma Unificação necessária, que é entre o Pai Divino e Seus filhos, e que fora da VERDADE, do AMOR e da VIRTUDE, jamais poderá ser realizada;
22 - Que a Era Cósmica convida todos os filhos de Deus para um encontro com o BOM SENSO, a fim de atender a Jesus Cristo, cuja bandeira branca, tendo no centro escrita a palavra AMOR, convida ao abandono dos preconceitos em geral, para que o Reino de Deus possa desabrochar no íntimo de todos, marcando a entrada deste Planeta no âmbito de outras dimensões vibratórias;
23 - E que é bem-aventurado aquele que assim entender, reconhecendo no Espiritismo o trabalho de Elias que, consoante a profecia do Cristo, com esse nome repôs as coisas no lugar, no curso de três encarnações consecutivas.
Ao término da leitura, pediu uma oração endereçada a Deus, a Primeira e Total Potestade, aos Cristos Planetários ou Segunda Potestade, e ao Consolador ou Ministério da Revelação, a Terceira Potestade.
E foi então que se deu o inesperado, pois o prédio pareceu sumir, vendo-se o céu referto de brilhantes estrelas, céu que também se foi tornando brilhante, cada vez mais brilhante, até tornar-se visível o glorioso semblante de Jesus Cristo, que estava engastado no centro de multidões de gloriosos espíritos, estando bem próximo as chamadas Três Marias, rodeadas de legiões de maravilhosas criaturas, tudo numa festa de luzes e esplendores celestiais, tal como seria impossível descrever.
Ao cabo de tudo, o prédio ali estava, tudo em ordem, tudo natural, porém atapetado de pétalas de rosas brancas, perfumadas e vivas, assim como tudo é nestes rincões maravilhosos, sem que se saiba como e porquê, a não ser o fato de se sentir a Presença Divina, de modo simples, puríssimo, sem a farta e repugnante intervenção dos ritualismos terrestres, desses engodos que, exercitados em nome de Deus, engordam bolsos, estômagos, sexos, orgulhos e vaidades truculentas, de homens despudorados, fingidos de ministros de Deus, fantasiados e que têm o direito de comprar e vender o que é Sagrado, só porque lidam com gente ignorante, tão ignorante que não acredita na VERDADE, no AMOR e na VIRTUDE, para acreditar em bagunças clericalistas.
* * *
Depois que o velhote disse estar finda a aula, estando todos conseqüentemente livres, Silvestre avisou-me:
— Quero te apresentar ao ex-padre Fabiano e também deixar-te livre, para conversar com o teu cunhado Antônio. Leve em conta, Artur, o estado de acanhamento em que possa cair o teu cunhado... Não pergunte coisa alguma sobre onde esteve e como esteve... Compreenda que a Justiça Divina basta, para dar a cada um segundo as suas obras, sem haver necessidade de que um irmão coloque mais peso sobre os já pesados débitos de outro irmão devedor.
Calei-me, embora estivesse com a mente ocupada por mil e umas indagações, inclusive aquelas que diziam respeito ao ex-padre Fabiano, que sendo padre, teve outra sorte ou destino, pelo que se via. Mas Silvestre, olhando-me bem, entrou a dizer:
— Você pensa no caso de Fabiano, que veio bem da carne, apesar de ter sido padre ou mercador de idolatrias. Lembre-se de que muita gente boa seguiu os erros de Roma, sem saber o que estava fazendo; lembre-se de que o importante são as obras de humanidade, fora de questões religiosistas, e que esse irmão Fabiano viveu, para a sua felicidade, pedindo aos mais ricos para dar roupas, comida, remédios e quantas bondades pôde aos pequeninos do mundo. Assim como você deu trabalhos jurídicos aos mais pobres, assim como você não defendeu causas repugnantes, assim mesmo ele confiou nas obras de fraternidade, criando para si essa quantia de Paz e Ventura, com que você o vê galardoado.
Ainda continuei calado, mas com a mente fervilhando, motivo por que Silvestre aduziu:
— Seu cunhado, entretanto, andou envolvido em adultérios e outras porcarias, orgulhos e vaidades, além de confiar no ritualismo e nas possíveis vantagens clericais. Como temos dito, Deus não quer filhos padres, sejam quais forem as colorações sectárias, mas sim filhos decentes, cultivadores da VERDADE, do AMOR e da VIRTUDE. Aí tem você, de pronto e em síntese, a história toda...
— Fico-lhe muito grato pela explicação, amigo Silvestre.
Ele virou-se presto para mim, emendando:
— Lembre-se de que poderíamos estar nós no lugar dele, ou em lugar e condições muitíssimo piores, amigo Artur, porque se a Terra é um mundo perigoso, nós temos em nós as piores marcas cármicas, que nos induzem a desvios horripilantes, fabricantes de tenebrosas prendas infernais, fontes de desarmonias íntimas que podem custar milenares anos de ressarcimento. Como, pois, enxergar o mosquito no olho do próximo, deixando de considerar o camelo que temos no nosso?
E fomos na direção do grupo, que saía em companhia do ex-padre Fabiano.
Frente a frente com o meu cunhado, esbocei satisfatório sorriso, mas em breve retrocedi, porquanto ele baixou a cabeça e derramou lágrimas abundantes, não de alegria, mas de pesar. Assim envolvido, também fui conduzido àquele estado emocional. E quando olhamos ao redor, os amigos e companheiros nos haviam deixado a sós, para termos liberdade e não sentirmos ainda mais alguma possível tortura moral.
Passado tudo, Antônio falou, dizendo que sabia de minha volta, por lhe haverem dito os amigos e parentes, com quem tivera contato através de uma sessão espírita, dois ou três dias antes.
— Sessão espírita?!...
— Sim, senhor, sessão espírita... Foi ali que ganhei consciência do meu estado... Lembra-te da lavadeira de mamãe?
— E bastante!...
— Pois está muito velhinha e bem alentada de espírito...
— E não morreu de fome, pelo fato de lhe tirarem o trabalho, quando disse a verdade que devia dizer, pois não?
Antônio volveu a mim, perguntando:
— Como é isso, Artur?
— Poucos dias depois da sua passagem, disse ela, em casa, que te via constantemente correndo do cemitério para a igreja, e da igreja para o cemitério; e como a nossa gente pensasse de outro modo, puseram-na fora de casa, com ordem de nunca mais aparecer, nem mesmo para pedir esmola, se viesse a precisar.
Antônio enterneceu-se, murmurando:
— Quem pode lá saber, onde o Bom Deus semeou as Suas Graças?... Ela deu-me à luz da realidade, quando a hora chegou... Que o Bom Deus a recompense e perdoe os nossos parentes, porque se a ignorância é pecado, muitos deles têm eles para arrastar pelos dias afora, como eu arrastei!...
— Você falou em parentes... Alguém nosso foi visitar a lavadeira?
— Noêmia... A minha irmã e sua esposa... A nossa compreensiva Noêmia foi a ela, no seu Centro Espírita, pois agora é um Centro, com o intuito de saber de você, e soube de mim, também, porque o Bom Deus determinou que fosse instruído, tratado e recolhido a este lugar, de onde deverei em breve sair, para reencarnar.
— Soube disso, Antônio, da parte de Silvestre; convidou-me para a aula, com o intuito de nos prodigalizar encontro. E quanto a mim, saiba, nada tive e nada tenho contra pessoas da família, pois vivia minha vida como melhor pude, procurando fazer o Bem, tal e qual como por lá podia entendê-lo. Creio que para um advogado é bastante, não acha?
Antônio assentiu com a cabeça, com ar muito pensativo, para depois comentar:
— Para um advogado é bastante!... Mas para um padre, que pretendia vender o Céu a peso e a retalho, que representa ficar dezenas de anos em tal estado, correndo entre a igreja e o cemitério, como uma tempestade em forma de homem, nada podendo fazer por si e muito menos pelos outros?
— Você ouviu bem a lição de hoje, Antônio?
— Não ouvi, apenas... Devorei o quanto pude!...
— Eu também... Nunca pensei que em tão poucas palavras coubessem tamanhas lições! Tinha a impressão que Deus falava pelo velho ex-padre Fabiano!
— Foi um homem de elevada moral e rico em piedosas qualidades; não foi a religião do mundo quem lhe deu o que tem, que poderia guindá-lo às mais altas esferas, mas sim a Moral e o Amor, essas armas contra quem as trevas jamais poderão triunfar.
— Eu também estou aprendendo outras lições...
— Aqui a gente sente a Presença de Deus e se entrega à simplicidade... Lá na carne a gente sente os ímpetos do bolso, do estômago, do sexo, do orgulho, de uma caudal intérmina de animalismos desbragados, que parecem querer devorar até os mais recônditos pensamentos de Bondade, já não digo de Verdade, porque a Verdade é muito mais, é tudo quanto há de Divina Realidade!
— Bem, Antônio, a vida é Eterna e a Evolução é lenta, sendo a Sagrada Finalidade um fato garantido por Deus. Ainda que errando, que descendo aos rincões de pranto e ranger dos dentes, de lá se sairá, para a marcha em busca do Reino de Deus, que temos dentro de nós mesmos.
— Você viu como as coisas se passaram, durante a oração?
— Vi muito pouco...
— Por quê, Antônio?!...
— Porque Fabiano disse que cada um tem a visão da Verdade, assim como merece ou faz por merecer... Eu vi apenas o Divino Mestre, que representa a Verdade, pendurado no lenho, no alto do Calvário... E creio que é muito...
Tornamos a derramar lágrimas, pois a situação de Antônio era mentalmente dolorosa, e eu dela participava, e com muito gosto, pois sentia que éramos irmãos, não apenas cunhados. Basta que seja um plano de Luz, Paz e Ventura, para se ter vibrante a mais intensa sensação de irmandade; e isto força a tomar parte nos fados ditos alheios.
Bem pelas tantas nos recolhemos, se formos atender aos fatores geográficos do mundo. E devemos assim fazer, porque no Céu em que me encontro, e em sua subfaixa, as condições são muito ligadas ao Planeta sólido. Apesar de tamanhas considerações, lágrimas e tudo mais, a despedida momentânea foi em termos de alegria e de vigorosas esperanças de melhora. Afinal, consideramos, a vida é Eterna.
No dia seguinte, portanto, encontrando Silvestre e Solano juntos, perguntei:
— Por que meu cunhado viu aquela gloriosa visão de modo diferente?
Silvestre comentou:
— Qual de nós está, aqui, vendo a total Presença de Deus? Entretanto, lembremos, se Jesus Cristo aqui estivesse, poderia dizer da Presença Divina aquilo que para nós seria impossível, talvez, até mesmo conceber. Assim sendo, consideremos que o modo geral é esse, e que nas especificações, os acontecimentos tendem a observar essa diretriz. Portanto, cada um viu segundo diferentes dimensões vibratórias, como é de lei.
E colocando as mãos no meu ombro, avisou-me:
— Vá perguntando sempre... Mas vá raciocinando sobre os fatos, porque nunca encontrará mistérios e milagres pela frente, na Ordem Divina. Tudo é segundo leis eternas, perfeitas e imutáveis, e com elas temos que harmonizar, se quisermos progredir na escala hierárquica, isto é, se quisermos fazer crescer o Reino de Deus que temos dentro de nós mesmos, como o Cristo deixou avisado.
— Então – comentei – as religiões terrícolas andam todas fora de esquadro, longe de interpretar a Soberana Vontade de Deus.
Solano interveio, ponderoso:
— A Soberana Vontade de Deus é no sentido de que Seus filhos conheçam e ensinem, uns aos outros, aquelas Verdades Fundamentais que forem podendo conhecer, e isto sem o caráter de trustes religiosistas, sem os feios e degradantes interesses subalternos de grupos comercialistas e politiqueiros. Entretanto, considerando a lentíssima evolução de qualquer agrupamento humano, temos que por em evidência toda a prudência possível, para não arriscar a perda dos tentos conquistados a custo nos milênios anteriores.
— Não entendi bem... Quer trocar isso em miúdos? – roguei.
Solano fitou-me bem e começou:
— Você se esforçou para se formar em Direito?
— Sim, o quanto pude – respondi.
— E se esforçou para conhecer verdades espirituais fundamentais?
— Bem, sempre achei que essa parte era com os padres, que deviam fazer por nós o trabalho de salvação. Agora sei que andei errado, e que a humanidade terrícola anda errada, mas por lá, assim foi que andei pensando e agindo.
Solano fez um gesto de desalento, retornando à fala:
— Lembre-se pois, que antes da ida ao mundo do Cristo Planetário, para deixar todos os exemplos de Verdade, Amor e Virtude em termos de realidade simples, duzentos e quarenta mil anos de ensinos já haviam sido entregues à humanidade terrestre; Budas, Vedas, Zoroastros, Moisés e Hermes, Profetas e Pitágoras, e tantos outros grandes vultos andaram semeando verdades básicas, e, depois disso tudo, um homem culto, um advogado, passou pelo mundo e não se interessou por aquilo que é e será sempre o mais importante a saber, que são as verdades sobre a Origem Divina do espírito, o Processo Evolutivo a que está sujeito e a Sagrada Finalidade, que por seus esforços deverá atingir. Observe, portanto, que se o número de descuidados é grande entre os analfabetos, também não é pequeno entre aqueles que ostentam títulos doutorísticos.
Bastante encabulado, murmurei:
— O problema do Céu é muito grave!
Solano acrescentou, pesaroso:
— Não acusamos ninguém, porque somos igualmente errados; mas enquanto uns erram porque fazem das coisas do espírito uma quitanda como outra qualquer, outros erram porque abandonam o magno problema aos cuidados de homens fantasiados, fetiches, rituais, ginásticas, exteriorismos e altas negociatas idólatras em geral, inclusive a sujeição das supremas realidades do espírito, aos manobrismos de natureza politiqueira, colocando o Reino do Céu debaixo dos tacões do reino do mundo.
Silvestre comentou, sorrindo:
— E vivemos dizendo que foi um único Esaú que trocou, a primogenitura do espírito por um prato de lentilhas!...
Solano considerou:
— Bem, estamos em pleno século vinte, com o Caminho do Senhor reposto no lugar, graças ao trabalho de Elias, que, consoante a profecia do Senhor, cumpriu a parte que lhe tocou. O Espiritismo adverte, ilustra e consola, mas não pode forçar. O sagrado relativo direito de livre arbítrio, bem sabemos, é outorga do Pai a Seus filhos. Portanto, aguardemos que o Tempo faça com que os filhos do Pai se convençam, que devam ser iguais para com Ele, assim como Ele é igual para eles.
Eu tinha que cuidar de meus deveres, que consistiam em conversar com alguns recém-recolhidos, e no curso da conversa, sem parecer, dar alguns esclarecimentos da nova condição de vida. E foi por isso que os deixei, visto que tinha perguntas muitas a fazer. E ainda assim acontece, pois se a Verdade Genérica é já bem fácil de conceber, porque a colocamos acima de análises humanas ou tão relativas, as verdadezinhas em que ela se manifesta são tantas, mas tantas, que por todos os lados as encontramos, chamando a nossa atenção, reclamando o nosso raciocínio, desejando a cooperação do nosso esforço individual, para assim nos forçar ao crescimento intelecto-moral, chave de todos os demais crescimentos.
* * *
Jesus ensinou que a fé remove montanhas? Sim, Ele ensinou, dando provas disso com a Renúncia que pôs em prática, indo ao encontro da cruz, pelo fato de saber que além dela estava a Liberdade, porque o mundo e a carne serão, para os espíritos, as grandes montanhas que devem ser removidas.
Porém as coisas se passaram de modo diferente nos ouvidos humanos, desde então para cá, pois os homens só pensam em montanhas exteriores, deixando o grande problema das montanhas interiores para mais tarde ou para os outros resolverem.
Tudo materialmente se defronta!
O homem arranja elementos para descer terra adentro, subir aos ares, penetrar socavões submarinos, esfarelar a matéria, etc., etc. Mas quando chega a hora de mudar um conceito, avançar na direção da Verdade que livra e sondar os recônditos de si mesmo, então as coisas terão que ser coadas pelo prisma das superstições, das manias religiosistas, dos fanatismos sectários, dos estreitismos conceptivos.
Meu trabalho, que servia para entrar em contato com o meio e sondar os complexos da alma humana, de fato tudo isso ensejava, fazendo com que pudesse ver em homens e mulheres encanecidos, fartos indícios de infantilidade espiritual. Um deles assentava nos conceitos religiosos, e ainda assenta, pois se de lá saí faz muito tempo, tudo por lá continua na mesma e a humanidade, que fornece mortos ao plano da vida, continua cultivando suas manias, seus vícios sectários, ou idólatras, em lugar de procurar aquela Verdade Absoluta, que jamais poderia ser escrava de cacoetes tão pueris, ela que é bastante acima de tudo quanto o homem pode conceber, até esta etapa cíclico-evolutiva.
Para que façam uma idéia da ordem natural do meio ambiente, basta saber que para este lugar não podem vir os ruins, os maldosos, pois isso jamais a lei do peso específico, de ordem vibratória, o permitiria; só uma certa dose de Bondade, e Bondade aplicada durante a existência carnal, é que determina a vinda para este lugar ou quaisquer outros correspondentes; mas, note-se, os efeitos de certas doenças, as preocupações mentais, os complexos religiosos, e até mesmo as mais singelas questiúnculas familiares, tudo para aqui vem, tudo pode acompanhar o recém-chegado, fazendo defrontar a situação e dando muitas vezes não pouco trabalho aos servidores do local.
E como é regra geral que o doente porta-se como doente, e é devido respeitar a situação, porque o problema é de esclarecimento e não de força bruta a ser empregada, fácil é conceber o quanto pode dar de trabalho, para muitas vezes render pouco ou quase nada. Em tais casos, quando o paciente é teimoso, primeiro se lhe diz que a Morte não volta atrás, depois que a Ordem Divina jamais se modificará segundo os nossos caprichos, e, se ainda perdurar a teimosia, pode-se garantir ao teimoso que os reinos de treva, pranto e ranger dos dentes não existem por acaso, porque afora os que por lá já estão, outros lhes podem ter que fazer companhia, caso teimem em pretender ensinar a Deus, essa feia coisa que quase todos os religiosistas gostam realmente de pretender fazer.
Convém saber que isso tudo, ou muito disso não acontece com os melhores elementos, porque o poder das afinidades é como por força de magias brancas, parece encantamento divinal; estes, que mais tendem para os planos mais elevados do que para os inferiores, logo se importam com o trabalho amoroso e útil, disso fazem a religião e o devotamento, e o mais tudo, que corre mesmo por conta de Deus, se encarrega de torná-los felizes, produtivos e progressistas. Estes tais são quase sempre aqueles que não passaram a vida discutindo teologias e teodicéias, porque o cumprimento do dever não lhes fez sobrar tempo; e não tendo enchido a cabeça de pernosticismos, viveram simplesmente e simplesmente vieram ter a estes planos, o que muito lhes valeu. Reconhecem que o Plano Geral a Deus pertence, e que fazendo os Seus filhos todo o Bem possível, uma Divina Justiça deles cuidará, jamais permitindo que as trevas possam contra eles arremeter seus dardos traiçoeiros.
Sem nenhum esforço podemos compreender, depois de deixar a vida transcorrer por conta de Deus, através de Suas leis, que o problema do Amor é para ser aplicado por parte de Seus filhos, e não discutido. E como tal, perguntando a muitos sobre o fator religião, em essência, ninguém conseguiu dizer mais e melhor, resumindo, do que afirmando que fora dos atos de Bondade ele não existe ou não fornece elemento algum realmente produtivo, simplesmente celestializável.
O fato principal, segundo o nosso entender, ou daqueles que singram o mar da vida espiritual na nossa região ou no nosso nível vibratório, é que ninguém pode melhorar bem e depressa, tão facilmente como quando procura sintonizar com o Deus ou Pai que traz no seu íntimo. Quem sente que tem o Pai em si e que está mesmo a Ele ligado fundamentalmente, e que Ele nada mais pede aos filhos do que Verdade, Amor e Virtude, esse é o que mais consegue em Paz e Ventura. E se não foi outra a lição do Cristo de Deus, não adianta querer, em muitos casos, fazer compreender essa realidade feliz, aos que trouxeram do mundo suas enraizadas concepções sectárias, suas pretensas infalíveis tabelinhas salvadoras.
Naquela manhã, o primeiro a ser atendido no Departamento Inicial, uma escola de iniciação à reintegração na vida espiritual, foi um israelita. O seu problema eram a bebida e os charutos, pois havendo-os proibido terminantemente o médico, ele passara para este lado com os seus desejos em dia, e, nos primeiros momentos e sintomas reacionais, reclamava-os, berrando para que a esposa os trouxesse. Delirava primeiro, revoltado e inconsciente dos fatos, para se acalmar depois, quando de tudo era servido, pois só não temos o que não queremos ter, ou aquilo que por determinação superior nos é proibido ter.
Logo após, entrava a doutrinação, fazendo ver que há importância em lutar contra todo e qualquer vício, por menos prejudicial que pareça ser, em primeiro lugar porque o Pai nos quer ver Espírito e Verdade, assim como Ele é, e em segundo lugar, porque regalias muito maiores estão ao dispor dos Seus filhos, regalias de todo espirituais, acima de vícios quaisquer.
Passado esse período, que a grande maioria tinha que passar, pelos lastros oriundos da carne, vinham as questões mais difíceis, aquelas de ordem passional e as de posse, pairando alto e prejudicialmente as de caráter religioso, as manias ou os vícios sectários. Com esse israelita tudo tornou-se fácil, pois tendo a concepção do Deus Informe ou IÉVÉ, e de que a Lei de Deus não manda observar cerimoniais exteriorísticos, presto colocou-se face a face com a idéia do Infinito em Tempo e Espaço, situando o sentimento de Amor no topo de todas as cogitações.
A separação dos entes queridos é uma das torturas de muitos espíritos, porém a noção de que ninguém morre e todos devem retornar à Pátria Espiritual, conforta e condiciona logo mais ao ideal, favorecendo a normalização da mente. Bem bom é reconhecer, ainda na carne, que o importante é o bem espiritual, o bem da entidade imortal, que deve prosseguir em demanda à Sagrada Finalidade, deixando quaisquer outras circunstâncias abaixo dessa. Ademais, quem pode fazer que as leis de Deus deixem de ter andamento normal? E uma vez reconhecido isso, há como que um mundo de Paz e Ventura à disposição do espírito que mereceu recolhimento, e coisa essa que deve aumentar ao Infinito, respeitando a lei de progresso lento, com o ir e vir da encarnação, tantas quantas vezes sejam necessárias, para dar-se o despertar integral da centelha espiritual.
— Então – perguntou o israelita satisfeito – o Reino de Deus a ser desabrochado no íntimo de cada um depende da Verdade, do Amor e da Virtude praticados, postos em função na vida social, acima de conceitos e de preconceitos humanos?
— Exatamente! – foi-lhe respondido.
Sorriu, gozou qualquer coisa que lhe ia no coração e comentou:
— Estou muito satisfeito! Ninguém sendo proprietário particular da Verdade, do Amor e da Virtude, algum dia os religiosismos terão fim e os homens compreenderão o sentido messiânico de Israel, apresentando Jesus Cristo ao mundo, como Divino Modelo da Origem Divina do espírito, do Processo Evolutivo, da Sagrada Finalidade a ser atingida e da Ressurreição Final do espírito.
Informaram-no, ainda:
— Lembre-se do Seu Batismo de Espírito, ou da Generalização da Revelação, no Pentecoste, depois de tornar como espírito. Leia com atenção o Livro dos Atos, porque a Igreja do Caminho, estabelecida sobre a Revelação, só começou depois do Pentecoste.
Fomos dali, da conversa com o israelita, tratar do mesmo assunto com outros religiosistas, outros escravos de vícios sectários, cada um pretendendo estar de posse da Verdade, capacitado a ensinar a Deus em lugar de aprender com Deus.
— Mas então eu fui burlado! Burlado!... – começou a berrar um ex-ricaço, que deixara estipulada no testamento, a quantia fabulosa que devia ser gasta em missas que deviam ser rezadas a seu favor.
— Quem compra idolatrias é como quem as vende, irmão Borges. E pode render graças a Deus, de ter amparado obras de assistência social, isso que motivou sua vinda a este plano de relativa Paz e Ventura. E se tivesse confiado apenas nos exteriorismos ritualistas?
— Quisera encontrar o bispo X!... – fremeu ele, pensando nos conselhos que o tal bispo lhe dera, para que deixasse a fabulosa soma com a qual, convertendo-a em missas, teria a Eterna Bem-aventurança.
Ensinaram-no:
— Basta ao errado o peso da própria culpa; ninguém precisa pesar mais sobre ele, nem tem esse direito, porque também não é um perfeito. E afora a questão pessoal, lembre-se de que o perdão é de ordem universal, porque se é certo a responsabilidade de cada um, também é certo que a humanidade é um organismo. Se uns não perdoarem aos outros, pelas mútuas falhas, como o todo virá a ser harmônico?
Ainda amuado, perguntou Borges:
— Então tudo é questão de fazer o Bem, em nome de Deus e pelas graças de Deus?
— E não pode haver o verdadeiro Bem, onde não haja o verdadeiro perdão, o perdão que é ir ao encontro do culpado, para fazer-lhe o Bem.
Ressentido, rogou Borges:
— Deixem-me algum tempo isolado, para meditar... Afirmo que hei de perdoar a ele e a todos, para que Deus me perdoe... Mas preciso de tempo...
Fomos a um outro, fardado de ministro de Deus, com as insígnias de certa organização sectária, fanático de repetir textos bíblicos, mas desleixado das devidas práticas, no trato com os semelhantes. Como fora a quinta conversação, a última segundo o programa, foi-lhe dito que as demais seriam em outros tempos, quando voltasse algum dia das trevas, pois para lá teria que ir inapelavelmente, se continuasse a pretender impor suas interpretações dos textos bíblicos, para safar-se de suas culpas.
— Como assim!... Como assim!... – principiou a dizer, aturdido.
Foi-lhe dito:
— Um bom lugar para os teimosos discutirem com a Justiça Divina é nas trevas abismais... E uma boa conduta religiosa é a imitação do Cristo, que foi parar no meio das gentes sofredoras, a dizer palavras de consolo, a enxugar lágrimas, a curar enfermos, a lembrar a Lei de Deus, ela que não indica fanatismo sectário algum, ela que foi transmitida pela Revelação...
Mardoqueu tinha o livro na mão e para ele ficou olhando, sem dizer palavra, e o instrutor acrescentou:
— O livro não tem culpa, ele ensina, apenas... Culpados são aqueles que fazem discursos longos, com o livro na mão, pensando que isso os desculpará de andarem de coração vazio... Culpados são aqueles que transformam o livro em cabide de suas vaidades e prepotências, aliando-se às politicalhas do mundo, usufruindo benefícios imerecidos, arrogando-se honras que o Divino Modelo não quis...
Mardoqueu apertou o livro contra o peito, retirando-se de rosto banhado. Tinha, por fim, compreendido a Divina Lição que o Cristo em si mesmo é, da qual Divina Lição os escritos nem sempre avisam fielmente.
E assim terminamos o dia de trabalho, advertindo, ilustrando e consolando o próximo, conforme o programa, isto é, colocando a Lei de Deus e o Cristo como medidas a serem observadas, para libertar os filhos de Deus do jugo infernal dos sectarismos religiosistas, do vício nefando das práticas ritualistas, que fazem esquecer o AMAI-VOS UNS AOS OUTROS.
* * *
O Cristo, como indivíduo, é um filho de Deus como os demais, que se elevou à Sagrada Finalidade, fazendo a evolução normal, isto é, cedendo ao Processo Evolutivo, através dos mundos e das vidas, portanto implicitamente sujeito às condições que os fatores circunstanciais jamais deixam de impor.
O Cristo, como Cristo Planetário, é o seu Diretor, pois como todos os mundos têm o seu, a Terra não deixaria de ter; é aquele conhecido como Jesus.
O Cristo, como funcionário encarnado, ou Jesus encarnado, funcionou como derramador do Espírito sobre a carne, ou generalizador da Revelação, tendo ainda testemunhado aquelas realidades que estão expressas no “CÓDIGO IMORTAL”, documento poderoso em síntese, mandado distribuir na Terra pela Mensageiria Divina ou Ministério do Espírito Consolador.
Tudo isso dá muito para falar no Cristo. Porém, como o Cristo Programa é que importa, eis que muitos teóricos do Cristo sentem-se por aqui apeados. A mente é fértil em capacidade imaginativa, o arcabouço histórico é poderoso, mas o coração permanece vazio, raquítico, faminto.
Foi Solano quem me convidou a visitar um sábio homem, recém-vindo da carne e sujeito a tratamento. Fora católico praticante, como poderia ter sido filiado a qualquer outra alcunhada escola religiosa, tendo passado a vida em ativos trabalhos de investigação, procurando a VIDA MAIOR, o porquê da infinita vida relativa que se estende pelo Cosmo Infinito. Um grande naturalista, um meticuloso dissecador, anotador de termos técnicos, etc.
Se todos os homens, sábios ou ignorantes, lembrassem de que há uma Ordem Moral nos fundamentos de todas as demais ordens, todos procurariam manter em dia a obrigação máxima, o sagrado respeito pela vida, a ponto de elevar esse respeito aos extremos da misericórdia. Entretanto, como em todos os departamentos de serviço é possível que os trabalhadores se desvirtuem, em nome da Ciência e da Arte muitos erros e crimes são cometidos. E a Lei de Harmonia, uma vez ferida, reagirá no curso do Espaço e do Tempo, colhendo o faltoso nas malhas de acontecimentos para ele estranhos e dolorosos.
A mania do complexo atrai as mentes novatas, assim como o gosto pela síntese coroa o pensamento dos espíritos mais evoluídos.
Toda e qualquer investigação deveria partir, portanto, da premissa de que em Deus tudo é Eterno, Perfeito e Imutável, nada havendo que possa conferir ao filho de Deus o direito de se julgar juiz de Deus ou da chamada Criação.
O direito de evoluir, de procurar e de encontrar as Causas Determinantes, para saber como tudo funciona, do Micro ao Macrocosmo, não é proibido por Deus, visto que Seus filhos deverão, normalmente, crescer e participar da Ordem Divina, como colaboradores do Pai Divino.
Existe, porém, muita diferença entre empregar ou não devidamente o trabalho de investigação. Orgulhos e vaidades podem prejudicar o bom êxito, bem como a rudeza no trato para com os seres vivos, pretextando austeridade científica.
Nada deve ser encarado como apenas formal, quando se trata de manusear a vida, seja em que sentido for. A matéria inorgânica é uma, a orgânica é outra e as centelhas espirituais são ainda mais respeitáveis. Antes de mais nada, os termos técnicos do homem ou as suas concepções sobre a vida, não foram usados pelo Emanador, para manifestar de Si Mesmo a Emanação. Portanto, ninguém lida com o que é Emanado, sem se comprometer perante as leis regentes da Emanação.
E o nosso irmão dissecador, exagerado dissecador, além de ser apenas isso, porque a sua religião era sujeitar-se aos formalismos litúrgicos, ainda rompia em blasfêmias horripilantes, por causa das dores que sofria. As cãibras o levaram aos fortes medicamentos, e estes à intoxicação, e esta ao desencarne. E tudo ficaria por aí mesmo, se o espírito fosse mortal...
Por força das atenuantes, foi recolhido a um local de tratamento, porém sofrendo ainda horríveis ataques cãibrinos. E até a nossa visita, o tratamento ordenado fora o passe magnético, o sedativo passe magnético, nada mais. Que fosse lendo os bons livros de nossa biblioteca, nas melhores horas, pois devia muitos sofrimentos, que impusera a inocentes irmãozinhos, a título de encontrar a VIDA MAIOR no bojo das vidas infinitamente múltiplas.
Há uma promessa do Senhor Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente, no Velho Testamento, sobre retirar da Terra o espírito imundo e os animais daninhos, quando os homens se tornarem mansos e humildes. E nós, por aqui, chegamos a conhecer lições tremendas, quando encaramos a vida e suas manifestações, pelo prisma da Ordem Moral. De tal modo a vida é respeitável, por aqui, que podemos afirmar que o respeito que a Ciência da Terra confere à vida é apenas formal e exterior, havendo quase nada de restrições em contrário. Portanto, a palavra da Revelação fica de pé, de modo algum estando aqui alguém que pretenda julgá-la!
E o quadro, naquele momento, era estarrecedor, porque as dores cãibrinas interiores forçavam o sábio a caretas e trejeitos exteriores.
— Venham!... Venham!... Eu morro!... Morro!...
Solano informou, pela milésima vez:
— Já morreu, já morreu... Mas, como sabe, a morte é aparente...
— Raios! Mil raios... Dez mil raios!... Quinhentos mil!...
Solano ordenou colocar as mãos na cabeça do sábio, projetando sobre ele tudo quanto fosse possível dos eflúvios benéficos individuais. E dentro em pouco estava bem, estava livre, sorria e conversava muito.
Foi então que Solano avisou-o:
— Hoje, irmão... é um grande dia para você; vai ver coisas de si mesmo, de sua vida, findando as dores cãibrinas...
Por aqui é muito fácil rir ou chorar, porque a sensibilidade aumenta tremendamente. E quando ouviu dizer que ia sarar, assim como praguejava fácil, também facilmente começou a render graças a Deus, derramando copiosas lágrimas, pronunciando palavras de agradecimento.
Três servidores trouxeram um aparelho, colocaram-no ao lado do enfermo e logo mais ligaram-no à corrente elétrica. Nós fomos colocados ao redor, com a incumbência de fornecer elementos fluídicos para as imagens que deviam ser refletidas no painel.
Assim acontecendo, o sábio viu ele mesmo a fazer dissecações, torturantes e longas dissecações, observando os tremores, as repulsões, os desmaios, tudo aquilo que as torturantes dores causavam nos pobres animaizinhos. Havia nele um bem acentuado gozo por aquilo tudo, chegando a fazer tais experiências, mais por sadismo do que mesmo por gosto e por finalidade científica.
Ao término, cabisbaixo, murmurou:
— Quanta tortura, meu Deus, causei aos pobrezinhos!...
Solano comandou:
— Repitam o trabalho!
E tudo começou de novo, porém com um acréscimo, que era penetrar mais nos fatos, pois os espíritos eram vistos sair dos corpos, com a morte, depois dos tremendos sofrimentos. Eram coelhos, lebres, tatus, sapos, répteis, ratos, jacarezinhos, peixes, aves, etc. Todos tinham algo de essencial, de espiritual, que abandonava os respectivos corpos, saindo alegremente, correndo, disparando, etc.
O sábio tinha o rosto banhado em lágrimas, quando fomos embora, deixando-o entregue aos pensamentos, com a certeza de que não mais sofreria ataques de cãibra. E como era de supor, Solano foi-nos dizendo muito em termos doutrinários, sobre a vida essencial e as realidades de Deus, que não dependem de tecnologias humanas, e da Paz e da Ventura que viremos a usufruir um dia, quando soubermos colocar o Amor acima de tudo, para jamais causarmos uma dor, seja em quem for, maior ou menor na escala evolutiva.
Apesar das lições, comentei o fato de ser a Lei muito rigorosa em suas cobranças, razão por que Solano lembrou-nos:
— As verdades doutrinárias fundamentais são sempre as mesmas, desde milênios; isto é, desde que foi sendo possível ministrá-las. Por exemplo, considerem o que ensinavam e ensinam as tradições hindus, às quais estamos profundamente ligados, nós do Brasil, em virtude da Atlântida. E por lá diziam e dizem, que a Verdade é cortante como o fio da navalha, e que o verdadeiro por ela anda, sem se cortar.
— Isso diz respeito à Perfeição que o espírito deve atingir? – perguntei.
Solano sorriu, dizendo após:
— Sim, à Perfeição que ainda está bem distante de nós, que ainda palmilhamos os rincões menos evoluídos da vida. Assim sendo, como viram e como vêm em nós mesmos, a Justiça Divina não nos pede nada em sentido absoluto. Não temos a Perfeição realizada e não sofremos pelo que ainda não temos de dívidas. A Justiça Divina, portanto, age em nós e para conosco relativamente, sendo forçoso dizer que é bem-aventurado quem conserva o menor resquício de boa vontade em suas obras, pois por esses resquícios virá a ter a sua dose de compensação.
— Então, ainda estamos ensaiando andar sobre o fio da navalha?
— Sim – respondeu ele – creio que andamos sobre largos trilhos, por ora, como exercício ou treinamento, para irmos aprendendo a andar sobre o fio da navalha, isto é, para vivermos segundo a Reta Suprema, que é a Verdade que livra. Tudo, portanto, em caráter relativo, tanto os méritos como os débitos, e por conseguinte o plano de Paz e Ventura em que nos encontramos, que virá a ser, com os progressos contínuos, de plena Paz e de plena Ventura, assim como nenhuma palavra humana pode interpretar.
Quando chegamos ao Departamento, havia um aviso para mim, ordenando comparecer à sede da Governadoria, assim que os trabalhos permitissem; e a permissão veio de Solano, que me liberou por alguns minutos.
* * *
Chegado à Governadoria, fui informado de que Noêmia estava com a volta marcada para breves horas, tendo o Governador nomeado uma comissão de recepção, pois Noêmia saíra de sua esfera de vida espiritual, que era muito acima daquela em que nos achávamos, onde ele desempenhava a função de Governador da Região. Todos já devem saber que muitos são os que desempenham funções em esferas inferiores, por variantes fatores; mas é de salientar que os Governadores o são por indicação de Autoridades Superiores, visando a influência vibratória, o tom hierárquico indispensável. Um Governador é mais do que um simples administrador formal, porque os visos da Divina Paternidade se escoam pelos elos decrescentes, a começar do Cristo Planetário, passando pelos Seus Imediatos e por aí adiante, até chegar ao que diríamos ser o último da escala administrativa.
Na face da Terra as coisas se passam de modo diferente, porque a brutalidade da matéria densa encontra apoio na inferioridade moral dos espíritos; e assim sendo, em tudo se curvam ao imediatismo das formas, dos rótulos, das aparências, de modo a truncar a influência essencial, os méritos da Verdade, do Amor e da Virtude, que são aqueles que deveriam tutelar todas as atividades humanas, a fim de criar, conseqüentemente, um ambiente realmente cristão.
Todavia, como o ideal é a Perfeição, ainda no erro se encontram os vestígios do que é Certo, pois quem pensa em depor uma autoridade, pensa de antemão em colocar uma outra no lugar. O mal é que tudo parte do imediatismo formal, objetivando vantagens materiais, ou mesmo despeitos e desforras, quando tudo deveria visar os supremos destinos do espírito. E é por isso que vemos nos abismos da subcrosta e nos umbrais, elementos fartos de sabedoria formal, autoridades em política e terminologias científicas. Não é que o mal esteja em querer ser sábio ou administrador, pois todos terão que aprender de tudo, que essa é a Finalidade Sagrada do espírito; porém, sem partir do Amor como premissa, jamais alguém atingirá o Divino Epílogo.
Desta sorte, qualquer mente pode imaginar a função do Cristo quando encarnado, ou de Sua conduta, pois sendo o Administrador Planetário, renunciou a todos os títulos e dispensou todas as prerrogativas do Reino do Mundo, em troca do Reino do Céu, que Lhe custou a crucificação. É que sabia muito bem para onde costumam ir os mandatários do Reino do Mundo, em sua imensa maioria, que é para as regiões de sombra e de dor, de pranto e ranger dos dentes!
Tudo pode servir de ferramenta perante as realizações que nos cumpre colimar, porém é bom lembrar o quinteto máximo: Bolso, Estômago, Sexo, Orgulho e Egoísmo. E como ninguém poderá atingir o Grau Crístico, sem usá-los a todos, devemos estar sempre alerta, para controlá-los, e não para sermos controlados por eles. A Lei de Deus e o Divino Exemplo do Cristo, somente disso é que tratam, nada mais e nada menos, embora os traficantes de mercadorias religiosistas possam dizer em contrário o que bem quiserem, para defender suas traficâncias. Mas, lembrem-se, também a respeito deles podemos e devemos afirmar que as regiões de treva funcionam em benefício do Reino do Céu. Eles, mais até do que outros, costumam fazer longos estágios nos lugares tenebrosos!
Entretanto, vamos ao caso de Noêmia, que afinal de contas não trocou a primogenitura do espírito pelo prato de lentilhas, como fazem muitos daqueles que pretendem passar por sábios e poderosos do mundo.
Se Noêmia sempre fora dócil aos preceitos do Céu, a meu ver, enquanto estava eu encarnado, muito mais disso me convenci, depois de haver desencarnado. E com a minha desencarnação, tendo ela procurado a velha lavadeira, tudo subiu de monta, pois começou a distribuir dádivas aos pobrezinhos, como melhor podia, mesmo enfrentando a má vontade dos parentes, que a chamavam de discípula do Diabo, instigados pelo novo padre. Foi em frente, ouviu o Consolador que adverte, ilustra e consola, tendo atingido a hora final rodeada de muito carinho de ambos os lados da vida.
Espírito bastante tarimbado, tendo tido vidas em companhia da Grande Mãe Maria, ela sonhava com Maria freqüentemente, assim dizia. O certo é que trabalhava sob a sua orientação, como acontece com muitos milhares de seres encarnados, pois a Grande Mãe, como a denominam por aqui, comanda as legiões que socorrem nas trevas, usa bastante os fluidos humanos para fins de serviço nos lugares tenebrosos.
Fui ao encontro de minha esposa, mas a princípio fiquei acanhado, porque suas companhias espirituais, que vieram beirar o leito dito de Morte, embora reduzidas em suas luzes e maravilhas espirituais, deixavam muito longe a minha pobreza de espírito. Mas como o Reino do Céu vai em Medidas de Amor para muito além das concepções que dele fazemos, eis que me vejo, num repente, envolvido pelas comandadas de Maria. A simplicidade gloriosa dos espíritos maiores é impossível de ser descrita, mas é fácil observar que a grandeza de luzes e graças corresponde ao montante de simplicidade com que se portam.
Quando tudo parecia transpor os limites de minhas idéias, pois eu todo fremia de envolvimentos celestiais indizíveis, o Céu vem sobre mim na pessoa maternal de Maria, com os braços estendidos, os olhos feitos de amor e o sorriso de Mãe a convidar para o banquete das harmonias que somente as minhas lágrimas traduziam, e os meus joelhos prontos a se curvarem, o que não fizeram porque ela ordenou em contrário, dizendo:
— Filho meu querido... Todos somos iguais perante o Pai Divino e a Divina Direção Planetária do Cristo... Uns teremos avançado mais, outros menos, porém a Origem é a mesma, o Processo Evolutivo é o mesmo e a mesma é a Sagrada Finalidade de todos os filhos do Pai Amantíssimo... Queremos amor e não exaltação... Desejamos chegar, mas vocês nos repelem, julgando-nos filhos especiais do Pai...
Eu queria falar, mas as palavras não saíam, tal a profundidade da emoção que a sua maternal presença me causava; e foi ela quem apanhou a minha direita, dizendo:
— Vai tirá-la do cárcere, meu filho... Eu quero que sejas tu o libertador de Noêmia...
Ela fez tudo, eu nada fiz, pois estava aturdido, inundado de amor, as faces regadas de lágrimas quentes, escaldantes, ferventes. E quando menos esperava, tive Noêmia nos braços, mas não a Noêmia da encarnação, a Noêmia da carne e ossos densos, porém uma Noêmia angélica, feita de luz e deslumbrantes graças.
A caravana partiu, subiu, entre cânticos de boas-vindas e alegrias inenarráveis. Subi com aquela embalagem celestial, aquele ouro e azul divinos, sem saber ao certo como. Foram depositar Noêmia na presença de um Grande Mestre, Imediato do Cristo, que lhe passou as palavras do mesmo Cristo, felicitando-a pela vitória e prometendo Sua visita, assim que estivesse refeita das emoções do momento. E a Grande Mãe veio a mim outra vez, singela e gloriosa, para informar:
— Noêmia vai dormir um pouco, muito pouco, meu querido filho; e tu a esperarás algumas horas. Vai e trabalha, faze o que podes pelos pequeninos, pois o Pai assim quer e nós só podemos crescer quando realmente fazemos pelo crescimento de nossos irmãos...
Ainda assim, assaltado pela emoção divinal, não pude falar, não pude agradecer. Ela chegou-se, beijou-me a testa e admoestou, com aquela carícia vocal que parecia um dilúvio de amor maternal:
— Quero que me ames, filho, pois é da Vontade de Jesus, o Verbo do Pai neste Planeta, que eu represente nele a Gloriosa Maternidade; mas não deves portar-te assim, exaltando-me desse modo... Virei a ti dentro de poucos dias, mas espero que te portes como filho do Pai Único, vendo em mim a irmã, apenas a irmã que evoluiu mais, sem ter porém, afora isso, nada mais do que todos os filhos d'Ele. E podes estar certo, também, que o mesmo é o pensamento e a palavra de Jesus, o nosso Diretor. Qualquer outra consideração, portanto, será de ordem hierárquica e administrativa, mas fundamentalmente somos todos irmãos, filhos Daquele Pai que a ninguém emanou especialmente. Procura amar bastante, filho, mas deixa a exaltação de lado, que ela muito nos separa, e isso muito prejudica...
Creio que vi uma réstia de tristeza em seu meigo olhar, naquele momento, e a prova tive-a na sua palavra, pois ela afirmou, em seguida:
— O amor aproxima e a exaltação separa, filho meu... Dize a todos os filhos do Pai Divino, a todos os comandados de Jesus, que a ordem é muito amor e nenhuma exaltação... Onde quer que alguns já estejam, na hierarquia planetária, para ali todos terão que ir, porque essa é a lei. Vai, filho, e espera trabalhando o bom trabalho, que dentro em breve irei ao teu encontro e ao encontro de todos aqueles que desejarem a minha companhia...
Já foi dito que as Glórias Divinas são manifestadas pelos Espíritos Divinizados; é o que podemos reafirmar, e reafirmando queremos respeitar o fator hierarquia sem, de modo algum, julgar que o Pai Divino tenha emanado filhos especiais. A emoção que tive de enfrentar, muitíssimos já enfrentaram e todos os espíritos em processo evolutivo a enfrentarão, porque as luzes espirituais são como forças tremendas, potencialidades energéticas que parecem transformar-se em amor, mas em amor divinizado, que só se pode reconhecer o que seja ao senti-lo. E assim mesmo ressalvamos que o sentir depende do grau de penetração de cada um. Quem não sintoniza não sente, e ninguém sintoniza com o que quer, porém com o que pode, conforme o seu grau de evolução íntima. E esta, bem ao contrário do que afirmam os negocistas do religiosismo terrícola, retrato fiel do paganismo retrógrado, filho retardado das eras primevas, só se consegue com as boas obras, só se adquire com o bom procedimento social, que é como o afirmam a Lei de Deus e o Divino Exemplo do Cristo.
Ao retornar aos meus afazeres, deslumbrado por tamanhos acontecimentos, sentia em mim estranhos sentimentos; é que vivia em um plano intermediário, tendo os filhos na crosta e a esposa em planos muito superiores. Dentro de mim havia como que uma estação telefônica, com suas ligações diametralmente opostas, porém controladas por uma central poderosa, que era representada por um amor maciço, poderoso, confiante e capaz de remover montanhas.
— Isso é normal – disse-me Silvestre, quando lhe contei o que vinha acontecendo nos meus domínios emocionais.
E entrou em detalhes:
— Afinal, Artur, é fácil observar a Sabedoria de Deus nisso tudo, pois estando ligado para baixo e para cima, pelos laços de família, está apenas dando seguimento ao Plano Divino, que misturando maiores e menores, favorece a uns e a outros, uns crescendo pelo fato de ensinarem, e outros tendo com quem aprender. É o maravilhoso mecanismo da lei que, sem falar alto, pois Deus não faz discursos, a todos envolve e favorece com as sagradas oportunidades da vida, da grande mestra.
Depois de considerar bem a questão, comentei:
— Se os homens soubessem como tudo é divinamente simples!
Ao que Silvestre aduziu:
— Enquanto a Verdade Única força à união, os homens se dividem por causa de múltiplos interesses subalternos... Enquanto a Moral, o Amor, a Revelação, a Sabedoria e a Virtude conclamam à unidade, o Bolso, o Estômago, o Sexo, o Orgulho e o Egoísmo proclamam as separações... São cinco contra cinco, que a evolução há de obrigar ao entendimento, para funcionarem a bem do espírito, pois os fatores positivos e os negativos, conjuntamente, ou bem usados, terão que produzir todas as vantagens imorredouras dos filhos de Deus. Isto porque, entenda bem, nenhuma força deve ser destruída, mas sim bem orientada! Aquele, pois, que mais depressa transformar a fase negativa de uma lei em fase positiva, esse torna-se maior. A grande questão não é apenas jogar, mas sim jogar bem!
E nos despedimos, porque tínhamos o que fazer, em setores diferentes na aparência, mas iguais na realidade, porque ambos lidávamos com irmãos sofredores, uns de certo modo, outros de outros modos, porém todos eles por causa de íntimas desarmonias, de marcantes desajustes em face da Lei de Deus.
* * *
Em face da Lei de Deus não quer dizer em virtude de ter um credo religioso ou deixar de tê-lo; e isso se verá adiante, através de fatos, mas de fatos inapeláveis, apresentados diante da Justiça Divina, nestas plagas de Luz e Realidade, onde as burlas do mundo não podem influir.
Silvestre convidou-nos, dias depois, para auxiliar no recolhimento de um irmão, que se encontrava a quinze anos e poucos meses nos umbrais, para onde se baldeara pelas obras que praticara.
A partida do grupo deu-se entre alegrias, até atingirmos a fronteira das trevas, a algumas centenas de quilômetros da crosta, para fora da crosta. Ali foi colocada, na boca de um dos cães amestrados, uma peça de roupa, a parte astral, do irmão a ser de lá retirado.
E a descida foi sendo feita, com aquela prudência que caracteriza os trabalhos em tais lugares. Uma vez soltos os três cães, no lugar adequado, imediatamente tomaram direção a uma vala escura, muito mais escura do que o normal do ambiente, e que além de mais escura, emitia uivos e fumaças mal cheirosas.
Dentro em pouco vinham os cães arrastando um fardo, uma carga esfarrapada e mal cheirosa; era o tal irmão, ex-funcionário de rendas públicas, que em companhia de outros, um grupo coeso, traficava com a função, vendia o dever, etc., se bem que fosse categórico afirmador das verdades espíritas.
Depois de conduzi-lo a lugar melhor, claro mas não muito, de dar-lhe banho e roupas limpas, fomos com ele ao Centro Espírita onde ainda, muito velhinha, funcionava a velha lavadeira. Embora quase centenária, estava bastante forte e suas maravilhosas faculdades em plena ação. E ao seu redor, como que agrupadas por mãos celestiais, pessoas de bom quilate moral e esplêndidas faculdades também.
Assim que demos entrada, não no local material, a sala muito pobre, mas sim no ambiente psíquico, luminoso e serviçal, alguns videntes anunciaram a presença de todos nós, “conduzindo um irmão que tinha tudo de muito sofredor”.
E sobre a Mesa Astral, farta em apetrechos e instrumentos socorristas, como sói acontecer nos bons Centros Espíritas, foi colocado o irmão sofredor, deitado em branco lençol também astral, ou feito de nossa matéria. Após, o Guia do Centro retirou dos corpos três espíritos, pô-los ao redor e comandou:
— Vocês já sabem que os espíritos encarnados, onde quer que vão, fornecem elementos fluídicos animais, altamente magnetizados, mormente quando devidamente comportados perante o Senhor Deus. Vocês, felizmente, estão de boa conduta perante a Lei... Portanto, uma vez mais, estendam as mãos na direção da cabeça desse precisado filho de Deus, nosso irmão.
Dos componentes da Mesa saía uma faixa nebulosa, onde se misturavam o azul, o verde e o vermelho vivo, que atravessando os três corpos, vinham também passar pelos respectivos espíritos ou seus corpos perispiritais, saindo pelas pontas de seus dedos, em forma de jorro avermelhado brilhante, que essa é a cor do fluido vital. E entrando pela cabeça do irmão, se distribuía pelo corpo todo, vendo nós que atingia as células mínimas, como se fosse vida, algo por demais fluídico para ser considerado como matéria fluídica.
O ambiente todo, o astral, era uma poderosa oração endereçada ao Senhor do Infinito, por isso mesmo que sendo Onipresente, Onisciente e Onipotente dá a cada um segundo as obras e o merecimento.
— Basta! – comandou o Guia do Centro, a certa altura.
Todos desviaram as atenções, os três encarnados retornaram aos respectivos corpos e o irmão foi por nós retirado, havendo-nos retirado também, depois de agradecer ao Guia do Centro a cooperação.
Silvestre foi até a velhinha, envolveu-a com as mãos luzentes e beijou-lhe a testa enrugada, com uma ternura que não se pode descrever. E ela, que via tudo, com outros que também viam tudo, rendia graças a Deus, a Jesus e a Maria, por tamanhas e “imerecidas alegrias”.
Observando aquilo tudo, lembrei-me de Jesus, quando louvou a Deus pelo fato de revelar as grandezas do Céu aos simples e humildes, escondendo-as aos que se julgam grandes. Aquela pretinha encarquilhada por fora, brilhava por dentro e por fora, revelava um coração imenso que se desfazia em ondas multicores, enquanto que, feliz ou infelizmente, temos visto os rotulados do mundo, os que se presumem donos da Verdade, porque levantam paramentosas instituições e encarapitam sobre elas rompantes estatutos, temo-los visto, repito, fardados de cores escuras e acompanhados de menos felizes companhias espirituais.
O Reino do Céu continua e eternamente continuará a pertencer ao Amor; e quando os homens, que se acreditam sábios, reconhecerem que a sabedoria do homem é de fato estultícia perante Deus, como ensina a Escritura, então tratarão de tomar o rumo certo. Mas, ao chegarem tardiamente ao Templo do Amor, lá encontrarão aquelas crianças de que falou Jesus, e aqueles simples e humildes a quem o Pai Divino desde muito revelara Suas Glórias, Glórias que não respeitam os tratados humanos, empanturrados de mil e um pernosticismos terminológicos, com os quais tudo fazem para acobertar a falta de Amor, do Amor Vertical de Deus, que desconhece as rompâncias dos preconceitos humanos.
Quando saímos com o irmão socorrido, fomos colocá-lo à beira de maravilhoso lago; e Silvestre fê-lo dormir, aplicando-lhe passes magnéticos.
— Quando acordar – disse – terá a impressão de ser outro, tal o estado de saúde em que se irá encontrar.
— E deverá sentir-se feliz! – exclamei, julgando a coisa a meu modo.
Silvestre abanou a cabeça e observou:
— Isso é outro problema, pois ele terá que se lembrar, enquanto não reencarnar de novo, que foi um funcionário altamente corrupto... E o fará, ainda, sob a noção de que conhecia as verdades espíritas...
Compungido, fiquei olhando para Silvestre, e foi ele mesmo quem, ponderoso e sentido, comentou:
— O Espiritismo é a Igreja do Caminho restaurada, que montada sobre a Revelação generalizada por Jesus, adverte, ilustra e consola. Isso, apenas isso, nada fora disso!
— Realmente, irmão Silvestre – concordei.
Algo severo, erguendo a mão direita em sinal de alerta, volveu:
— Lá está afirmado, no capítulo final do Apocalipse, que a cada um será dado segundo as obras que praticar; e como mais será exigido daquele a quem mais haja sido dado, bem podemos saber que somos obrigados a ser juízes de nós mesmos, através de nossas mesmas obras. Portanto, a saúde foi devolvida ao nosso irmão, mas a saúde exterior... A saúde do espírito, da consciência, ele terá que arranjá-la à custa de trabalhos ressarcitivos, no Espaço e no Tempo!
— Bem compreendo agora, irmão Silvestre, que andar em dia com as letras bíblicas, apenas em teoria, nada mais representa do que aumento de responsabilidade.
Ainda sob forte impressão, Silvestre acrescentou:
— Sim, buscar a Verdade que livra, na expressão do Cristo, não é procurar o exterior da Verdade; porque ela, apenas conhecida, já meteu, mete e meterá muita gente nas trevas exteriores, muitos espíritas também, pois a Justiça Divina é acima de sectarismos quaisquer.
E como viessem ao encontro dois guardas da campina, fomos andando com os mesmos, aproveitando eu para aspirar aquele ar maravilhoso. Demos, após, com as vistas numa estela alvíssima, plantada entre rosas e lírios, brancos e rosa em suas cores, emprestando ao local um sentido superior, um misto de mais beleza ambiente e mais um toque de espiritualidade.
— Leia a inscrição – disse-me Silvestre.
Em letras douradas, ressaltando do branco alvíssimo do material de que era feita a estela, estava lembrada a sentença do Cristo:
“E o que quereis que vos façam a vós os homens, isso mesmo fazei-o vós a eles”
Silvestre acompanhou o meu gesto, observou a minha reação e ficou aguardando a minha opinião; como me calasse, perguntou:
— Que mais te impressiona nessa recomendação do Cristo?
Pensei e respondi, sem ter a pretensão de analisar totalmente o seu sentido:
— O sentido de Justiça Universal, irmão Silvestre.
Ele assentiu com um movimento de cabeça, acrescentando:
— Sim, sim... Fala ao sábio e ao ignorante com a mesma absoluta regularidade, lembrando a obrigação de exercitar a Justiça Elementar, que a todos atinge e responsabiliza, menos aos mentecaptos ou dementados.
E fazendo silêncio, encarou-me com agudeza, indagando:
— Quem colocou isso aí e por quê, Artur?
— Não sei, irmão Silvestre.
Abraçou-me, com emoção profunda, informando a seguir:
— Fomos nós dois, faz alguns séculos! Essa estela marca o nosso reencontro com a Paz e a Ventura, irmão Artur. Foi aqui, nos Céus do Brasil, que dois juízes venais, vindos da Europa, tornaram a ver as benditas claridades e se rearmonizaram com a Paz de Deus! E o irmão que recolhemos hoje, Artur, é um dos comparsas de velhos crimes, que ainda não está melhor recuperado... Foi então meu pai carnal e teu tio... E eu desejo que ele também venha a ter em grande conta este marco plantado no seio desta campina florida!
Estava com o rosto banhado, em sua testa vincos profundos se mostravam, mas o semblante, em seu todo, era de muita alegria; ele sentia que mais uma vez estava festejando o reencontro com a Lei de Deus, que não faz discursos nem inventa rituais, porque é acima de ginásticas humanas.
— Hoje é, para mim, um grande dia! Embora Francisco tenha falhado no mesmo sentido, traficando com a função, já mereceu socorro e logo mais o teremos entre nós, trabalhando para ressarcir as faltas e lutando para desabrochar o Cristo que tem dentro de si mesmo.
Eu nada mais fazia do que fitá-lo, sentindo dentro de mim que muito o estimava, principalmente porque ele, acima de tudo, desejava melhorar e fazer melhorar.
Depois de enxugar o rosto, apanhou-me pelo braço e fomos caminhando; enquanto íamos pisando o maravilhoso tapete, ele comentava:
— O Infinito, se é problema, é para o Nosso Pai Divino... A nossa parte, Artur, que é muito relativa, ninguém a fará por nós! E se nos lembrássemos sempre de uma palavra que é composta de apenas quatro letras, quanta dor de menos, para nós e para os nossos queridos!
— Sim, grande amigo, os homens em geral fazem questão de ser sábios ou complexos, e isso fá-los esquecer do Amor, da única medida redentora, pois que os Grandes Mestres ensinam, mas não podem realizar por ninguém.
E quando chegamos ao Departamento, um bom aviso nos esperava; é que Noêmia estaria à minha espera, em hora certa e lugar certo, para onde eu seria conduzido por uma pessoa que me viria buscar.
* * *
Há uma questão que todos levantam, quando a lembram, assim que chegam a estes rincões de Paz e Ventura; é perguntar em que paragens da erraticidade maior estariam, se não tivessem cometido erros e crimes. E foi nisso que andei pensando, depois de pensar no irmão socorrido, pai carnal de Silvestre e meu tio. Todos nós, funcionários venais, onde estaríamos, sem o peso das venalidades?
— Quem poderia aquilatar isso de modo exato? – respondeu perguntando Silvestre, quando lhe formulei a pergunta.
— Bem, não é certo que somos, nesta região, espíritos em ressarcimento?
— Nem há dúvida! – retorqui.
— Isso até parece “psitacismo”! – lembrou alguém, que estava conosco.
— Que bicho é esse? – perguntou um outro, curioso, rindo-se a valer.
E o pai da questão explicou que era um assunto que não é assunto, uma explicação que não explica, um fato que não tem sentido de fato, uma farra em matéria de falta de bom senso e lógica.
— Então é sabedoria humana! – gritou alguém, cujos sofrimentos lhe garantiam o direito de assim dizer.
Graças a Deus, naquela hora vieram chamar-me, para ir ao encontro de Noêmia, que me esperava. Se eu estava ansioso, com o aviso tornei-me nervoso, excitado e acho que até perturbado mental. Os grandes espíritos vivem para as questões coletivas, morrem carnalmente pelos ideais universais, gozam até o sofrimento pelas causas que hão de frutificar nos milênios porvindouros; mas eu, que vinha das enxurradas do crime, apenas sentindo que devia ser o mais honesto possível, sentia que tinha na minha querida Noêmia, o meu Anjo Guardião de todos os momentos.
Quem me veio buscar era uma jovem deslumbrante de beleza espiritual, um pedaço bem grande das Altas Esferas, isso eu podia compreender, pois se tudo nela se caracterizava pela beleza exterior, muito mais fluía nela a beleza interior, que os seus olhos feitos de absorvente irmandade obrigavam a sentir. Era uma bela jovem, porém muito mais uma poderosa força mental, que obrigava à convergência de seus elevadíssimos pensamentos.
— Comande como bem quiser, senhora! – disse-lhe eu submisso.
Com aquela meiguice que caracteriza os espíritos das Altas Esferas, ela me apanhou pelo braço, sussurrando:
— Sou sua irmã... Apenas sua irmã... Venha comigo e partilhe francamente da minha irmandade simples e humilde...
Ela devia saber o que ia pelo meu pensamento, tremendamente arrebatado pela sua deslumbrante simplicidade e humildade, bem diferente das pessoas que eu lembrava do mundo, que até das patifarias faziam alarde e motivo de orgulho.
— Ainda me ressinto das formalidades e, também, das grosserias do mundo, minha doce irmã – disse-lhe eu, procurando vencer minha inibição.
Com aquela graça infinitamente simples, que se tornava som vocal, ela disse:
— O mundo terrícola, onde muitas vidas vivi, e ao qual ainda pertenço como cidadã de uma faixa astral, marcha muito lentamente no rumo da Perfeição; mas os que fizerem força para evoluir, isto é, os que confiarem nas obras de Amor, certamente avançarão, rumando para as vizinhanças do Plano Crístico, onde a vida é imensamente distinta dos planos inferiores. Há um sentido de Paz e de Ventura em toda parte, nos Reinos de Luz, mas a variação das intensidades se afirma cada vez mais, caracterizando a sublimação do meio ambiente, eterizando a matéria astral, até atingir o Plano Crístico, onde nada mais há que se caracterize pela forma ou pelas construções formais.
— Que fazem os habitantes do Plano Crístico, irmã? Nem sei como perguntar isso, mas a mim parece que é justo perguntar, pois um pouco mais de elevação me embaraça a mente e parece me afogar o coração...
Eu notava que íamos subindo, não verticalmente, mas em boa porcentagem, pois os lugares eram cada vez mais belos, mais ricos em tudo, salientando-se as flores e as águas, as vestimentas dos seus habitantes, a policromia geral, o sentido de penetração das faculdades espirituais.
Antes de responder, ela me envolveu pela cintura, enlaçou-me com o braço direito, e eu senti que ganhei uma nova energia, um certo poder de harmonia, dessa harmonia que vinha perdendo, com a subida gradativa, com o aumento das luzes e dos esplendores locais.
— Os Cristos ou espíritos cristificados, irmão, são as Potências Celestiais que infundem a vida e coordenam o movimento das galáxias, dos sistemas, dos mundos, de tudo quanto tem sentido material, essa matéria complexa que é a ferramenta dos espíritos em processo evolutivo. Embora tudo seja em Essência manifestado pelo Ser Absoluto ou Deus, as comunidades crísticas comandam o Cosmo, vigiam e controlam os movimentos universais. E dizem, porque eu ainda estou longe dessa ordem vibratória, que o Cristo Planetário é o Elo que liga a humanidade planetária às comunidades crísticas, e estas, por sua vez, ao Ser Absoluto, que embora sendo Onipresente, é essencial demais para ser atingido pelos Seus filhos de menos extensões vibratórias.
— Todavia – disse-lhe – por aqui podemos sentir a Presença Divina com uma facilidade enorme. Sentimos Deus até sem querer!...
— Sim, muito relativamente, irmão Artur... Cada um vai, ou cada habitante de cada faixa, até onde pode... Eu não suportei, faz dias, um forçamentozinho de alguns graus. Todos chegaremos lá, sem dúvida, mas o trabalho de burilamento individual é indispensável.
— Sim, eu compreendo isso; mas, mesmo assim, tudo por aqui é muito mais fácil de sentir. E como seria mais fácil ou prático, para avançar mais no sentido da Divindade Onipresente?
Parando na marcha lentíssima, porque a viagem estava sendo feita lentamente, por motivo que ela devia saber perfeitamente, e que eu creio que fosse para facilitar aprendizados, ela falou-me:
— Sobre os planos superiores ao meu, nada digo, mas para a gente do meu plano de vida, o melhor modo de atingir mais no sentido da Divindade Onipresente é uma questão de atingir mais sobre os mais elevados espíritos que nos visitam. É comum dizerem que o brilho dos Altos Mentores é o reflexo que eles já conseguem manifestar do Divino Brilho de Deus. Assim sendo, cada um reflete Deus ou filtra-O, segundo o seu grau de evolução. E é reconhecido, também, que nada pode mais refletir o Deus Onipresente do que os Seus filhos, os espíritos. E se você quiser experimentar, eu lhe servirei de instrumento de experiência... Tanto basta olhar para mim, que irei me revelando mais como realmente sou, até que suporte, quando então tornarei a me restringir...
E assim foi feito. Ela começou a brilhar de modo estranho, depois a perder a forma humana, depois tomou a forma de brilhantíssima estrela... Mas quando a estrela foi aumentando o brilho, não mais suportei, e não só pedi que parasse, como senti que meus joelhos queriam dobrar-se, o que ela não permitiu, afirmando que somos todos irmãos, sendo o Pai um só, que é Deus.
Quando tudo voltou à ordem anterior, falei-lhe:
— Você, querida irmã, já é um grande refletor do Nosso Pai Divino!
— Existem outros, irmão Artur, diante de quem eu ainda nem simplesmente posso ficar... Entretanto, lembremos, todos vamos para a Unidade Vibratória, todos marchamos, lentamente, na direção do Grau Crístico, que é a Sagrada Finalidade do espírito.
E chegamos ao ponto de encontro, um plano azulino doirado, uma cidade onde as flores e as águas cintilantes e multicores tomavam conta da paisagem. De longe em longe havia um grande edifício, em forma piramidal, sendo os arredores uma verdadeira exposição de maravilhas, com aves lindíssimas, coloridas, enchendo a paisagem e os ares de vida, mas de vida altamente sublimada, como se o Bom Deus estivesse oferecendo uma festa de Graças a Seus filhos muito queridos.
— Este – disse a doce mensageira – é o Céu de Noêmia.
Aquela palavra informativa estava me assustando, mas logo acrescentou, numa expressão de ternura maternal comovente:
— Não se importe com a diferença, querido filho do Céu, que se você ainda não pode viver aqui, Noêmia pode viver onde você habita. É da Vontade de Deus, e Vontade que os Cristos representam e fazem ter execução, que o amor entrelace os Seus filhos, maiores e menores, para que todos cresçam. E como quem tem mais, pode e deve dar mais, Noêmia irá, de hoje em diante, cumprir tarefa junto dos que, no seu plano de vida, estão aprendendo a ser amorosos, estão procurando subir na escala dos valores íntimos.
Paramos defronte a imenso prédio, parece que feito de alabastro e pedras preciosas, porém de material vivo, vibrante, e não como na Terra, nem como no meu plano de vida, onde tudo é ainda um tanto opaco.
Entretanto, fomos dar em vastíssimo salão, havendo no centro uma mesa ovalada, como nunca pensara ver de tamanho igual; e ali estavam sentadas, em pequena parte da mesa, umas oitenta pessoas, entre homens e mulheres, estando Noêmia entre as mesmas. Assim que chegamos, todas se levantaram, tendo sido a Grande Mãe a primeira que veio ao meu encontro, apanhou-me pela mão e me conduziu até ao lado de Noêmia, onde me colocou, indo após para o seu lugar, e lugar que ficava na ponta ovalada.
Um som maravilhoso se ouviu, provindo parece que das profundezas de nós mesmos. Entretanto, toda aquela gente gloriosa olhou para a porta, se assim se poderia dizer, que dava para o lado direito, feita em forma de triângulo, toda entalhada e cravejada de preciosidades reluzentes, representando cenas da vida de Jesus Cristo.
A Grande Mãe foi para a entrada maravilhosa, ansiosa e simples como as simples e ansiosas mães, e no umbral de entrada abraçou um jovem esplendoroso de vida e de felicidade, tão contagiante em suas graças e virtudes, tão simples e tão puro, tão irmão e tão igual em essência, que todos se inclinaram como que forçados por encantamento divinal. Com ele vinham dois outros, bem se via que menores em hierarquia, porém muito acima do que podemos supor.
Eles foram para a outra ponta ovalada daquela mesa enorme, e ao sentarem um vozerio se fez ouvir, entrando para dentro do salão imenso uma multidão de jovens de ambos os sexos, esplendentes de luzes e de alegria, vestidos com roupas parece que esponjosas, coloridas e farfalhantes, musicalmente farfalhantes.
A Grande Mãe falou, ecoando aquela voz musical pelo imenso salão, ou de modo a se sentir que a voz tinha saído de toda a sua grandeza:
— Irmãos queridos, aqui estamos para dizer boas-vindas a cinco de nossos concidadãos, que depois de cumprirem tarefa na crosta, voltam a nós como felizes servidores do Pai Divino. E como o Pai Divino recompensa, sem tornar Suas recompensas alardeantes, pedi ao Nosso Senhor Planetário, que com a sua presença nos cumulasse de graças. Estando ele presente, a ele passo a palavra, para que fale o que desejar a cada um dos recém-vindos.
Sem nenhuma formalidade, muito familiarmente, o jovem de olhar meigo e cintilante falou:
— Traga-os, mãe, um por um até mim.
Ela foi ao encontro de uma velhinha muito encurvada, segundo como saíra dos laços carnais, apanhou-a pela mão e conduziu-a à presença dele; e ele, que era muito mais alto, colocou-lhe a mão sobre a cabeça, disse algo em linguagem que não entendi e fez a velhinha transformar-se numa jovem esbeltíssima, coroada de luzes multicores, parece que algo maravilhoso transformado em uma pessoa.
Assim fez com três mulheres e dois homens, sem falar com eles; mas quando todos tinham retornado a seus lugares, ele disse, em tom singelo:
— Irmãos e amigos queridos, o nosso Planeta ainda é dolorosa moradia, cheio de estorvos e perigos; mas o Pai não falta jamais, enviando a Seus servos o Divino Auxílio. Eu me regozijo convosco, os recém-vindos, pelo exemplo deixado no mundo, pois ele servirá de roteiro de luz a muitos outros irmãos nossos. Se, em verdade, a Lei e o meu exemplo são conhecidos, nem sempre os que vão a ele, nas condições de mensageiros encarnados, dele voltam triunfantes. O bom exemplo reclama simplicidade e renúncia, e o mundo arma ciladas com o egoísmo e o orgulho... Mas vós triunfastes, e aqueles que fracassam terão que triunfar um dia, e o Pai Nosso a todos nos recolherá... Elevemos ao Pai Nosso, irmãos queridos, o nosso pensamento de gratidão!
Não saberia dizer o que aconteceu: muito menos, como aconteceu; mas sei que o prédio sumiu e todos nos elevamos, pairando nos ares ofuscantes de Luz e Glória, cânticos e votos de felicidade a todos, a todos nós das esferas inferiores, os que ainda estão com o Reino do Céu interior quase todo por despertar.
O jovem cintilante foi sumindo no Infinito, deixando grupos no caminho, até que ficou sozinho entre dois outros. Aquele incêndio de Luz e de Glória foi se apagando, apagando, apagando...
A Grande Mãe entregou, ainda nos ares, cada um dos cinco aos entes queridos, apontando o caminho de volta. Olhando para baixo, vi o imenso prédio no mesmo lugar, engastado no seio de um painel feito de águas e flores cintilantes e musicais. E como cada um tinha um guia, ela comandou o retorno, augurando a todos muitos e felizes trabalhos.
— Que o Pai nos abençoe, meus queridos, e que na obediência de Sua Lei e do Seu Ungido, estejamos prontos ao trabalho fraterno. Todos fomos destinados a uma Ressurreição Final, e todos a atingiremos, se nos amarmos como nos ama o Nosso Divino Modelo, que, como vistes, é simples e humilde.
Quando a esbelta jovem nos colocou no chão do meu plano de vida, para ter em mente o nome de mais uma irmã superior na escala evolutiva, perguntei-lhe:
— Como se chama a doce irmã, a quem tanto devo?
Ela parecia feita de um sorriso estelar, e foi sorrindo que respondeu:
— Maria de Magdala.
Quis beijar-lhes as mãos alvíssimas e benfeitoras, mas foi ela quem o fez, dizendo palavras de carinho, lembrando Jesus durante a encarnação e oferecendo sua ajuda, quando quiséssemos dela o auxílio, para os trabalhos de socorro. E posso afirmar, por tamanhas provas armazenadas, que é muito difícil agradecer aos maiorais da espiritualidade, porque eles nos antecedem e fazem tudo primeiro do que nós, e melhor do que nós, porque colocam tamanho Amor nos atos, que ficamos augurando para eles a paga de Deus e não a nossa.
* * *
Enquanto não for ultrapassada a obrigação reencarnacionista, deve contar o espírito com a volta à carne, de tempos a tempos, cumprindo função e adquirindo luzes internas. É o coscorão em desgaste, para que a gema pura cintile perante o Sol da Divindade Absoluta.
Muitas vezes, infelizmente, o Reino do Mundo fala mais alto do que o Reino do Espírito, e o candidato à Sagrada Finalidade resvala, vai parar nos abismos da subcrosta ou nos umbrais, isto é, no sentido inverso; mas, ainda assim, estará sob o controle Divino, pois tudo é pesado e medido, nada foge à Ordem Divina, que é em tudo Lei, Amor e Justiça Absoluta.
Uma coisa é encarnar para fim absolutamente expiatório; outra coisa é fazê-lo para fim absolutamente missionário; outra coisa para enfrentar trabalhos ou provas evolutivas normais, e, ainda outras, quando se mesclam todos esses fatores.
De qualquer forma, porém, os menos evoluídos reencarnam mais, sendo que muitos, das mais altas esferas, passam até milênios sem reencarnar.
Verdade a saber, também, é que nada tem que ver involução com crimes; o criminoso é quem transgrediu a Lei, e o involuído é apenas um involuído. Este é como a gema que dorme no seio do coscorão, enquanto aquele, o criminoso, é como a gema que se deixou manchar por um impacto menos feliz, e de cuja mancha terá que se livrar através dos próprios esforços.
E assim como a encarnação fornece dezenas de milhares de almas, todos os dias, aos planos erráticos, também os planos erráticos fornecem, todos os dias, dezenas de milhares ao plano carnal; e, infelizmente, o grande número não vem com as recomendações em dia, sendo certo que, dentre os infelizes, contam-se muitos elementos categorizados que se deixaram envolver pelos enganos do mundo.
Conta o Evangelho que Jesus, no fim de Seus dias terrícolas, agradeceu aos amigos fiéis o fato de terem estado com Ele nas horas de tentação; é bem de aquilatar o exemplo do Mestre dos Mestres, para ressaltar o quanto é perigoso encarnar em um mundo como a Terra, onde o bolso, o estômago, o sexo, o orgulho e o egoísmo, em lugar de ferramentas de uso, passam a ser os senhores absolutos da criatura. Quando assim se passa, a Moral, o Amor, a Revelação, a Sabedoria e a Virtude ficam por baixo, isto é, a Lei e o Cristo são relegados a plano inferior, e, conseqüentemente, a Morte vem pilhar o espírito em tristes condições. Muitas vezes estão forros de bens e glórias do mundo, mas o túmulo faz imediata separação e o destino é a subcrosta, por dezenas, centenas ou mesmo milhares de anos, quando a mente do indivíduo não muda de rumo, nem mesmo com a dor!
Temos corroborado nos serviços reencarnacionistas, bem como observado com um imenso respeito, o reencarne de alguns maiorais da espiritualidade; e como deveis conhecer de sobra, que a cada um é dado segundo as obras, tudo é na mesma ordem, para vir como para ir. É um desses fatos que vamos relatar, porque a volta de Noêmia coincidiu com o reencarne de uma nossa diretora, a chefe geral dos serviços de relações interplanos da região. Enfim, um órgão simples, controlador do movimento entre os de cima, os de baixo e os das regiões pertencentes à mesma faixa ou subcéu. Divide-se, é claro, em departamentos, chefias e subchefias. A diretora, afora a competência técnica, deve dispor de certos recursos psíquicos, de certas extensões mediúnicas. O fato de ser uma mulher, e de tê-la substituído outra mulher, não quer dizer que não possa ser homem o tal funcionário; é mera coincidência, pois.
Primeiro, houve o tempo de ensaio de Noêmia, até ficar apta ao desempenho da função. Foram dias, apenas, mesmo porque os funcionários componentes da organização eram capazes e de uma dedicação a toda prova. Eram e são, pois nestes planos o coração manda muito e tudo é feito para mais e não para menos, quando se trate do simples servir ou do gosto de fazer o bem. A brutalidade que se observa na crosta, a incompreensão da importância do trabalho, pois todo ele representa uma grande parte das obrigações coletivas de cada filho de Deus, isso por aqui não se encontra. Se os bons elementos encarnados sabem que a grande oração é o cumprimento do dever, por aqui essa realidade sobeja, porque aquele que trabalha ganha méritos ou acumula direitos, e tem em si mesmo a graça imediatamente recebida, numa condição emotiva sublime, que não saberia como definir.
Para muitos, na crosta o trabalho é como dolorosa obrigação, em virtude de haver a exploração de uns sobre o trabalho de outros, por variantes motivos, talvez bem explicáveis uns, mas jamais explicáveis outros, do ponto de vista da Vontade de Deus, isto é, das leis fundamentais que regem o Universo Infinito. É como se uma fera comesse outra, é como se o trabalho fosse a expressão mais vibrante da luta entre os concorrentes pela vida ou direitos de subsistência, orgulho, vaidade, prepotências, etc. Até nos cultos ditos de fé, nos religiosismos, porque Religião com inicial maiúscula globalmente na Terra ainda não há; até nisso qualquer um pode encontrar quem, por malícias ou expedientes que tais, inventando rituais e manobrismos formais, transforme o seu irmão em coisa sujeita, em menos do que ele, para muitos fins e todos bastante repugnantes.
É muito comum e fácil, nos mundos inferiores, os maliciosos usarem verdades fundamentais, nomes e leis, acontecimentos e fatos, para deles fazerem arapucas ou instrumentos de negociatas e truculências contra seus irmãos. Os abismos da subcrosta, os umbrais e as teratologias que falem!... Mas nos planos de Paz e Ventura, ainda que em tom mínimo, o trabalho é feito de irmão para irmão, de um para outro filho de Deus. É o espírito quem vê outro espírito e lhe tem prazer em beneficiar. E como tudo é tremendo em respeitos hierárquicos, observai como a ordem funciona. Porque a autoridade não vai parar em mãos indignas ou incompetentes, e porque, também, quem manda, o faz com o coração, colocando até mesmo nas advertências o toque da mestria real, necessária e digna de agradecimento, porque há um objetivo pairando acima de tudo, que é filtrar, nos atos, o sentido da Verdade nos conhecimentos e do Amor nas aplicações.
Mafalda, a ex-diretora, tinha méritos e escolheu uma família espírita para o novo meio carnal; isto que pode parecer uma nonada, representa muito, porque nos verdes anos a criatura é como a terra preparada, que tudo oferece à semente, para germinar, crescer e logo produzir os melhores frutos. Era uma alma grande conduzindo um corpo frágil e pequenito, pois não fora reduzido em tamanho e consciência.
Com a entrada de Noêmia para aquela diretoria, e por causa dos “tempos” que estão marcados nos Livros Proféticos, principalmente no Apocalipse, as coisas tomaram lentamente novos rumos; porque todo o século vinte e mais a metade do vinte e um significam o fim de um período de transição bastante violento, com vistas à Nova Era, que dos meados do século vinte e um irá até às divisas do século sessenta. Grandes movimentações, portanto, na subcrosta e nos umbrais, e como é sabido que pertence à Grande Mãe o comando das legiões socorristas, em torno dela tudo girou, em matéria de novas disposições de trabalho. Não pense alguém que tenha havido descuido de Deus, em algum tempo, para com o funcionamento das trevas purgatoriais; apenas, em virtude da transição cíclico-histórica, ou da chegada ou contagem dos “tempos”, o que passou a se dar foi um maior emprego de recursos, forçando a movimentação de legiões, no sentido de apressar a melhora e servirem, as tais legiões, em benefício do bem em geral.
Muito reduzido é, ainda, o número daqueles encarnados que cooperam conscientemente nos serviços de socorro; e dizer mais não seria vantagem, porque os recursos empregados para tais descidas socorristas, não cabem na mente de quem está por demais embutido nas grosserias do mundo físico. Mormente quando se trata da interferência direta da Grande Mãe e das suas legiões, e que o Filho Ungido jamais deixa de participar com o Seu Divino Influxo, através de Seus Poderes de Ubiqüidade, desta Graça Divina de que fazem uso tais Elevados Espíritos, e que de nada adiantaria falar, desta Divina Graça ou Lei, porque excede de muito ao que dela poderiam pensar, aqueles que não a possuem ainda. Porque as Graças Divinas são como medidas impossíveis de serem analisadas pelo simples raciocínio, e só quem nelas vai tomando parte, delas podem sentir e fazer uso, mas não sei eu como poderiam falar ou explicar.
Outra medida tomada foi a procura de ambientes encarnados apropriados ou sintonizantes; porque aparências existem e de sobra, mas o real valor psíquico e mediúnico é reduzidíssimo, causa espanto e dor. Entretanto, alguns grupos foram localizados e o trabalho, com a participação de algumas dezenas de encarnados, foi tendo curso e se está estendendo aos poucos.
E com isso, temos tomado contato com o diagrama terrícola, temos subido por medidas de graça e temos descido muito, para forçar a retirada de quantos se revelem, desejosos de arrependimento e recuperação, e deles após fazer uso em trabalhos socorristas de menos responsabilidades, ou assim como possam ir servindo, de acordo com as próprias melhoras. E se é doloroso dizer que certos filhos de Deus não querem, de modo nenhum, atender aos nossos convites, é maravilhosamente grato observar que verdadeiras legiões deixam os lugares de pranto e ranger dos dentes, em busca de alguma Paz e de alguma Ventura. E como é sabido que a Paz e a Ventura dos Cristos começaram também assim, o que vemos é irmãos nossos, filhos como nós do Eterno Pai, fazendo a escalada cristificadora, tomando parte no esforço comum pela Ressurreição Final, que para todos está destinada.
Se o trabalho de levantar legiões de irmãos da subcrosta e dos umbrais é enorme, convém lembrar que é quase um mínimo em face dos tratamentos posteriores. Para as colheitas maravilhosas valem os empregos vibratórios de quem já vos falei, mas para certas reconstituições perispiritais devem valer os esforços de cada um dos recolhidos. Feliz daquele cuja capacidade mental atinja o ideal de Deus, da Verdade, do Amor e da Virtude, porque ele lutará de igual para igual com as tristes marcas do passado, não se deixará intimidar pela lembrança dos erros e crimes perpetrados, levando aos poucos tudo de vencida. Principalmente quando chega a hora de entrar em serviço, de ganhar seu bônus, suas regalias, tudo muda mais depressa, porque a alegria é moto tremendamente propulsor.
No mundo espiritual as coisas se passam de modo bem esquisito, se formos comparar com o mundo carnal; porque a quem tem, de fato tudo pode aumentar com certa facilidade, mas a quem não tem, tudo pode custar tremendos esforços. As vantagens do Bem empregado são como juros a render juros, e tudo é no sentido do mesmo Bem; mas a ignorância e o atraso, as manchas negras e as visões macabras, só para isso mesmo tendem, retardando as melhoras e dificultando a entrada nos serviços que distraem e amealham regalias.
As religiões, se é que merecem tal título as organizações ditas assim, cometem graves faltas quando amedrontam as criaturas, e sobre tudo apresentando, como medidas de libertação, rituais e fingimentos, além da venda de certas mercadorias que, em verdade, nem no mundo carnal passam de tribofes grosseiros. Não se pode compreender, depois de se chegar aqui, como conseguem tais organizações ludibriar tantas criaturas, impondo comércios vergonhosos, contra o ideal de Verdade e de Amor, que seria tão mais simples e mais fácil de ser executado, além de ser o único que por Deus é determinado e aceito. Reconhecemos que homens há que vendem artigos podres, que falsificam os bons, que corrompem tudo, com o fito de aumentar as respectivas fortunas; mas como conseguem enganar tanta gente, vendendo séculos a fio suas corrupções e iniqüidades? Se respeitamos a falsa vantagem dos que vendem patifarias, como pensaremos, todavia, dos que as compram, apenas?! E se dissermos que os vendilhões de idolatrias usam os nomes de Deus, da Verdade, do Amor e da Virtude, para impingir suas pecaminosas mercadorias, por que, então, os estultos compradores não usam dos mesmos nomes, para descobrir que são tolos, que Deus não Se convence com tais ridículas transações?
Temos visto, apesar de tudo, que a quase totalidade dos que vêm das trevas foram bons compradores de mercadorias religiosistas; e como a praga dos vícios idólatras e sectários cristaliza as mentes pelo comodismo criminoso, depois de iludir com o ópio sacramentista, foi criado um campo de repouso, em uma área vastíssima que compreendia imensas planícies, (ou que compreende, pois eu deixei a função há tempos, mas o trabalho continua) montanhas, rios, florestas frutíferas e fartura de aves belíssimas, etc. Nessa área de repouso foram ou são colocados, aqueles que vão melhorando, que vão conseguindo meditar melhor. Porque, se é fácil atingir certa cura por fora, não é tão fácil curar alguém do seu fanatismo sectário.
Também é necessário considerar a complexidade do caráter humano, ao dar-se a mudança e aos primeiros toques de melhora; porque, em muitos casos, a criatura se revela revoltada contra tudo quanto foi ou é passado, entregando-se aos novos e simples aprendizados com muito empenho, auxiliando grandemente a melhora geral e o avanço no rumo do Céu interior.
Em virtude de ser necessário, na maioria dos casos, esperar pela compreensão lenta dos elementos socorridos, foram colocadas algumas estelas com inscrições doutrinárias pela campina e pela montanha; e assim o enfermo de corpo e de espírito encontra de tudo, frutos e ensinos, enquanto faz estágio, enquanto vai ajustando a mente a outras e reais verdades, deixando para trás os feios vícios que lhes minaram a mente e o coração, encaminhando-os aos lugares de treva.
Uma estela se achava postada ao lado de uma espécie de cerejeira e dizia: “É HORA DE MUDAR DE CONHECIMENTOS, CONCEITOS E PRÁTICAS.”
Outra se encontrava junto a uma cristalina fonte e dizia: “ASSIM COMO A ÁGUA JORRA DO SEIO DA TERRA, ASSIM MESMO EU, A ESSÊNCIA DIVINA, JORRAREI DE DENTRO DAQUELES QUE ME PROCURAREM ATRAVÉS DA VERDADE, DO AMOR E DA VIRTUDE.”
Outra ficava junto a um pico de montanha e dizia: “AQUELE QUE É ALTO DE VERDADE, ENXERGARÁ LONGE, MESMO QUE ESTEJA NUM ABISMO, PORQUE A VERDADEIRA ALTURA É A DO ESPÍRITO.”
Perto de um templo derribado, assim feito propositalmente, uma estela dizia: “ASSIM COMO EU, O VOSSO PAI, SOU ACIMA DE MATÉRIAS E DE PAREDES, ASSIM QUERO QUE VENHAIS A SER. DERRIBAI POIS, TODOS OS FORMALISMOS, QUE EU APENAS ESPERO DE VÓS O BOM CONHECIMENTO E AS BOAS OBRAS.”
No centro de um pomar de amoras, outra estela dizia: “VÓS SOIS CENTELHAS MINHAS E TENDES A MIM NA ORIGEM; BUSCAI-ME NO ÍNTIMO E EU VOS DAREI A MINHA PAZ E A MINHA VENTURA.”
Junto a uma fruteira que tinha muitas cascas, ou a casca escamosa, e um miolo saborosíssimo, outra estela dizia: “ESTAIS NO CENTRO DE SETE COROAS ENERGÉTICAS E DEVEIS REDUZI-LAS A UMA SÓ, PARA VOS TORNARDES A GEMA SABOROSÍSSIMA. EU, QUE DOU A VIDA, ASSIM ESPERO.”
Junto a um poço sem fim, um infinito profundo, outra estela dizia: “EU MESMO SOU A VIDA, A LEI, A JUSTIÇA E A GLÓRIA; QUEM PODERÁ VENCER ESTANDO CONTRA MIM? OU QUEM ME ENCONTRARÁ, PARA COMIGO DISCUTIR?”
Numa das saídas, uma estela lembrava: “VÓS ENTRAIS E SAÍS, MAS EU SOU O ETERNO PRESENTE, ONISCIENTE E ONIPOTENTE, QUE TUDO EMANO, SUSTENTO E DESTINO.”
Era e deve ser muito fácil encontrar muita gente sentada na relva, defronte a tais estelas, em profunda meditação. Os trabalhadores do campo de repouso, quando inquiridos, respondem apenas: “NÓS TAMBÉM VIVEMOS PERGUNTANDO SOBRE AS LEIS; MAS NÃO PERGUNTAMOS SOBRE O DEVER DE AMAR COM TODO O FERVOR POSSÍVEL, PORQUE JÁ ENTENDEMOS QUE FORA DO AMOR NÃO HÁ PAZ NEM VENTURA.”
Em linhas gerais, penso que mostrei o plano de trabalhos que está sob a chefia da Grande Mãe, com vistas ao que deverá suceder no Planeta Total, a partir dos meados do século vinte e um; isto é, entrar para um ciclo algo melhor, preparando campo, conseguintemente, para outros ainda mais avançados, até que o Grau Crístico, a JERUSALÉM CELESTIAL, tenha feito infusão com o Planeta Total, e a antiga Terra nunca mais seja encontrada.
* * *
Quem vive sobre a Terra, sobre o chão terreno, poucas vezes lembra de quantas graças lhe oferece Deus, através das multidões de alegrias que as circunstâncias da vida conjugam. Porque, se o homem ainda continua revel aos ensinamentos fundamentais, ou pronto a corromper os ensinamentos e a estabelecer na Terra o império da maldade, certo é que a vida carnal é cheia de oportunidades e alegrias. E se considerarmos que os grandes espíritos têm motivos de queixa, porque se ressentem das diferenças vibratórias e das companhias menos sintonizantes, também podemos afirmar que o número deles não dá para formar a regra geral, ao passo que os demais, os noventa e cinco por cento restantes, se a isso podemos atingir, devem dar graças a Deus de poderem estar encarnados na Terra.
De tal forma as condições do encarnado são favoráveis, pela falta de valores psíquicos ou vibratórios, ou das qualidades de libertação, que aquele número acima indicado, mal desencarnando, procura meios de voltar à carne, assim que se coloca em condições de ponderar a diferença entre altos e baixos. Se durante a encarnação se julgava uma vítima dos erros de Deus, pois é assim que muitos grandes errados se imaginam, logo que se compenetram dos fatos, procuram movimentar meios, amizades e fatores, para novas e benditas oportunidades entre os laços da carne.
E quando dizemos que escalões imensos formam filas, aguardando com angústia até a hora do ingresso no mundo físico, apenas estamos dizendo uma parcela da realidade, pois o drama é muito mais complexo, abrange questões e pormenores muito mais profundos e carecentes de acuradíssimos estudos. Aqueles que se julgam vítimas durante a encarnação, quando se retratam no espelho de nossas realidades, se reconhecem os grandes verdugos!
Não bastam os quadros comprovantes de que falharam nas mínimas obrigações da última passagem, sendo pais, cidadãos, governantes ou governados incapazes de melhor conduta; é que sobram as marcas do passado criminoso, pois entre uma centena de espíritos apanhados a esmo, dos que podem ser considerados apenas involuídos é mínimo o número, sendo a grande maioria constituída de elementos altamente endividados!
E como a pressão da Lei de Harmonia, ou atividade da Justiça Divina, se torna logo patente, a ex-vítima, segundo suas impressões, procura movimentar recursos para uma nova oportunidade. Lembra o chão prodigioso, os melhores irmãos de jornada, os entes queridos que foram mal servidos, os deveres falcatruados, o ar, o sol, a lua, a chuva, etc. No caleidoscópio que a vida espiritual lhe apresenta, a ele que muito pode ir para baixo e nada tem para ingressar nos planos superiores, vê o quanto foi ingrato para com a grande escola carnal, desprezando as dádivas do Bom Deus, que fluíram generosamente diante de suas liberdades, e liberdades de uso que não soube aproveitar!
Grande soma das culpas cabe aos religiosismos, que por falsa interpretação se dizem religiões; porque nunca faltaram ensinos fundamentais nas Grandes Revelações ou Iniciações Fundamentais, ensinos que foram sempre adulterados, corrompidos, transformados em comércios clericais, com profundas penetrações nos movimentos político-sociais-econômicos, por onde ainda mais vieram a prejudicar a evolução normal da humanidade!
Observando as bases deixadas pelos Maiores, ou Grandes Reveladores, encontramos aqueles ensinos fundamentais apontados no texto intitulado “LEMBRA-TE”, com a preponderante influência da Revelação, da comunicabilidade dos espíritos. E no Divino Modelo vamos encontrar a máxima advertência em que sentido? Não é sobre o Sagrado Ministério da Revelação ou do Consolador?
Sim, a grande realidade salta ao entendimento de qualquer um, quando quiser usar o seu entendimento, para analisar as Linhas Mestras Doutrinárias e a gloriosa função da Mensageiria Divina, advertindo, ilustrando e consolando os encarnados. E que diremos de quem ignora as Linhas Mestras Doutrinárias e ainda por cima blasfema do Sagrado Ministério do Consolador?
Diríamos, ainda, com coroa de louros, que o toque final para o estabelecimento da Revelação Generalizada, deu-o Jesus Cristo, abandonando o corpo num madeiro infamante, para em retornando como Espírito, deixar o Pentecoste Imortal. O Imortal Pentecoste que, quase dois mil anos depois, volta a ser reposto no lugar pela vinda de Elias, a cujo arcabouço doutrinário deu o nome de Espiritismo. Porque, entenda quem tenha inteligência de entender, Jesus não prometeu Consolador algum para vinte séculos depois, mas sim a generalização imediata e a restauração no devido tempo.
Lembramos com alegria os setenta profetas de Moisés, com os quais pretendeu começar a generalização da Revelação, pois o seu desejo era que todo o povo comungasse com o plano espiritual e profetizasse.
Lembramos com amargura o trabalho do clero levita, que truncou a obra de Moisés valendo-se da ignorância de Saul, chegando a queimar os documentos e a matar os Profetas ou Médiuns, além de, posteriormente, falsificar os documentos que foram apresentados por Esdra.
Lembramos com alegria ímpar a vinda de Jesus, o Cristo de Deus e não feito por homens, entre cujas funções estava a de derramar do Espírito sobre a carne, aquilo que tanto prometeu em vida, e que cumpriu integralmente, depois de alguns dias, deixando na História o Glorioso Pentecoste.
Lembramos com profunda amargura o crime de Roma, truncando o Batismo de Espírito, ou Derrame de Espírito, ou Generalização da Revelação, afirmando serem os fenômenos mediúnicos ou proféticos de autoria do Diabo, para assim forjar uma igreja sua, defensora do Império despótico e sanguinário, e ato criminoso esse que mergulhou a humanidade na ignorância das coisas do espírito e na terrível brutalidade em que ainda vive.
Lembramos com alegria cristã a volta de Elias, o trabalhador da reposição das coisas no lugar, pois além de se cumprir nele uma profecia do Cristo, é fato que esta se revela como restauração da Excelsa Igreja do Caminho, Igreja Viva porque edificada sobre o Consolador Generalizado por Jesus Cristo!
Quero lembrar também, ó Pai Divino, em nome do Teu Ungido Jesus Cristo, de ter a oportunidade de usar a minha presunção, pelo fato de me terdes concedido a santa oportunidade de dizer estas palavras aos meus irmãos; porque, Senhor e Deus meu, ainda que venha eu, algum dia, a errar muito, ainda assim terei, como medida bonificadora, a graça de ter dito a mais lucilante verdade aos meus irmãos de jornada evolutiva. Graças, Pai Santo, pela Graça que me concedeste!
E assim dizendo, volto ao assunto do capítulo, para focalizar um dos maiores criminosos da História, que permanecera mil e duzentos e dez anos nos abismos da subcrosta, pelo fato de ter sido fiel aos ditames de Roma, que se dizia a Guarda dos Ensinos de Jesus Cristo Perante a Humanidade.
Este irmão, crente do que lhe diziam os donos do Vaticano, tendo poderes nas mãos, comandou legiões, ferros e fogos, semeando o vandalismo, o sadismo por todas as partes, contanto que tivesse a seu favor a possibilidade de pensar que estava protegendo a Vontade de Deus, pelas validades que Roma lhe oferecia. Arrastou rios de sangue após de si; e veio a mergulhar nesses rios de sangue, por todo aquele tempo, em companhia de legiões de comandados e de comandantes!
Depois de retirado de uma das mais baixas das subfaixas da subcrosta, foi submetido a tratamento por mais de três anos e meio, do vosso tempo, para ter a oportunidade de passear pela campina. Seu perispírito, ou coisa que possa valer por isso, estava completamente deteriorado... E se é verdade que, Deus querendo, a restauração pode dar-se prontamente, também é verdade que a Justiça de Deus é coerente ao infinito...
Ele devia ter que meditar muito, enquanto o seu exterior estivesse em fase de rearmonização; isto é, que fosse, também, rearmonizando a mente!
Depois de tudo, quando alguém lhe lembrava os tristes fatos, ele dizia:
— Se cometi o erro de acreditar nos homens, por que não cometi o acerto de confiar na Lei de Deus? Se um Jesus Cristo afirmou que não veio para derrogar a Lei de Deus, por que acreditei em homens que se julgavam mais do que o Cristo?
Enfim, esse irmão está entre vós e trabalha como pode nas hostes do Consolador... É um, dentre muitos, que pode até julgar-se vítima da vida que arrasta sobre a crosta... Entretanto, saiba ele e quantos estiverem interessados pelo próprio destino, que é melhor aproveitar o tempo produzindo o Bem, do que discutindo os méritos da Excelsa Justiça!...
* * *
Não nos parece possível que a Eterna Bonança vigore para algum espírito, desde a sua hora de manifestação da parte da Essência Divina; ninguém afirma isso, e todos dizem em contrário, isto é, atestam que muitas tempestades se intercalam entre o começo e o fim da jornada evolutiva. Portanto, bonanças e tempestades se intercalam, até que o espírito se instale de uma vez para sempre na Eterna Bonança.
Outro ponto digno de atenção é saber se Jesus Cristo chegou a se arrepender do que fez e do que disse. Ninguém ousa dizer, por aqui, que tenha se arrependido. Portanto, os hipócritas e ladrões, os raposas, os mentirosos e assassinos, os túmulos caiados por fora e podres por dentro, os cães e os porcos, toda essa legião de representantes do anticristo, ou contraventores da Lei, continua recebendo aos ouvidos os impactos da Eterna Advertência. E, pois, devem andar errados aqueles que se dizem arautos da Verdade, enquanto apresentam como conduta em geral bem estudadas maneiras e atitudes perante os mais evidentes e chocantes procedimentos de certas criaturas. O Divino Mestre disse tudo na hora certa, disse certo e bem alto, ainda que sabendo que iria receber a crucificação por prêmio. Não usou falsas bondades, fingidas tolerâncias e muito menos fantasiou a covardia de resignação, quando viu a Lei afrontada, a Verdade espezinhada, o Bem calcado aos pés pelos poderosos do mundo, a Virtude escandalizada e a Pobreza vilipendiada!
Mais uma faceta do Eterno Bom Senso nos diz, também, que nunca é em benefício da Eterna e Absoluta Verdade, que certos homens ou certos grupos de homens dogmatizam ou fazem cristalizar pontos de doutrina bem relativos, muito carecentes de contínuos progressos. Alguém, mais ou menos coletivo, está atrás disso tudo, com os seus interesses subalternos a proclamar o “não passem adiante!”. Da parte de Deus não havendo ordem de parada, para o progresso de Seus filhos, toda parada forçada pelos homens é criminosa. A voz de Jesus se levantou neste sentido: “AMAI A DEUS COM TODA A FORÇA DO CORAÇÃO E DE TODA A INTELIGÊNCIA”.
Estas e muitas outras aparentes simples falhas, ou nonadas na ordem dos atos cotidianos daqueles que peregrinam o mundo carnal, nos fazem pensar com acurado zelo, pois no amanhã seremos nós a substituir alguém, como parcela da demografia terrestre. Quanto ao campo de colheitas experimentais, tivemos os tempos de trabalho junto às legiões da Grande Mãe, bem como agora, estudando programas pré-encarnacionistas, sopesando fatores, empregando o pouco de Senso de Justiça que a profissão terrestre nos favoreceu, no estudo dos contras e dos prós que residem no histórico de miríades de irmãos candidatos à encarnação.
Como já é bem conhecido, as registrações são duas: uma é intra, é feita pelo espírito em si mesmo, como a psicometria o prova facilmente; a outra é extra, é um relatório dos fatos mais salientes, contra e a favor, que pode ser lido a qualquer espírito, sendo conveniente. E para os espíritos embrionários em evolução, o mais importante é o relatório escrito, com os máximos fatos apontados, pró e contra. As miudezas devem ser observadas pelos maiores, aqueles a quem cumpre andar sobre o fio da navalha, sem se deixarem cortar...
Portanto, encaremos um irmão a mais, enquadrado como milhões de outros nas divisões terríveis que separam os homens; numa vítima a mais dos divisionismos que a moral humana, a lógica humana, a cívica humana, o patriotismo humano, as ditas religiões e outros preconceitos humanos endossam e sustentam, sob a égide granítica daquelas dignidades ou daqueles brasões que, por fim, por ferirem de frente os ditames da Lei de Deus, arremetem seus cultores para as trevas, onde o pranto e o ranger dos dentes fazem a vez das recomendações infernais.
Porque ficará de pé uma advertência: ninguém responderá pelos seus atos, frente a uma comissão de encarnados ignorantes, forrados de preconceitos, pernósticos ou encarapitados no cômoro das protuberâncias convencionais do mundo; mas terá de fazê-lo perante a Divina Justiça, que ninguém vê e que não aceita argumentos, porque age de dentro para fora das criaturas, em termos de rearmonização! A medalha que, ao teor do mundo, apresentava uma face, passará, com a Morte, a apresentar a outra, não havendo injunções de posses, nacionalismos, religiões, políticas ou coisas semelhantes, que tenham como intervir, para fazê-la mudar!
Perante Deus, já disse alguém, ninguém consegue usar rótulos!
Poderá ser como o joio, que cresce com o trigo, até certo ponto, mas na hora da colheita será separado e lançado ao fogo!
O irmão Karl, antigo Burgomestre, foi chamado à observação, para efeito reencarnacionista, isto é, para tratarmos do seu esquema da vida; delinear as linhas gerais, pois os pormenores entram normalmente e a parte de boa ou má vontade, a parte do encarnado, por isso ele responderá, quando retornar.
Focalizado Karl, o aparelho psicométrico, o painel das imagens refletidas, envolveu um grupo de irmãos, todos de projeção nobiliárquica, todos tremendamente articulados em fatos históricos criminosos. Portanto, o chefe da comissão de estudo recomendou:
— Convoquemos o grupo todo; quem sabe se poderemos enquadrar todos num mesmo plano de ação renovadora? Se isso ocorrer, nós ganharemos tempo e eles terão pela frente valiosa oportunidade de confraternização.
O Departamento de Noêmia funcionou e oito irmãos foram colocados defronte ao aparelho psicométrico. O Burgomestre, o Juiz, o Bispo, um Barão, um Padre, dois Advogados e duas Mulheres que serviram de isca em alguns casos, formaram o centro de ação de uma tragédia que envolveu milhares de pessoas, obrigando umas aos martírios redentores e outras aos desvios tenebrosos.
Tudo começou com a palavra de um Barão no ouvido de um Burgomestre; porque a coisa cresceu, envolveu, corrompeu cada vez mais e a Morte, fiel cumpridora de seus deveres, foi aos poucos juntando todos. Os primeiros a desencarnar foram ligados imediatamente aos que ficaram na carne; mas quando o grupo se reencontrou no plano astral, a luta e a permuta de acusações foi aumentando, crescendo, criando condições eletromagnéticas dantescas. Uma nuvem de fumo, negra e fétida, aumentou tanto que parecia cobrir a cidade, que de fato acabou cobrindo. E então passou a descer, a procurar o caminho da subcrosta, até parar num determinado ponto, determinado este pela lei do peso específico. E no seu bojo, aquela nuvem negra conduziu aquele grupo infernal, que por sua vez arrastou milhares de outros, todos pertencentes ao mesmo padrão vibratório.
O inacreditável começou a se apresentar diante de nós, diante daqueles que se encontravam diante do aparelho psicométrico, para efeito de revisão e estudo da programação necessária. Porque as discussões levaram às unhadas, às mordidas, aos devoramentos, ao macabro!
Uns comiam os outros, depois ficavam mostrando os ossos descarnados; e a configuração áurica da legião macabra começou a apresentar as piores deformações, e a mentalização começou a criar formas densas à custa da matéria astral, até que se revelavam como imensos monstros, dinossauros, jacarés, serpentes, tudo transformado, tudo reduzido a horrores.
Dois séculos e meio depois, o trabalho comandado pela Grande Mãe os atingiu, e vimos um grande raio de luz penetrar nas trevas abismais. Lá do alto, um Sol Divino, tendo o semblante de Jesus Cristo no centro, atravessava três vultos femininos brilhantíssimos com Seus raios maravilhosos, comandando mais em baixo as legiões socorristas, inclusive os cães amestrados.
Tudo, de alto a baixo, era um maravilhoso cone de luz, formado de anéis, que perdia em brilho quanto mais descia, até facilitar identidade com a legião que devia ser levantada. Uma grande parte, não todos, pois a Lei de Harmonia é funcionária rigorosa!
Vimos a legião levantada ficar em determinado plano, de pouca luz, mas já em plano socorrista, perto do Terceiro Céu. E vimos a Grande Mãe, com suas legiões amigas, volitando sobre aquele amontoado de ruínas, fazendo cair sobre ele umas torrentes de neblina verde-azulada, que o cobria e obrigava a despertar para novas idéias e novas proposições. Assim foi acontecendo, dias e dias se repetindo a mesma operação, até que foram se destacando, destacando, cada elemento se tornando distinto, pensando por si, etc.
Um dia, diria uma gloriosa hora, lá em cima estava outra vez o Sol Divino, e o semblante do Mestre no centro. As Marias um pouco abaixo, depois em sentido decrescente os demais milhares de trabalhadores. O glorioso jato de luz focalizou a legião levantada, que se espraiava agora por imenso terreno, mas ainda ensombrado. E começou a deslizar para outro local, com um tremendo poder de locomoção, arrastando aquela gente toda para a beira de um imenso lago. Gente por dentro, porém revestida de brutas formas animais por fora.
Aos poucos, começaram a se banhar, notando que a água tinha um poder maravilhoso, além de ser deliciante ao contato, pois produzia cintilações belíssimas. E dentro de horas, todos estavam dentro daquele curativo lago, onde as formas densas exteriores se derretiam, deixando as pessoas perfeitamente humanizadas.
O Céu, para testemunhar a palavra certa, fez um Evangelista aparecer bastante reduzido diante deles, mas revestido de um eletrizante arco-íris de luzes policrômicas; e tendo um livro nas mãos, leu em voz tonitruante:
“Varões galileus, que estais olhando para o céu? Este Jesus, que se afastando de vós foi assunto ao céu, assim mesmo virá, tal como o vistes subir ao céu.”
Depois fechou o livro, apertou-o sobre o peito com as duas mãos e disse, com uma simplicidade terrivelmente penetrante:
“A Lei de Deus e o Divino Exemplo de Jesus Cristo já estão de novo no mundo, restaurados em forma de Espiritismo. E a Revelação dará, para os confins dos tempos, o testemunho que lhe compete. Voltareis ao plano carnal, pois o Pai Divino vos concederá nova oportunidade. Observai a Lei! Imitai o Cristo Modelo! Cultivai a Revelação! Jamais forjeis novas clerezias!”
Todos, nas alturas, foram se afastando... O espaço ficou azul, límpido, mas um vislumbre celestial pareceu permanecer na imensidão... E nós, rente ao chão, vimos que grupos de outros trabalhadores vinham, do horizonte à nossa direita, e com eles alguns aparelhos de transporte. À frente vinha um, muito alto e com divisas nos braços, como insígnias militares. Chegando-se, falou àquele que na ocasião comandava os trabalhos, dizendo daquilo que lhes competia fazer, distribuindo aqueles irmãos todos pelos diferentes centros de aprendizados, etc.
A psicometria mostrara tudo quanto havia acontecido.
O painel permanecera claro, em função, motivo por que ficamos olhando. E um rosto lindo, meigo ao extremo, apareceu, ordenando:
— Aqueles que estão no vosso plano astral, que voltem à carne o mais breve possível, nos mesmos grupos familiares, porém na América do Sul, principalmente no Brasil, que será o bastião espiritual no Novo Ciclo, e Novo Ciclo que entregará o Planeta inteiro a um bem mais elevado nível vibratório.
Daqueles olhos infinitamente maternais saíram graças indefiníveis, e o painel se foi apagando, apagando, até ficar escuro.
Os oito irmãos estavam entregues a um misto de comoção e deslumbramento, e disseram não ter visto, durante os trabalhos socorristas de que foram objeto, as maravilhas que o painel psicométrico lhes fizera ver agora. É assim mesmo que ocorre, pois raramente os muito inferiores podem ver os muito superiores, pois a vista, o ouvido e outras penetrações derivam de graus vibratórios distintos. Para tudo é preciso estar nivelado ou capacitado sintonicamente.
Eles já estão encarnados, sendo irmãos e primos, para que se encontrem durante a romagem carnal. Queira Deus que o Consolador, generalizado pelo Cristo, corrompido pelo Império Romano e restaurado pelo Profeta Elias, com o nome de Espiritismo, lhes entregue a sua mensagem de advertência, ilustração e consolo, para que não voltem em más condições para este lado da vida. Como é sabido, cada qual, ao transitar pela vida carnal é atingido pelas influências do passado, por ordens de vibração e de elementos deste plano. Assim sendo, quem deixou para trás marcas ou registrações menos felizes, é comumente atingido por influências tais. Cumpre reconhecer isso e fazer questão de estar ligado, pelas orações, conduta e amizades, quer aos nossos planos, quer aos melhores elementos encarnados. E se assim o novo aluno não quiser pensar, fazendo tudo em contrário, pode estar certo de que os reinos de treva também trabalham em benefício do Reino do Céu... Porque tudo é parte e relação de um Divino Mecanismo!
* * *
“Em nome e sob as graças do Senhor Deus, e do Seu filho Ungido Jesus Cristo, vai e faz o Bem aos teus irmãos.”
A Revelação, o Consolador ou Espírito da Verdade, funciona nos mundos e intermundos e não se poderia dizer, com absoluta certeza, de quantos recursos lança mãos e a que montantes pode atingir, em sua maravilhosa simplicidade. Porém, como medida de ordem técnica, deixamos para os encarnados o direito de conceituar como complexidade, precisamente aquilo que dizemos simplicidade.
Os encarnados partem de premissas um tanto contrárias, partem dos fenômenos e dos conceitos materiais, dos escolasticismos, da terminologia científica ou pseudo-científica, dos efeitos para as causas, enquanto nós aprendemos e bem depressa a começar do começo, de Deus e das leis causais. Sendo assim, quando os conceitos de algum encarnado chegam aqui, todos sob medidas formais, escolásticas, lastreados pelos importantes — Fulano disse, etc. —, nós vamos às verdades-chave, ao centro de gravidade, aos princípios. E podemos, então, de dentro de nossa crassa ignorância, compreender e sentir que a realidade tabelada pelos encarnados fica muito melhor quando livre das tabelas...
E quando as tabelinhas vêm dos quadros religiosistas, temos por obrigação tomar medidas imediatas, porque as tabelinhas que na crosta funcionam em nome de Deus, da Verdade, do Amor e da Virtude, ou do Cristo Verbo que a tudo isso representa, verdadeiramente funcionam em benefício de grupos que tais, de súcias mercantilistas e politiqueiras, na maioria das vezes. Porque outras vezes funcionam em nome de simples fanatismos sectários, porém puros de intenção, o que já representa uma boa quantia de valores dirimentes.
Dito isso, vamos ao fato.
William, o pastor, saíra da carne embalado e forrado pelos conceitos luteranistas; e tinha seus grandes méritos! Porém, tinha horror a respeito de muitíssimas leis ou verdades que jamais poderiam ser de fabricação humana.
Mudaria Deus ou mudaria o ex-pastor William?
Por causa disso é que a Mensageiria Divina funcionou, enviando o homem cheio de boas prendas, de modo encantador; ele veio como que do Céu, através de graciosa faixa de luzes, onde se misturavam três cores, o verde brilhante, o azul-prateado brilhante e o lilás muito claro e também brilhante. Um presente do Céu, diremos, que ficaria ao nosso encargo entregar a um novo instrumento carnal, para os devidos efeitos progressivos.
Pisou o solo do nosso jardim, todo sorridente, trazendo na mão direita um bilhetinho. Entregou-o ao chefe dos serviços e este leu aquilo que está encimando o capítulo.
Diante do irmão assim afeito aos tratos bíblicos, o chefe indagou:
— Fomos avisados de sua vinda; mas, perguntamos, que gostaria de fazer, até a hora de tomar conta de novo fardamento carnal?
Sem perder tempo, respondeu:
— Estar sempre em contato com o mundo carnal, pois durante a vida cometi o erro de condenar a Revelação.
— Entretanto, irmão William, veio muito bem, pois não?
— Sim, porque o Senhor Deus, nosso Pai, observa as obras e não as manias sectárias de Seus filhos.
— Que mais o encantou no mundo espiritual, assim que chegou?
— Antes já de abandonar de vez o corpo, vi ao redor do chamado leito de morte, dezenas de irmãos conhecidos, que haviam partido antes de mim, estando entre eles alguns desconhecidos, deslumbrantes de luz, que me convidavam a acompanhá-los. Isso foi, para mim, uma graça de Deus que jamais teria esperado. Depois de estar por aqui, a maior graça foi ter visto Jesus Cristo, de muito longe, tendo ouvido Dele algumas palavras... Só Deus sabe como me senti!...
— Que lhe disse Ele? – perguntou-lhe o chefe, curioso.
— Ouvi-O dizer perfeitamente: “Tu estremeces diante da minha visão. Todavia, terás que ser como eu sou... Volta ao mundo carnal, sê um verdadeiro profeta, progride e faz progredir a teus irmãos...”
O chefe disse-lhe:
— Reencarnar é por nossa conta, como já sabe; entretanto, como pensa que se sairá, no mundo?
William meditou um pouco e respondeu:
— Isso depende de vários fatores... Se Deus me conceder faculdades psíquicas, e se eu vier a ter em Deus e em Jesus Cristo a fé que já tive, tenho certeza de que regressarei, um dia, com os meus deveres fielmente cumpridos.
— Dentre as faculdades, qual a que mais lhe agradaria possuir?
Prontamente respondeu:
— Gostaria de ser um bom clarividente!
— Por quê? – perguntou-lhe o chefe.
— Quem tem a visão do mundo espiritual, certamente pensa, sente e age com mais elevação de caráter. Lendo após a morte o Evangelho, tive oportunidade de apreciar muitas particularidades. Jesus, que tinha os anjos subindo e descendo sobre a Sua cabeça, tendo tudo isso diante de Sua visão psíquica, ou de quem tinha o Espírito de Dons e Sinais sem medida, não teria encontrado nessa maravilhosa faculdade a Sua maior força? Está escrito, também, que Ele tinha, diante de Si, os céus abertos; e podemos aquilatar, mais uma vez, o que isso pode significar, como fonte de coragem e resignação.
O chefe apontou para um dos presentes, dizendo:
— Você vai hospedar William, até o dia em que deva reencarnar; e, lembre-se, ele tomará parte em quantos trabalhos quiser, mormente aqueles que tenham de ser feitos junto aos encarnados, para se ir ambientando.
Cada qual foi para seus destinos; e no dia seguinte, à tarde, havendo sessão em determinada residência terrestre, lá estava o grupo todo, inclusive ele, o irmão William, que revelava bastante curiosidade. Nem poderia ser de menos, porque os encarnados eram poucos, menos de quinze ao entrarmos, porém dotados de intenções mui nobres, sendo que alguns eram dotados de poderosa clarividência, razão por que foram avisando da chegada dos mentores espirituais, com uma precisão encantadora.
Mal sabia ele, William, que ao iniciar-se o trabalho, vários daqueles encarnados poderiam deixar seus corpos, invadir o mundo espiritual, trabalhar ao nosso lado e estarem dando todas as informações aos demais componentes do ambiente.
Outra realidade, para ele maravilhosa, é que estando o grupo de encarnados mui ligado aos trabalhos da Grande Mãe, por fatores históricos e laços de sangue nas encarnações pretéritas, para aquele humilde ambiente viriam, logo mais, elementos de alta hierarquia, para comandar serviços em lugares tenebrosos, isto é, socorrer criaturas que muito desceram, por muito terem errado.
E lá pelas tantas, com os serviços em curso, na hora de suspender legiões de abismos horripilantes, quando a Grande Mãe, do alto da espiral luminosa invocou os poderes de Jesus Cristo, enviando aos altos uma faixa de luz dourada; e quando, das alturas cintilantes agora, foi aparecendo o Sol Divino, que chegando mais perto revelou o semblante do Divino Mestre, William atirou-se ao chão e desandou a chorar convulsivamente, dizendo-se indigno de ver o Mestre.
Quem poderia limitar os poderes de Jesus Cristo? Quem está apto a negar que Ele, que pode o máximo, não pode o mínimo? Quem é mais do que Deus, para dizer que em essência somos iguais, havendo apenas diferenças hierárquicas entre uns e outros de Seus filhos?
O Sol Divino foi descendo, descendo, reduzindo o Seu brilho cada vez mais e chegou bem perto de todos nós; era Ele, o Divino Mestre, tal e qual como vivera há dois mil anos quase, que estava à nossa frente. Apesar de reduzido a um homem, Sua Presença causava um não-sei-quê de celestial, impunha um respeito inexplicável, diria divinamente terrificante, porque nos fazia pensar e sentir numa convergência infinitamente absorvente, como se o próprio Deus, o Ser Infinito, ali estivesse, reduzido a um simples homem, para testemunhar que é o Pai de todos.
Chegou-Se, colocou as mãos alvinitentes sobre a cabeça de William e chamou-o pelo nome, com uma voz que parecia feita de carinho celestial. William levantou a cabeça, viu-O, estremeceu e caiu a Seus pés, dizendo palavras sem nexo, derramando lágrimas abundantes.
Jesus foi subindo, subindo, endereçando olhar magnânimo a toda aquela multidão maravilhada; quando parou, a grande altura, as três Marias maiores também subiram, tendo aparecido alguns grandes espíritos mais perto, e multidões de seres a se estenderem pelo espaço esplendente de Luz e de Glória.
Antes de sumir na profundeza do espaço, enviou a mensagem seguinte, que ecoou pela imensidão, parecendo a mim que tinha o poder de se fazer ouvir até pelas águas, flores, chãos e tudo quanto havia por ali, emanado por Deus:
“Nunca estive longe de minhas ovelhas e peço que nenhuma esteja longe de mim. É da vontade de nosso Pai, que nos amemos como verdadeiros irmãos, os maiores e os menores, até chegar a hora de formarmos uma só Unidade.”
Quem foi colocar as mãos na cabeça de William foi uma jovem, um espírito encarnado, que estava trabalhando fora do corpo em plena consciência, e enviando à mesa de trabalhos os informes que achava mais proveitosos.
Terminado aquele serviço, a comitiva de encarnados e desencarnados voltou ao recinto da sessão, tendo William visto, ao redor da mesa, uma jovem igual àquela que o erguera.
— E aquela, tão igual, meu anjo querido? – perguntou ele, comovido.
— Aquele é meu corpo, apenas, meu irmão – respondeu sorrindo.
William ficou mudo, pensativo, triste e alegre ao mesmo tempo; mas quando a jovem disse que ia tomar conta do corpo, havendo-lhe estendido a mão, para a despedida formal, tal como fazem os encarnados, ele segurou-a com muito respeito, osculou-a e gaguejando disse-lhe:
— Diga aos irmãos encarnados, minha querida irmã, que Jesus Cristo é quem tem a inteira razão... E diga, também, que a razão de Jesus não é aquela que os religiosos da crosta usam ou afirmam diante da humanidade.
Depois que ela havia tomado conta do corpo, mas permanecendo em plena clarividência, disse-lhe o mentor da sessão:
— Não te preocupes, que essa irmã desceu de grandes alturas, para reencarnar, estando freqüentemente em contato com o seu plano de vida espiritual. Ela é mensageira superior e, apesar de encarnada, não perdeu a função, porque o seu coração funciona paralelo com o coração amantíssimo do Cristo Planetário.
William encolheu os ombros, abraçou fortemente o guia da sessão e disse:
— Nada mais direi das graças de Deus, que fluem sobre Seus filhos através de Jesus Cristo, neste Planeta. Quero começar a pensar de outro modo, para não estar levantando fronteiras e barreiras entre o Poder Divino e os Seus filhos, como fazem as religiões... Sendo Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente, por que devemos pensar em separações e distâncias incomensuráveis? Por quê?!...
Tarimbado, falou o mentor da sessão:
— A Terra ainda é um mundo infantil; só as crianças, como nós, pensam que o Pai usa os nossos conceitos. Por isso mesmo, irmão, não pense que descobriu essa verdadezinha elementar, pois já a descobriram, antes de você, milhões, bilhões ou trilhões de outros irmãos nossos. Mas, e aqui está a complicação, assim que voltam às plagas terrestres, voltam logo ao estado de burrice anterior, recomeçando as práticas ignorantes, erradas e até mesmo criminosas.
William fitou-o bem e depois baixou a cabeça, entristecido; mas o mentor da sessão falou-lhe, confidencialmente:
— Este seu amigo é useiro e vezeiro nessas faltas, compreende?
— Também foi pastor protestante? – perguntou William, curioso.
O mentor sorriu alto, bem a seu gosto, rematando:
— Já negociei em todas as espécies de balcões religiosistas... Já pratiquei, em nome de Deus, todas as formas de asneiras, compreende? E é por isso que ainda estou trabalhando rente ao chão terreno!...
— Rente ao chão terreno!... – comentou William, pensativo.
E o mentor, fitando-o bem, explicou:
— Todos os Planetas são apenas casas cósmicas, nada mais, onde humanidades fazem sua evolução. Portanto, têm eles a parte interior ou subcrostiniana, a parte que é a crosta, onde vivem os encarnados e aqueles que ficam ligados a eles por vários motivos, e as partes exteriores. Quanto à Terra, tem ela uma faixa umbrosa de mil e duzentos e tantos quilômetros, ao redor, começando depois as faixas de luz. Ora, ninguém atinge o extremo exterior, a zona crística, enquanto arrastar consigo falta de Verdade, de Amor e de Virtude, entendeu?
William disse que sim, que havia visto o mapa diagramático do Planeta logo que deixara a carne; e o mentor da sessão falou-lhe:
— Muito bem! Então você já sabe que o Reino de Deus é uma questão de Verdade, Amor e Virtude, e não uma questão de fanatismos religiosistas. Eu também sei disso e muita gente o sabe! Mas, infelizmente, quando se toma um novo corpo, a fim de conseguir mais libertação espiritual, os estreitismos humanos, sectários e outros, fazem o serviço do cupim, isto é, minam a planta pela raiz! E voltamos do mundo cheios de rótulos, porém vazios de verdades libertadoras...
William perguntou ao mentor da sessão:
— Já teve alguma visão do Divino Mestre?
— Claro! O Divino Mestre nunca deixou de vir a nós, de modos os mais diferentes. Sua Presença, no Planeta, é um fato e não uma lenda. Mas, caro irmão, também aí as coisas se passam de modo menos feliz, pois endereçamos os fatos ao rol da exaltação, enquanto Ele, o Divino Amigo, quer apenas imitação e realização, de nossa parte, do Cristo que em nós aguarda manifestação. Nós, todavia, mal instruídos pelas ditas religiões, pensamos em programas de reverência e adulação, com fitos muitas vezes de comércio ou meio de vida para determinadas súcias, e os convites do Grande Amigo ficam para trás... Isto é, nós ficamos para trás, porque ao fim de milhares de anos e de encarnações, estamos ainda rentes ao chão terrícola...
William assentiu com breve sinal de cabeça, balbuciando:
— Há muito vasilhame e bem pouca essência, na Terra, em matéria espiritual!
O mentor ventilou, de pronto:
— Veja o seu caso, por exemplo: não é certo que, como pastor protestante pensava ter engolido a Verdade? Não é certo que, trepado na sua importância interpretativa, até ao próprio Deus seria capaz de impor seus pontos de vista? E no entretanto, em quantos assuntos, e bem relativos, veio a compreender que estava bem errado?
William baixou a cabeça, entristecido, e o mentor comentou, com muito carinho em suas expressões:
— Tu és como nós todos somos, irmão William!... E assim como te atiraste ao chão, na presença do Irmão Maior, assim todos temos feito, contrariando a Sua Vontade... Ele quer que vejamos Nele o Grau Crístico, a que todos devemos atingir... Ele não quer de nós exaltações nem traumatismos terrificantes, porque o ponto atingido por Ele, é o mesmo que deve ser atingido por todos os filhos do mesmo Pai Divino.
William levantou a cabeça, menos embaraçado, argumentando:
— Bem, a Igreja do Caminho está restaurada... A Lei de Deus e o Divino Exemplo do Cristo estão de novo no mundo, límpidos e fulgurantes, convocando os homens ao Divino Banquete da Fraternidade, tendo na Revelação, no serviço da Mensageiria Divina, o traço de união entre os filhos do mesmo Deus. Portanto...
O Mentor sorriu bem expressivamente, interrompendo-o:
— Portanto, o quê, irmão William?... Pensa que os homens vão deixar assim a boca torta pelo cachimbo?... Ora! Ora!... Lembre-se de que, sob pretextos vários, hão de levantar novas clerezias, com menos fantasias, talvez, porém tão criminosas quanto aquelas que, após as Grandes Revelações, sempre levantaram no mundo. Começam falando em organização, direção, cimentação, pureza doutrinária, necessidade de movimentação coletiva, etc., etc. Mas, no fundo de tudo, não é o exemplo de boas obras que os domina, porém os vaticanismos e papismos que arrastam no arcabouço cármico; é o desejo de serem juízes e fiscais dos irmãos, a mania de quererem ser os donos da consciência alheia, querendo olhar de cima para baixo os seus irmãos, porque julgam que o Bom Deus os fez especialmente para dominar os outros! Puro regime de falsa observação doutrinária, pura mistificação na ordem dos deveres fraternais! Assim começaram todos os vaticanismos e papismos e assim o Consolador restaurado também correrá o mesmo risco, se não é que já está bastante minado pela praga dos mandonismos ditos especializados.
— Então – perguntou William – em que vamos confiar?!...
Desaprovante, o mentor respondeu:
— Essa pergunta não se faz, irmão William!
— Por quê?...
— Porque a Verdade nunca será engolida por ninguém! Porque a Doutrina do Caminho é em si mesma igual para todos os filhos de Deus! E porque as instituições e os estatutos pernósticos e prepotentes, que certos homens possam inventar, jamais controlarão as mediunidades e o movimento dos espíritos mensageiros!
A vastíssima assembléia prorrompeu em aplausos, gritando alguns o seu “VIVA!” à Excelsa Doutrina do Caminho, que jamais será escrava de preconceitos humanos quaisquer. E ali findou a sessão, tendo nós visto que das alturas, uma Grande Amiga fazia jorrar luzes de suas benditas mãos, luzes que, chegando a nós se convertiam em alvíssimas e perfumadas pétalas de rosas.
* * *
“Aqueles que forem representantes da Verdade, do Amor e da Virtude, certamente darão provas individuais disso, através das obras que praticarem, sem se importarem com aqueles que não são e com aqueles que apenas parecem ser.”
William chegava ao término do seu estágio entre nós, beirando cada vez mais a residência daquela gente simples e humilde que lhe iria contribuir para a encarnação, oferecendo-lhe o bendito instrumento carnal.
Sílvia, que lhe seria e é a mãe, era e é, jovem dotada de boas faculdades; e o pai, modesto funcionário público, embora sem muitas letras no plano carnal, conta nos registros cármicos com excelentes conquistas em geral. E não pena com o fato de ser inculto, pois no passado, com a mania das terminologias complicadas, querendo e fazendo para aparecer mais, contraíra alguns débitos. É até bem feliz, pois sendo incapaz de melhores assimilações pseudo-científicas, vive procurando fazer o bem, vive para dilatar as imortais importâncias do coração. Também, em abono de seus méritos antigos e do bom comportamento presente, o guia de sua esposa vive a repetir: “A sabedoria que vale diante do mundo, pode não valer diante de Deus”.
Ele não tem a menor noção dos porquês de tais palavras, mas elas lhe fazem o bem devido; e farão a todos aqueles que tiverem vontade de viver vida ajuizada, já que a sabedoria enfeita o espírito, mas a consistência que garante a Paz e a Ventura, essa jamais deixará de pertencer ao Amor!
É por isso que (embora pareça esquisito aos homens, principalmente aos que se nutrem de pseudo-importâncias), muitos pequeninos voam aos altos planos da erraticidade, enquanto eles, cheios de rótulos do mundo, fazem longos estágios entre a carne e os planos inferiores do mundo espiritual. Lembramos, para efeito de juízos quaisquer, que não estamos fazendo a apologia da ignorância... Apenas queremos dizer, e dizemos, que a verdadeira Sabedoria é aquela que se deixa envolver e penetrar pelos santos ungüentos do Amor, para juntamente subirem e se apresentarem unidos em face dos planos onde a Paz e a Ventura dominam absolutamente, por estar ali exposta de modo inenarrável, e acima de individualismo, a Presença Divina, o Ser Infinito, Aquele que É tudo em todos, e que todos O trazemos dentro de nós, sabendo ou sem saber, amando-O ou não.
Falando d'Ele, cuja Paternidade é igual, lembramos aos que se dobram cheios de medo, e terrores até, na presença de Grandes Irmãos, que é necessário, o quanto antes, perder muito de beatismos falsos, de pieguismos repugnantes, para ganhar simplicidade, podendo assim manter uma conduta harmoniosa em face de todas as entidades, questões, condições e situações. Quem se sabe um filho de Deus, por insignificante que seja no campo evolutivo, é no campo individual um filho de Deus, alguém que tem por obrigação honrar a Divina Paternidade. Se os Grandes Irmãos não precisam de curvações e babujas, que os menos evoluídos não se comportem como se fossem réprobos, porque para isso ninguém foi emanado!
Quem for simplesmente involuído ou iniciante na escala hierárquica, lembre-se que deve trabalhar para progredir, sendo que seus irmãos maiores poderão auxiliá-lo, com ensinos e algumas outras ajudas, nunca porém realizando aquilo que é devido a cada um; e quem for devedor de faltas, por erros cometidos, lembre-se de que a Justiça Divina é Absoluta, porém flexível nas aplicações, muito oferecendo aos que se fizeram penitentes... Mas, lembre-se bem, aquela penitência que se caracterize pelo fazer bem ao próximo, porque aquela penitência piegas, idólatra, ritual, exterior ou formalista, de nada adiantará.
Os preparativos de William foram muitos e práticos; quase um ano de trabalhos e de observações locais, por força de sua vontade, que foi no sentido de auxiliar e de aprender ao mesmo tempo. E com isso, como é fácil conceber, ele se permitiu felicíssimas registrações mentais e emocionais, registrações que, no curso de sua vida carnal, hão de vir à tona, em termos de intuição.
Há na maternidade um quê de imensamente imponente!
Se é certo que, nas piores condições, iguais se atraem e irmãos portadores de vibrações inferiores se reencontram em todos os campos de atividade, inclusive o reencarnacionista, dando-se portanto, acontecimentos assustadores; se, em função das leis sintônicas, nascem criaturas em meios os mais hediondos, o certo é que, na maternidade, há sempre alguma coisa que enternece profundamente. Queremos dizer, pelo que sabemos, que os filhos de Deus podem desonrar seus direitos e suas oportunidades, suas regalias e suas funções, mas o mérito das leis fica de pé!
Porque o poder emanador é exclusivo de Deus, Seus filhos usam de leis Suas, e o fazem bem ou mal, porém sem jamais poderem tocar, de longe que seja, na santidade intrínseca das mesmas! Concludentemente, o mais feliz é aquele que aprende as melhores lições da vida, acumula experiências, tudo fazendo para não usar mal ao que o Bom Pai fez para ser bem usado. E como leis são leis, todos responderão pelos maus usos feitos, porém muito mais, ou em maior porcentagem, aqueles que o fizeram com mais conhecimento causal.
Os três casos que aqui vão relatados, podem fazer pensar em legiões deles, tanto bastando que se aplique a lei das proporções a cada um deles.
O primeiro foi o de um espírito de ordem bastante inferior, encomendado por um homem abastado e sem filhos, por ser sua esposa estéril; encomendou-o por intermédio de uma mulher de más recomendações. Ela teria o filho e lho entregaria, recebendo, no momento, uma boa quantia em dinheiro, afora o já recebido. E tudo sucedeu, inclusive a indicação de um espírito, pelos encarregados deste lado.
Apesar do ambiente infeliz em que vivia a futura mãe, foi-lhe dado guarda até o dia de ter o seu bebê, quando passaria às mãos do pai, através de outra pessoa. A comitiva entregou o espírito ao colo materno, no devido tempo, em sua residência, depois de haver muito trabalho de limpeza. E houve oração, rogo ao Pai Divino feito pelo chefe da comitiva e palavras de ensino a alguns novatos em matéria de trabalhos dessa ordem.
Partindo do princípio que ensina ser a chamada Criação a Bíblia de Deus, tudo é escola e tudo traz proveitos, mais tarde ou mais cedo, sem sofrimentos, com mais ou com menos sofrimentos. A questão é a seguinte: saber, pensar, sentir e proceder do melhor modo. Mas quando isso não for possível, as leis terão curso e a responsabilidade terá que ser de alguém, porque mistérios e milagres não existem na Ordem Divina. E como com a Justiça Divina ninguém jamais irá discutir, porque nunca virá a encontrá-la como um indivíduo, eis que, nos dédalos do Espaço e do Tempo, todas as contas serão ajustadas até aos mínimos detalhes. Para os homens os fatos podem se revestir de farto enigmatismo; mas não há disso na Justiça Divina e em coisa alguma que derive de Deus. Abram os homens suas mentes, procurem focalizar as Verdades Eternas, Perfeitas e Imutáveis de Deus, porque a parte de Deus não depende de cogitações humanas.
O segundo caso foi de uma beleza singela; uma jovem esposa inaugurava a maternidade, e, como era procedente de plano espiritual apreciável, foi para lá que foram remetidos, os dois, ela e ele, o esposo, para voltarem ao recinto familiar com um belo presente do Céu — uma pequenita luminosa!
Em virtude de um acidente, certa mãe perdera a filhinha alguns dias antes de nascer; e como o programa do espírito reclamava urgente encarnação, foi endereçado o mesmo ao jovem casal de que falamos. O corpo perispirital, assim como saíra, assim fora deixado. A jovem mãezinha, estuante de felicidade, recebeu a bonequinha nos braços e sobre ela ensaiou, também, as primeiras lágrimas de sentido maternal.
Quando falamos em Ordem Divina, queremos dizer o TODO e suas leis também totais; num lance de pensamento, num apanhado geral que permita, ao ser relativo, a idéia do TODO, eis o que chamamos, para nós, a Ordem Divina. Porque ela é como é, e ninguém poderia negar, mas, para nós, ela é como o nosso relativismo permite focalizá-la. No seio desse conceito maravilhoso do TODO, as pequeninas questões e os mínimos fatos atingem grandezas inenarráveis. Assim foi a entrega de um espiritozinho àquela mãezinha, no interior de um templo, na esfera de vida de onde partiu ela, a mãezinha, um dia, para reencarnar.
A Revelação funciona nos mundos e intermundos da Infinita Casa do Pai; portanto, funcionou ali, também, naquela hora sublime. O globo de cristal, colocado no local onde no mundo formam as exposições de idolatrias comercializáveis, em dado momento começou a revelar farta e policrômica iluminação. As cores menos claras foram dando lugar às mais claras, até que tudo ficou entre ouro e prata, porém de um brilho impossível de ser descrito. E a Grande Mãe apareceu, rodeada de milhares ou de milhões de pequenitos sorridentes e brilhantes, tendo endereçado à jovem mãezinha palavras de incentivo. Mas cada um de nós ganhou alguma coisa, porque ela disse, emprestando à flexão de voz um poder tremendo de penetração:
“... Porque em um mundo inferior como a Terra, não pode triunfar aquele que não pode renunciar...”
O terceiro caso foi a entrega de William aos futuros pais; e também com ele o Céu quis dar-nos a graça de uma viagem a plano bastante superior. Portanto, uma falange de mais altos servidores veio a nós, para nos emprestar auxílio vibratório, sem o que a nossa presença ali seria difícil, por tempo algum tanto prolongado.
Acertado o local da reunião, trouxeram da crosta o casal de pais, e, uma vez o conjunto realizado, a falange superior nos envolveu, formando círculo em torno de nós. Feito isso, o chefe da falange comandou a viagem, dizendo que bastava a cada um, para cooperar, ligar o pensamento a Jesus Cristo. E a comitiva se elevou nos ares, entre sons maravilhosos.
De onde saímos, pelo menos vinte e duas fronteiras vibratórias atravessamos, para chegarmos ao local de destino. E se tudo tinha mostras do mundo terreno, com edifícios, jardins, aves, flores, fontes, sons, etc., a verdade é que o sentido de divinização deixava e muitíssimo longe as belezas de nossos planos menos iluminados e venturosos.
Entramos para um imenso edifício em forma de pagode, feito de alabastro brilhante e ornado de cravejamentos maravilhosos. O salão para onde fomos, de um caráter grave em tudo, tinha ao centro uma mesa enorme, de cor escura porém viva ou vibrante, como todas as cores por aqui o são, sendo natural que, quanto mais se sobe, tudo mais e mais se torna lucilante e glorioso.
O chefe da falange colocou cada um em seu devido lugar, deixando intervalos que, a seguir, completou com irmãos de seu comando. Disse que assim devia ser, para os de esferas inferiores, e os encarnados, receberem o necessário auxílio vibratório. Na ponta da mesa, e no centro dela, pois era muito grande, colocou os futuros pais de William, deixando uma vaga entre eles. Feito isso, mandou a sobra de elementos seus formarem círculo em torno. E quando tudo pronto, avisou:
— Estamos informados de que seremos visitados por alguns irmãos de mais altas esferas; e embora seja comum isto, mormente neste salão, dedicado à recepção de encarnados e candidatos à encarnação, é sempre com elevado júbilo que recebemos os avisos, os convites e as ordens, para organizar as reuniões. Estando nós prontos, manifestamos o nosso agradecimento ao Pai Divino, ao Divino Mestre que é Jesus Cristo e ao Sagrado Ministério do Consolador. Que se faça a Vontade Suprema, através dos Santos Escalões, que a nossa rende graças de poder servir.
Clarins soaram primeiro. Feito silêncio profundo, profundíssimo, vozes se ouviram, vindas de um dos lados. E um grupo de irmãos apareceu, cada um deles vestido singelamente, simplesmente, como os nazireus ou essênios. Tudo neles denotava a marca do profetismo hebreu e a rigorosa simplicidade dos altos seres, aquela simplicidade que penetra, comove e causa profundo respeito, porque contém de cada um o que realmente é, sendo que esse “é” revela o infinito respeito que revelam ao Senhor do Todo!
Digo aqui, abrindo parêntese, que os religiosismos da crosta e dos planos inferiores do astral, como não podem ser derretidos, para se apresentarem de modo diferente e conveniente, devem tratar de se modificar quase que totalmente; porque, diremos, fazendo parábola, que aquilo que aqui é simples, porque mostra o lado de dentro das pessoas, na crosta e planos inferiores não é simples, não é puro, não é decente, porque mostra o lado de fora, mostra a aparência ou o rótulo das pessoas. Direis que tudo deve evoluir e que é normal ser assim... Mas eu digo que os tristes vícios e as deturpações favorecem maquinações bem engendradas e fortemente conservadas... Uma coisa é ser normalmente involuído, e outra é ser propositalmente capcioso, politiqueiro e negocista das coisas do espírito!
Um dos do grupo passou à frente, sentou-se entre os futuros pais de William e disse, com voz harmoniosa, vigorosa e meiga ao mesmo tempo, assim como quem é o irmão, o amigo, o mestre, o veículo da Divina Paternidade e a expressão da Sua Divina Justiça:
“Os mundos físicos são escolas e as humanidades são classes de alunos, como bem o sabeis. O destino fundamental é a glorificação integral dos filhos do Pai Eterno. E para que as humanidades alunas tenham sempre com que contar, em matéria de aprendizados, vamos nós, executando a Suprema Vontade, enviando professores aos mundos físicos.
Como a parte de livre arbítrio não pode ser tirada, muitos professores têm invertido a ordem da realidade, mais aplicando de seus mesmos conceitos, do que refletindo, em seus ensinos e obras, a Vontade Suprema.”
Volveu o olhar amigo e severo a William, sorriu, um convite feito sorriso, e chamou-o:
“Venha buscar este aviso, para que leve nas mãos, durante todos os dias de sua passagem pela encarnação.”
William levantou-se, foi até ele e fez uma inclinação de cabeça, mas bem se viu que dobraria os joelhos automaticamente, se ele, com o seu olhar, não o proibisse de fazê-lo. E recebeu um pedacinho de papel, ou parecido com isso, cor de ouro, com letras azuis, tudo brilhante, mas de um brilho divino. E quando tinha o papel entre as mãos, as duas, recebeu uma ordem, um doce convite:
“Quer lê-lo para nós?”
William leu-o, em voz alta, e com aquele timbre que não era o seu normal, parece que penetrado daquele poder maravilhoso que envolvia a todos ali. Aquilo que está dito no cimo do capítulo foi o que leu. E o presidente da reunião, diremos assim, tendo-se erguido foi colocar-se atrás do futuro pai de William, e depois atrás da futura mãezinha, tendo orado, direi que tendo conversado com o Pai Onipresente, Onisciente e Onipotente, porque a LUZ DIVINA atingiu a uma tal intensidade, que causava divino assombro, se assim se pode dizer, para logo mais vir voltando ao natural daquele plano espiritual, acrescido, é claro, com a presença daquela celeste comitiva.
Terminado tudo, o presidente mandou todos ficarem à vontade, bem se percebeu que para dar a todos oportunidade de trocar conversação amiga. Ele mesmo ficou à disposição de todos quantos quiseram falar-lhe, perguntar-lhe, dizer-lhe de suas preocupações e desejos de novos empreendimentos.
De minha parte, tinha a impressão de que, se não fosse o tremendo auxílio da falange auxiliadora, rebentaria pela pressão intensíssima de algo que tinha no coração, me parecia um mundo de fogo, de amor descomunal, coisa que, se de lá de dentro saísse, invadiria o Infinito e banharia tudo com o seu poder de expansão divinizante.
Não ousei ir ao presidente, porque tinha e tenho certeza de minha pequenez; mas ele, na sua celestial simplicidade, foi varando entre os grupos de presentes e me veio tocar no ombro. Quis vê-lo de perto, e vi que seus cabelos e tudo o mais, principalmente os olhos, o retrato de sua majestade pessoal, pareciam feitos de Céu materializado... Sei que não me entenderão, porque eu não sei o que isso quererá dizer totalmente, mas peço que assim me aceitem e que confiem nele, porque gloriosa é a Finalidade da Vida.
Minutos depois, convidou os seus para a viagem de volta; houve como que uma alegria banhada de tristeza, porque ele nos deixaria, se bem que ele não é quem se afasta de seus irmãos menores. Não falou com a boca, mas falou muito alto e forte, e penetrante, lembrando a todos que, durante a jornada evolutiva, as amarguras passam e as eternas venturas permanecem, porque o Pai Divino assim o quer. E foram se retirando, depois de encantadora inclinação de cabeça, tão simplesmente como vieram, como grandes amigos no vai-e-vem dos dias da Eternidade.
O chefe da falange auxiliadora falou, agradeceu a todos e comandou a viagem de volta, para os nossos planos, os inferiores. E quando chegamos ao nosso plano de vida espiritual, entregou ele os futuros pais ao chefe do departamento competente, dizendo que William devia reencarnar conservando aquele papel na mão direita, pois sempre que, durante as dormidas do corpo, pudesse estar livre e ler o conteúdo, receberia o grande aviso.
* * *
A regra é e será eternamente, a cada um segundo as obras que praticar; e como praticar é se representar perante a Justiça Divina, assim funcionará, no seio das comunidades irmãs. Simplesmente assim, normalmente assim, porque aparências e sofismas não prevalecem perante Deus, que é infinitamente íntimo a tudo e a todos.
Quem ainda não atingiu o Grau Crístico, por certo estagia num grau inferior, seja ele qual for. E, sendo assim, tem para trás aquilo que já foi, tendo para a frente aquilo que terá de vir a ser. Bom seria, portanto, que ninguém jamais olvidasse o Sagrado Elo que une tudo e todos, e principalmente a Origem Divina à Sagrada Finalidade, pois esse, que se portar assim, muito poderá se avantajar nos caminhos da evolução.
Enquanto encarnados, muitos sonham com regras e tabelas miraculosas, não sendo mais do que isso os ritualismos e sacramentismos comercializados pelas religiões ou pelos seus proprietários; mas tudo isso é falho, e muitas vezes falso e pior ainda, porque diante de Deus, ninguém jamais deveria comparecer fantasiado ou revestido de aparências. Os atos perante o chamado Criador e os irmãos, esses é que representam realmente, nada mais havendo que os substitua, de modo algum. E falamos com inteiro conhecimento de causa, porque vemos, aos milhões, caírem por terra as fantasias e os galardões trazidos do mundo. É confrangedor, é terrível, e é por isso que recomendamos boas obras e não religiosismos.
Como padrão, ou média geral, a humanidade terrícola é, moralmente, fato bem chocante, bem deprimente; o grande número se importa com o mundo, com aquilo que pode ser visto pelos semelhantes, deixando de parte aquilo que só Deus vê bem, e, conseguintemente, só Ele pode recompensar. Além de não cooperar para a melhora do mundo, com tais imprudentes atitudes, todos deveriam saber que os hipócritas não herdarão o Reino de Deus. Cumpre, pois, custe o que custar, dizer e fazer o que é certo, na hora certa!
Do ponto de vista doutrinário fundamental, todos deveriam saber o seguinte, para efeito de autoconduta: que jamais alguém poderá atingir os altos planos da erraticidade, e muito menos o Grau Crístico, sem enfrentar situações decisivas, sem ter que tomar medidas de fato, em certas horas. Aqueles, portanto, que pretendem ocultar verdades ou desleixar deveres, alegando interesses subalternos ou possíveis opiniões alheias, não se esqueçam de que, com isso, jamais conseguirão convencer a Justiça Divina. Quem não tem caráter para afirmar a Verdade não tem merecimento para subir aos altos planos!
Foi preleção assim, caros irmãos, que vimos ser endereçada ao espiritista José, dois meses e meio depois de sua passagem, quando foi recolhido a um plano de muito relativa luz e para ser medicado num de seus hospitais.
Que fazia o irmão José, com as suas faculdades e os seus trabalhos mediúnicos, com o jogo de suas conveniências materiais e as suas responsabilidades para com a Justiça Divina?
As faculdades, pensava, eram o produto de suas boas realizações pretéritas, e podia usá-las à vontade e livremente, porque propriedades são propriedades! Como ferramentas, pelas quais teria que responder, ao desencarnar, não pretendeu jamais encará-las. Portanto, recebeu muitas pagas, presentes e tal, pelos trabalhos prestados.
Suas conveniências materiais, em geral, fizeram-no passar por cima dos Mandamentos da Lei, em muitas ocasiões e para fins bastante comprometedores, chegando às raias da imoralidade, abusando da confiança que lhe atribuíam. Mal sabia, que, em tempo algum, alguém passará por cima da Lei!
Entre a melhor conduta perante a Verdade, tal como a conhecia, e algumas injunções humanas, deixou a Verdade debaixo do alqueire e defendeu falsa moral humana. Teve o que dizer, muitas vezes, para dar o testemunho certo, mas os presentes e as festinhas que lhe fizeram nos ouvidos, autorizaram-no a silenciar, até mesmo a mancomunar com o erro!
Em grau bastante elevado, portanto, foi apenas um mercador de práticas mediúnicas. Como, porém, seus conhecimentos foram maiores, muito mais ao pé da Verdade, em confronto com os de outros mercadores da fé, eis que foi chamado em tempo antecipado, e para enfrentar situação menos agradável.
O mentor indicado naquele posto de socorro, que ficava bem nas divisas das faixas trevosas, disse-lhe:
— Agora, irmão José, que sabe porque desencarnou antes do tempo, e que sabe quanto tempo irá trabalhar neste posto de socorro, para adquirir méritos, a fim de encarnar de novo, procure ser um esforçado trabalhador. Aportam aqui irmãos em estado desesperador, vindos das faixas inferiores. É um campo de trabalho, é um instrumento de ressarcimento, é uma graça de Deus!
Entristecido, José perguntou:
— Não voltarei ao meu antigo plano de vida, antes de reencarnar?
— Não, tal é a ordem que está no seu relatório. Voltará daqui mesmo para o novo corpo, depois dos muitos anos que terá de aqui trabalhar, para ressarcir os erros cometidos por culpa de suas leviandades.
José pertencia a um plano muito mais elevado; ninguém poderia negar o fato; mas ao mais conhecedor mais será exigido!
É muito fácil ler o que se encontra na Lei de Deus, no Código de Conduta; é muito fácil ler sobre a significação do Divino Exemplo do Cristo; porém muito mais fácil é acreditar nos próprios conceitos, exaltando os próprios méritos, pensando que a Justiça Divina é apenas um sócio igual e nada mais, com quem se pode discutir à vontade e talvez até mesmo desfazer o compromisso!
A honra do profeta está no compromisso para com a Verdade, o Amor e a Virtude, que são acima de religiosismos e conchavismos humanos quaisquer; para ser apenas um mercador de posições e vantagens, aparências e rótulos, o Céu não remete ao plano carnal criaturas com salientes faculdades medianeiras.
Quando José saía, levado por um outro servidor, para iniciar longos anos de trabalho árduo naquele posto de socorro, o mentor indicado comentou:
— Em nenhuma parte do mundo o Consolador restaurado atingiu a amplidão que atingiu no Brasil, a Atlântida redescoberta, o rincão que encabeçará o movimento espiritual da Nova Era, entregando a humanidade a um nível muito mais elevado na ordem vibratória; mas, é pesaroso dizer, que a todas as horas recebemos elementos de volta, cujos índices estão muito longe do esperado.
Sempre desejando saber, perguntei:
— Por quê, bondoso irmão?
Ele invadiu o meu ser todo com aquele penetrante olhar, para depois responder, com um profundo acento de mágoa na entonação de voz:
— Eu, pelo menos eu, que também errei no mesmo sentido, tenho certeza de que o maior dos males, irmão Artur, é a mania de querermos doutrinar os outros, enquanto deixamos para trás a própria noção de conduta.
— Foi um médium relapso?
Assinalou que não com a cabeça, tendo murmurado:
— Não fui apenas um médium, mas um fundador de Centros e organizador de estatutos. Cuidei muito dos templos de matéria e não soube compreender muito bem os templos espirituais... Fixei programas para várias casas, mas não tracei melhor conduta para mim mesmo, em face da Lei de Deus e do Divino Exemplo do Cristo, Daquele Divino Homem que fugiu dos templos e foi praticar a Santa Vida Exemplar entre as gentes, até a hora de ser preso, espancado, falsamente julgado, insultado de todos os modos e por fim crucificado.
— Tudo isso faz pensar muito! – disse-lhe eu.
Levantou ele a cabeça, fitou-me bem e aduziu:
— A humanidade não precisa de mais umas igrejinhas, irmão Artur... Não é a falta de outras modalidades clericais que o mundo reclama, para aquelas modificações que visam entregá-lo a plano superior de vida... Sem que cada um se compenetre da edificação pessoal no seio da VERDADE MAIOR, tudo serão igrejinhas, tabelinhas, pílulas e teorias engarrafadas!
— Concordo, irmão, e levo em conta o seu cabedal de experiência própria, mas pondero que, em virtude da tamanha falta de cultura geral que avassala a humanidade, bem pouca coisa poderá fazer o Consolador restaurado, mesmo que alguns abnegados façam da vida um campo de sacrifícios...
Interrompeu-me ele, para observar:
— Sim, sim, irmão Artur. Nesta fase histórica da humanidade terrestre, dois terços dela sofrem de analfabetismo e de fome!... As divergências de ordem econômica, disfarçadas em ordem política, construíram o maior monumento bélico, aguardando a hora propícia para o desencadeio do maior massacre de todos os tempos!... As crianças e a juventude, o fermento da humanidade adulta, que no amanhã deveria produzir o bom exemplo, está contaminado pelo gérmen do religiosismo idólatra e brutalizante!... E, enquanto isso, os representantes do Consolador restaurado só sabem fundar igrejinhas, pensar em filas de necessitados nas festas de fim de ano, repetir dentro de Centros as sentenças do Cristo e, como iguais, formarem na rançosa coluna dos que acham que Deus deve providenciar as reformas sociais da humanidade...
— Como deveriam pensar e agir os espíritas, então? – perguntei.
Vi-o sorrir, abanar a cabeça negativamente e dizer:
— Como deveriam, isso não vou dizer... Mas eu sei que uns fundam igrejinhas e tabelinhas, para serem os de cima, e outros procuram as igrejinhas e as tabelinhas, para terem onde e com quem passar umas horas ou para pretenderem que os espíritos lhes consertem a vida!... As grandes reformas íntimas e as necessárias reformas sociais, em termos cristãos, isso dá muito trabalho! Já não digo que custe martírios, como em outros tempos, pois se assim fosse, os tais modernos profetas abandonariam a arena antes de haver perigo! Tudo, portanto, irmão Artur, é questão de tirar proveitos pessoais... E o Reino de Deus, que é questão de Verdade e não de acomodações religiosas, também para os espiritistas já deixou de ser importante, para ser apenas um item do vasto programa da vida medíocre...
Eu e dois outros, que fôramos entregar José àquele plano e posto de socorro, fomos logo embora, levando nos ouvidos aquelas palavras candentes, aqueles agravantes conceitos. Como cada um pensa como pode e não como quer, e tem dentro de si os seus problemas a resolver, melhor julgamos registrar os fatos, sem ajuizar sobre seus méritos ou deméritos. Apenas, como medida de prudência, afirmamos aos espiritistas, que há muita diferença entre falar ao mundo em religiosismos e falar ao mundo em termos de VERDADE. Ninguém confunda a VERDADE com os rançosos religiosismos, se não quiser enfrentar tristes situações ao desencarnar.
Se tudo fosse a mesma coisa, Aquele que deixou a Igreja Viva do Caminho, edificada sobre o Imortal Pentecoste, ou Consolador Generalizado, não teria ido em linha reta da Manjedoura ao Calvário! Portanto, Espiritismo não é um religiosismo a mais, somando entre os conchavismos do mundo, e um espiritista, conseqüentemente, arrasta consigo muitas responsabilidades a mais.
Conversinhas humanas podem afirmar o que bem queiram ou possam, mas nos altos planos da vida errática, todos sabem que o Pai Divino jamais deixou faltar no mundo a Tocha Iluminadora que é a Revelação; todos sabem o que foram os Grandes Iniciados, os Grandes Profetas que bradaram ao mundo os avisos do Céu; todos sabem da Divina Exemplificação do Cristo; e como, então, na hora em que cumpre à Revelação, ao Consolador reposto no lugar, o tremendo serviço de esclarecimento da humanidade, ter alguém que o transforme num formalismo como os outros?
Aquele que não saiba separar entre uma questão de VERDADE e uma questão de religiosismo formal, que se não diga espírita! Uma escola de conscientização, que não se estriba em dogmas e formalismos inventados por homens, porque afirma diante do mundo as Verdades Eternas, Perfeitas e Imutáveis de Deus, é digna de melhores arautos!
* * *
De um modo geral, cumpre aos homens deixarem para trás essa mania de pensar que Deus deve reger o Universo Infinito pelas suas tabelinhas sectárias, pelos estreitismos conceptivos de seus fanatismos religiosistas; devem reconhecer que a Terra é um planetazinho muito pequeno e atrasado, engastado no seio de bilhões de bilhões de mundos, diríamos melhor dizendo bilhões de bilhões de galáxias, e que os homens mais se parecem com formigas insignificantes, em virtude do atraso intelecto-moral de que são portadores.
E se em outros tempos, mais atrasados, idolatrias e superstições vogaram à vontade, fizeram praça e pareceram verdadeiros cultos superiores da fé, chegada é a hora de tudo modificar. Já não tem mais cabimento a Fé, a Esperança e a Caridade, porque o CONHECIMENTO, a CERTEZA e a BONDADE, desde muito que podem tomar a vanguarda das movimentações humanas, à custa de quanto o Consolador restaurado tem ensinado.
Os enigmatismos das iniciações antigas, com as suas carradas de manias ocultistas e misteriosas; tudo isso, enfim, que cheira a terminologias eufêmicas, e mais as posturas físicas e as presunções iniciáticas, quando realmente são vazias ou apenas cheias de ilusões ocultistas e pretensiosas. Isso tudo é asneira querer conservar ou passar adiante, porque o Consolador restaurado, a Revelação tornada ostensiva, por ser absolutamente prática, ao alcance de todos e a par da vida dos filhos de Deus, tudo isso jogará por terra, queiram ou não os discípulos de todos os enigmatismos arcaicos ou modernos.
A mania dos templos, das vestes fingidas, dos sacramentismos, dos rituais e das súcias clericais, com suas profundas influências nos domínios político-econômicos, produzindo o retardamento evolutivo da humanidade, tudo isso também já poderia estar nos depósitos de lixo da História. Embora os documentos oficiais provem que, neste meado do século vinte, dois terços da humanidade sofrem de fome e de analfabetismo, afirmamos que um terço da humanidade, sendo letrada, bem poderia conduzir os restantes dois terços para fora daqueles ignorantismos e atrasos.
E aqueles que acham o Cristianismo nos longos discursos bíblicos e nos cânticos, pouco caso fazendo da Lei de Deus e do Divino Exemplo do Cristo nas suas obras sociais, esses também precisam mudar e bem depressa, pois o Consolador vai assaltando a humanidade com os seus FATOS, dando da Lei e do Cristo o devido testemunho.
Estes conceitos, nós os manifestamos em virtude de um aviso recebido e dos últimos dois trabalhos levados a termo, antes de terminar esta narrativa, da qual fomos incumbidos por um mensageiro de muito alta hierarquia, que veio em nome da Grande Mãe.
O convite foi de Silvestre, para que estivéssemos em sua residência na hora indicada. Lá estando, disse ele:
— Artur, a narrativa está a findar; o pensamento da Grande Mãe, ou daquela que simboliza a Maternidade, ou tudo que é Feminino neste Planeta, está radicado em letras de forma, para constituir graciosa mensagem de aproximação entre os homens e as altas esferas da vida espiritual, tudo com vistas ao Novo Ciclo. Portanto, tenho dois casos a lhe apresentar, para que com eles encerre a obra mensageira. Terá apenas que observá-los e descrevê-los, para que a lição fique nos ouvidos e nas consciências, nada mais. Como já lhe foi dito, nossa obrigação é lançar a semente na terra, para que esta, conforme seja melhor ou pior, favoreça a germinação, o crescimento, a floridura e a produção. Isto é, nós temos apenas a obrigação de falar às mentes e aos corações, ficando eles responsáveis pelos resultados positivos ou negativos.
— Muito bem, tal é a sentença do Cristo.
— Vamos hoje, então, ao primeiro caso.
E fomos observar a saída do corpo do mais alto dignitário clerical, de quem a imprensa em geral falou muito, tendo-o chamado de “Santo” para cima. Todavia, ninguém o amparou, depois do corte do liame fluídico que o prendia ao corpo. Como que atingido por uma força invisível, foi parar numa capelinha humílima, em um interior da Itália, sem saber que desencarnara e sofrendo terrível geleira pelo corpo, que ele não sabia que era o do espírito. E com ele se trasladou uma tremenda multidão de outros clérigos e de outras gentes, formando uma nuvem horrenda, um cortejo macabro.
— Que monstruoso espetáculo! – exclamei, assustado.
Silvestre encarou-me, assentiu com breve aceno de cabeça e murmurou:
— A justiça humana é vesga, mas a de Deus nunca o será!...
— Quando sairá dali?!... E que acontecerá com essa legião igual a ele?!...
Sem perder tempo, Silvestre aduziu:
— A Justiça Divina é absoluta e todos os fenômenos se desenvolvem no Espaço e no Tempo, nada mais. Apenas, como conseqüência de tudo, ele virá a dizer que serviu a Deus, enquanto os mensageiros socorristas lhe provarão que ele foi apenas muito bem servido, adulado, festejado, mimado, obedecido e tido como autoridade temporal e espiritual... Provarão a diferença entre ele e seus títulos e o Divino Exemplo do Cristo, que títulos não aceitou e terminou a carreira carnal crucificado, por outros tantos falsos ministros de Deus!... E por fim, lhe mostrarão o caminho de trabalhosas e difíceis jornadas carnais...
No dia seguinte, na hora certa, estava eu a postos, aguardando o momento de verificar outro acontecimento, sem ter a menor idéia do que fosse.
— Vamos embora! – comandou Silvestre, todo feito alegria, planando em faixa vibratória que não tinha coisa alguma que ver com os umbrais.
Num abrir e fechar de olhos, estávamos dentro de uma casa singela, repleta de gente chorosa, povoada de multidões espirituais maravilhosas. Entre as lágrimas dos encarnados e as alegrias do mundo espiritual, somente pairava a fronteira carnal, a parede formal; menos isso e todos, encarnados e desencarnados, festejariam o desencarne de uma velhinha muito magra, encarquilhada ao máximo.
Silvestre fez um gesto de reverência, diante das grandes almas presentes e se disse o mensageiro da libertação. Todos abriram alas e ele chegou, elevou a sua mente, no que foi acompanhado por todos, tendo havido, então, uma profusão de vozes, palmas, cânticos, sorrisos de boas-vindas, uma verdadeira tempestade de glórias!
Solta entre milhares de braços amigos, formando uma nuvem azulino-dourada, a velhinha foi subindo, subindo... Mas ela foi deixando a velhice para trás, foi passando por uma transformação celestial, até que lá nas alturas, para nós, vimos a Grande Mãe vir e envolvê-la com a vastidão do seu manto brilhante, tão brilhante que, mesmo de longe, ofuscava as nossas vistas espirituais.
— Que espírito maravilhoso! – exclamei.
Silvestre sorriu e corrigiu:
— Que trabalho maravilhoso, isso sim, pois espíritos maravilhosos todos o somos, já que o Pai Divino nos fez semideuses!
— Que trabalho fez ela? – perguntei.
— Mãe de onze filhos, avó de setenta e nove netos, bisavó de centenas de bisnetos... Lavou muita roupa, cozinhou muito, distribuiu seus dotes de coração a milhares de irmãos... Deu conselhos a vida inteira e quantos exemplos pôde... Em lugar de pretender absolver os outros, com suas palavras simples orava e dizia ao Bom Deus que lhe perdoasse as faltas... Mesmo que lhe quisessem oferecer títulos e rótulos do mundo, ela os não aceitaria, porque o bom trabalho não lhe deixou o tempo para tais comprometedores devaneios... Enfim, Artur, essa velhinha, anônima para o mundo, foi bem lembrada pela Suprema Justiça... Portanto, diga aos nossos irmãos encarnados, que Deus não usa as viseiras do rotulismo humano.
Retornando aos pagos espirituais, parti para um lugar isolado, entre as montanhas da nossa região, para meditar sobre muitas questões. Meu cérebro estava abarrotado de idéias e meu coração minado de sentimentos profundamente estimulantes. Queria, pois, ficar sozinho, para lembrar e reviver uma porção de fatos.
Estava meditando, olhando de cima daquela cadeia de montanhas a planície que se estendia ao longe, onde a cidade sede da região estava localizada, com seus enormes prédios, hospitais, escolas, centros de estudos, etc. E uma sonolência me foi invadindo, invadindo, até que adormeci...
Naquela sonolência gostosa e embaraçosa ao mesmo tempo, porque eu sabia que dormia e sabia de mim ao mesmo tempo, senti que viajei e que visitei a Jerusalém dos dias de Jesus Cristo. Tenho certeza que vi a trajetória do Cristo, da Manjedoura ao Calvário. Estive perto de todos, amigos e inimigos, confiantes e desconfiados, indiferentes e chorosos. Eu sentia as reações de cada um, como se fossem aparelhos de registrar, cada um vibrando numa faixa diferente, reagindo de modo diferente, em face do mesmo acontecimento, em face da mesma tragédia imortal, que se inscrevia de modo rigoroso na História do Planeta.
Depois vi três magnatas da clerezia levítica, os três maiores inimigos de Jesus Cristo, que de alguns metros de distância, muito desconfiados, observavam os movimentos do Cristo, na cruz. Vi as Marias, vi e focalizei bem a Salomé, a sobrinha de Herodes, que desde a morte do Batista, se fizera uma das acompanhantes do Cristo, e que também pranteava aos pés da cruz.
E quando, num esforço tremendo, vi Jesus bradar ao Pai que em Suas Mãos entregava o Seu espírito, vi-O deixar o corpo, ser recebido por uma corte maravilhosa que tinha o Profeta Elias na frente, e subir, sumir no Infinito feito de luzes e de esplendores celestiais. Depois, não sei como, apesar de ter sol tudo escureceu, ficou noite, tremeu, causou muito pânico!...
Mas vi que um dos três era eu... Um dos grandes algozes do Cristo era eu...
Portanto, irmãos meus, filhos do Altíssimo, eu vos convido às obras nobilitantes, ao abandono dos rótulos do mundo, porque o túmulo os enterra também, ficando o espírito cheio de responsabilidades, nada mais. Tende a vossa mente ligada à Mente Divina e o vosso coração ligado ao Divino Coração; se assim fizerdes, irmãos, estareis com Jesus Cristo e Ele, nessas condições, será realmente o Caminho, a Verdade e a Vida, porque representa a Lei e a Justiça Divina.
Quanto ao mais, com a evolução dos espíritos os intercâmbios aumentarão, porque é o normal dos mundos e das humanidades; jamais alguém conseguiria obrigar o processo evolutivo a estagnar para sempre. Portanto, que se emendem de uma vez para sempre os adversários do Cristo Planetário, porque o Seu Batismo de Revelação marchará e triunfará.
De todos os movimentos ditos espiritualistas, é o Espiritismo aquele que se estriba nas Verdades Eternas, Perfeitas e Imutáveis de Deus, não tendo motivo algum para escravizar-se a instituições e a estatutos humanos, visto não ter grupos parasitas ou clericais, não admitir formalismos e idolatrias, vestes fingidas ou títulos nobiliárquicos, pois é notório que ninguém é proprietário da mediunidade e dos espíritos comunicantes.
O Espiritismo vale pelo que é, como expositor das Verdades Fundamentais, não tendo coisa alguma com religiosismos quaisquer, antigos ou modernos; pelo contrário, ele coloca o filho de Deus frente a frente com a Realidade Total, deixando-o livre para agir, segundo o seu alcance intelecto-moral, em função de sua união vibratória com o Pai Divino, a Essência Divina Onisciente, Onipresente e Onipotente.
O espírito missionário que devia vir repor as coisas no lugar, ou dar à restauração o caráter organizado que tem, não poderia inventar Verdades Doutrinárias e não as inventou; ademais, acima de todos os conceitos humanos, prevalece a condição universal da Excelsa Doutrina, tão universal quanto o próprio Deus. E por isso devemos afirmar que os homens vieram, por motivos cíclico-históricos, a conhecer o Espiritismo, mas o Espiritismo data da Eternidade, sempre conheceu os homens!
O Espiritismo é Realidade Fundamental, é Cósmico e Anímico, queiram ou não os homens, crédulos ou incrédulos; se forem incrédulos, no Espaço e no Tempo terão que se apresentar perante a Realidade; e se forem crédulos, ataviados com os mil e uns aranzéis dos formulismos religiosistas ou supersticiosos, terão que se compenetrar de que o Pai é Espírito e Verdade, assim querendo que Seus filhos venham a ser. Isto é, fora de quaisquer fantasias e exteriorismos.
E as duas testemunhas, fiéis e verdadeiras, continuam a testemunhar; quem é inteligente sabe o que elas querem. Porque a Lei de Deus é o Código de Conduta e o Cristo é o Modelo Divino, sendo as duas um misto de Moral, Amor, Revelação, Sabedoria e Virtude.
Portanto, antes de um filho de Deus pensar em fazer trejeitos e aparências, pretendendo com isso agradar a Deus, lembre-se de que a Era da infantilidade já se foi. Viva socialmente como convém, como bom filho do Pai Divino e fiel irmão de seus irmãos. Ninguém atingirá o estado de plenitude, em PAZ e VENTURA, fora dessa linha de conduta.
F I M
“Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, vós que excedeis em força, que guardais os seus mandamentos, obedecendo à voz da sua palavra” – Salmos, 103, 20.
Princípio Emanador, Pai Onipresente,
Senhor do Todo, e do Amor Onipotente,
Que a tudo Emanas, Sustentas e Destinas,
Através de leis Eternas, Perfeitas e Divinas.
A Ti rogamos, Princípio Todo-Poderoso,
Tuas Divinas Graças, de Pai Misericordioso,
Para que Teus Santos Espíritos, os Mensageiros,
De Tuas Divinas Bênçãos, se tornem despenseiros.
Despenseiros de Paz e de Saúde,
Ensinando a VERDADE, o AMOR e a VIRTUDE,
Para que cheios de Luzes, e mui conscientes,
Vivamos as Tuas Leis, Simples e Onipotentes.
Na dor, concede-nos a fortaleza,
E às duras provas, que vençamos com nobreza,
Para que, ressarcindo faltas, venhamos a progredir,
Até virmos a ser Cristo, no mais breve do porvir.
Senhor, tem piedade das fraquezas,
De nossas falhas, destas humanas incertezas,
Fazendo que Teus Mensageiros, em suas atuações,
Nos advirtam e ensinem, trazendo fartas consolações.
Na Tua Clemência, Pai Divino, aguardamos,
E o Teu Poder, para Teus Mensageiros rogamos,
Para, atraindo multidões, concitá-las à Tua Via,
À VERDADE QUE LIVRA, tendo o Teu Cristo por Guia.
Envia Santos Mensageiros, ó Deus,
Para todos conhecerem, e não haver labéus,
Pois ao Consolador confiaste Graças e Venturas,
O Amparo que Te rogamos, para todas as criaturas.
Oração ao Espírito Santo (Mensageiria Divina)
“A BÍBLIA DOS ESPÍRITAS e O NOVO TESTAMENTO DOS ESPÍRITAS extratificam todas as Bíblias da Humanidade, ensinando tudo sobre a comunicabilidade dos anjos, espíritos ou almas, para advertir, ilustrar e consolar os filhos de Deus encarnados.”
Ao Sagrado Princípio nos dirigimos, como Pai Amantíssimo que é, rogando Suas Divinas Bênçãos para todos os Seus filhos que se entregam à Verdade, ao Amor e à Virtude, objetivando a própria melhora e a de seus irmãos em Origem, Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade.
Ao Nosso Senhor Jesus Cristo apelamos, como Celeste Batizador em Revelação que é, para que determine e abençoe o trabalho de todos aqueles espíritos que, compenetrados da Verdade, do Amor e da Virtude, funcionam como servidores do Bem e do Bom, procurando beneficiar os irmãos com as maravilhosas dádivas da Assistência Espiritual.
E a vós nos dirigimos, Legiões do Senhor, prometendo cumprir com os nossos deveres para com a Lei de Deus e o Divino Exemplo de Jesus Cristo, portanto acima de religiosismos, de sectarismos, de truncações e inibições humanas, a fim de virmos a adorar a Deus em Espírito e Verdade.
De vós esperamos, conseqüentemente, toda aquela assistência que esteja enquadrada nos Santos Desígnios de Deus:
Ensino para os que desejam aprender;
Verdade para os que pretendem ser livres;
Amor para os que prezam fazer o Bem;
Revelações para os que auguram as verdades eternas, perfeitas e imutáveis do Nosso Pai Divino;
Virtude para os que desejam combater seus próprios vícios;
Amizade para os que sentem vontade de praticar a Bondade;
Certeza para os que duvidam da Sagrada Paternidade;
Trabalho para os que carecem de progredir;
Renúncia para os egoístas;
Ternura para os violentos;
Saúde, Paz e Ventura, a todos os que fizerem por merecer, porque vós sois os distribuidores de Deus, através da Excelsa Autoridade do Cristo Planetário.
Sagrado Princípio do Universo, que em Ti mesmo crias, sustentas e dás destino. Senhor das virtudes, das leis, das vidas e dos infindos mundos. Sagrada Causa Primária, onde tudo é, movimenta e atinge a Sagrada Finalidade.
Pai Divino, Tu que és o nosso Alicerce, o nosso Esteio, a nossa Luz e a nossa Glória; guia nossos passos, Senhor, para que a Tua Lei seja o nosso Caminho, para que o Teu Amor seja o nosso Pão Eterno, para que a Tua Graça constitua a nossa Consolação Imperecível.
Senhor Deus, que nos enviaste Jesus, o Cristo Planetário, a fim de nos Batizar em Revelação; estende, Senhor, a Revelação aos infindos mundos e humanidades, porque ela é a Tua Palavra.
Pai Santo, enche o Universo de Servos e Profetas, para que todos saibam das leis fundamentais de Essência, Existência, Movimento, Imortalidade, Evolução, Responsabilidade, Reencarnação, Revelação, Habitação Cósmica e Sagrada Finalidade.
Senhor do Infinito, faze que todos saibam de Tua Lei, onde esplendem a Moral que harmoniza e dignifica; o Amor que sublima e diviniza; a Revelação que adverte, ilustra e consola; a Sabedoria que confere autoridade; e a Virtude que sintetiza a união com a Tua Divina Vontade.
Princípio Sem Fim do Cosmo, dá-nos o Conhecimento, para que Te adoremos em Espírito e Verdade, assim como Tu és e queres que Teus filhos venham a ser.
Afasta-nos, ó Pai Divino, de qualquer idolatria!
Livra-nos, ó Deus, de qualquer tentação!
Liberta-nos, ó Amor, de toda e qualquer iniqüidade!
Pai Nosso, que és o Céu e estás no imo de tudo e de todos, suspende nossas almas ao Teu Reino de Luz, Glória e Poder. Atrai-nos, Senhor, a esse Reino de Amor, Verdade e Justiça, que embora estando no seio dos mundos, das formas e das transições, é entretanto acima de mundos, formas e transições!
Pai de Justiça e de Verdade, dá-nos a Consciência da Unidade, para que façamos de nossa vontade a Tua Vontade, de nosso amor o Teu Amor, de nossa vida a razão de ser de Teus santos desígnios. E que assim sendo, ó Pai Divino, venhamos a transformar a Terra na Jerusalém Eterna, onde não haverá mais trevas nem dores.
Jesus, Divino Amigo, Verbo do Eterno, a Ti rogamos a assistência das legiões mensageiras.
Síntese de todas as verdades, como Cristo Planetário, em Ti aprendemos as leis de Origem, Processo Evolutivo e Sagrada Finalidade.
Do estágio evolutivo em que nos encontramos, consideramos o que há para baixo, na escala evolutiva, rogando por aqueles que, através dos milênios, se encaminharão para o estado de consciência individual.
Igualmente o fazemos, Senhor Planetário, visualizando a consumação crística, a realização da Unidade, seguindo os rumos imortais de Tua orientação verdadeira, amorosa e justa, de Mestre Inconfundível.
No Teu Divino Exemplo, Jesus, reconhecemos o respeito que devemos aos Princípios Eternos, Perfeitos e Imutáveis do nosso Pai, o Sagrado Princípio do Todo.
Na Tua Ressurreição Espiritual, ó Divino Amigo, aprendemos a lição da ressurreição final de todos os filhos do Altíssimo.
No Teu Batismo de Revelação, Senhor, aprendemos a importância da Mensageiria Espiritual do Bem, cujos ensinamentos advertem, ilustram e consolam.
E rogamos, ó Jesus, ao Teu Sábio Ministério, que em toda a Humanidade se faça um novo e glorioso Pentecoste, a fim de que, aprendendo com os Teus Mensageiros, os homens se tornem bons filhos do Pai Divino e fiéis amigos de seus irmãos.
Ponha, ó Celeste Benfeitor, a noção de Responsabilidade na Consciência de Teus tutelados, para que se sintam juízes em causa própria, aprendendo a comandar seus pensamentos e atos.
Senhor, arranca de todas as Mentes as tendências sectárias, idólatras e pagãs, ritualistas e simuladoras, fazendo brotar nelas a Certeza da Verdade, do Amor e da Virtude, como sendo a que liberta o espírito.
Mestre dos mestres, infunda nas almas, Tuas irmãs, que ainda perambulam pelos planos inferiores da vida, o sentimento da Simplicidade, esse que faz reconhecer a igualdade perante as Leis de Deus, o Nosso Pai Comum.
Celeste Condutor, deposita em cada Coração uma gotícula de Amor, para que os mesmos procurem nas obras de Fraternidade o Caminho do Céu, abandonando de uma vez para sempre os religiosismos, que retardam a marcha evolutiva dos espíritos.
Cordeiro de Deus, faze que Teus irmãos reconheçam, na Criação Infinita, nos Mundos e nas Humanidades, o Templo Vivo do Criador, onde todos devemos viver em Estado de Oração.
Divino Amigo, ponha em todas as Consciências a chama da Verdade e da Virtude, para que sintam a importância da Liberdade.
Oração a Maria
Meiga filha do Eterno Pai, amparai aos que peregrinam os rincões inferiores da vida, para que neles aflore o desejo de Conhecimento, Certeza e Bondade, deixando de parte as idolatrias, os paganismos, os ritualismos e todas as formas inferiores de culto espiritual.
Anjo tutelar das legiões que socorrem nas trevas e nos lugares de dor, atendei ao clamor daqueles que, arrependidos, anseiam reencontrar o Caminho da Verdade que livra.
Doce Mensageira do Amor, derramai vossa ternura maternal sobre os corações aflitos, para que se elevem às alturas do trabalho redentor.
Senhora Eleita, inspirai o sentimento da Verdade, do Amor e da Virtude nos corações de todos aqueles que tendem aos desatinos do mundo, para que não desçam aos lugares de pranto e ranger dos dentes.
Levantai, ó Senhora, dos abismos tenebrosos, a todos quantos erraram por causa dos fanatismos religiosos.
Intercedei, ó meiga estrela, por aqueles que, esquecidos da Lei e olvidados de Jesus Cristo, mergulharam nos lugares de sombra e de dor.
Ó ternura, ponde sentimento de pureza em todos os corações femininos, para que se convertam em verdadeiros anjos guardiães.
Sede a luz, ó Maria, daqueles olhos que não podem ver.
Amparai, ó Senhora, aos que fraquejam ao longo dos caminhos da vida.
Ouvi, ó Símbolo das Mães, a voz dos que não podem falar.
Enxugai a lágrima, ó meiga irmã, daqueles que padecem falta de misericórdia.
Dominadora de paixões, sede o anjo guardião, daqueles que temem resvalar nas vielas do pecado.
Consoladora dos aflitos, ungi com o Bálsamo do Amor aos que se encontram de coração angustiado.
Guiai os passos, ó doce amiga, dos que tendem a desanimar em face das torturas do mundo.
Depositai, ó Maria, em todos os corações, o sentimento de igualdade perante as leis que regem o Universo Infinito.
Conduzi ao pórtico da Verdade, ó candura, a quem se encontrar perambulando pelos caminhos da inverdade e do crime.
Envolvei com o vosso azulino manto, ó Maria, a todos aqueles que procuram as verdades eternas, perfeitas e imutáveis de Deus, através da Divina Modelagem de Jesus Cristo.
Apontai, ó luminosa estrela, ao Testamento da Moral, do Amor, da Revelação, da Sabedoria e da Virtude, para que todos os filhos do Altíssimo encontrem, de uma vez para sempre, os braços abertos do Divino Amigo.
Sagrado Princípio, Deus ou Pai Divino, Origem, Sustentação e Destinação de tudo e de todos, o Espírito e a Matéria, as Leis Regentes Fundamentais e tudo quanto possa existir, conheçamos ou não, nós os Teus Filhos lotados na Terra.
Sabemos nós, Pai Divino, que na ordem dos Espíritos e dos Mundos, existem os mais e os menos evoluídos, pois embora sendo Uma a Origem e Uma a Finalidade, para tudo e todos vigora a Lei de Movimento, Evolução e Reintegração na Tua Unidade, ou Divindade, sendo esse o Sagrado Objetivo da Existência.
Somos conscientes, Pai Divino, Daqueles Verbos Teus, Comandantes de Galáxias, Grupos de Sistemas Planetários, Sistemas e Mundos, onde Filhos Teus vivem, na carne e fora da carne, movimentam atividades e, assim, vão desabrochando Tuas Virtudes Divinas, das quais todos são depositários normais.
Sabemos, Pai Divino, que toda Humanidade Planetária tem o Seu Verbo Tutelar, o Seu Despenseiro Fiel e Prudente, o Elo Divino entre os Teus mais Elevados Comandos, e os Escalões Imediatos, aqueles que de mais perto assistem aos que peregrinam a encarnação e os reinos espirituais menos elevados.
Pai Divino, é em virtude de tais conhecimentos, e inspirados por desejos de trabalho fraterno, no seio da Excelsa Doutrina do Caminho, que rogamos forças e oportunidades à Tua Serva Maria Madalena, a fim de que nos possa auxiliar, no seio de Tua Divina Justiça, por cima da qual ninguém jamais passará.
E a ti, Maria Madalena, imortal exemplo de arrependimento de erros cometidos, dedicação ao Verbo Encarnado e à Tarefa Evangelizadora, e modelo de renúncia aos bens mundanos, enviamos o nosso apelo fraterno, para que, no âmbito da Lei de Deus, do Cristo Exemplar e dos Dons do Espírito Santo, coopere na tarefa a que nos propusemos de, cada vez mais, conhecer a Verdade e praticar o Bem.
Oração a Bezerra de Menezes
Nós Te rogamos, Pai de Infinita Bondade e Justiça, as graças de Jesus Cristo, através de Bezerra de Menezes e suas legiões de companheiros. Que eles nos assistam, Senhor, consolando os aflitos, curando aqueles que se tornem merecedores, confortando aqueles que tiverem suas provas e expiações a passar, esclarecendo aos que desejarem conhecer a Verdade e assistindo a todos quantos apelam ao Teu Infinito Amor.
Jesus, Divino Portador da Graça e da Verdade, estende Tuas mãos dadivosas em socorro daqueles que Te reconhecem o Despenseiro Fiel e Prudente; faze-o, Divino Modelo, através de Tuas legiões consoladoras, de Teus Santos Espíritos, a fim de que a Fé se eleve, a Esperança aumente, a Bondade se expanda e o Amor triunfe sobre todas as coisas.
Bezerra de Menezes, Apóstolo do Bem e da Paz, amigo dos humildes e dos enfermos, movimenta as tuas falanges amigas em benefício daqueles que sofrem, sejam males físicos ou espirituais. Santos Espíritos, dignos obreiros do Senhor, derramai as graças e as curas sobre a humanidade sofredora, a fim de que as criaturas se tornem amigas da Paz e do Conhecimento, da Harmonia e do Perdão, semeando pelo mundo os Divinos Exemplos de Jesus Cristo.
“Depois de se recuperar, Judas foi convidado a prestar excelentes informes, também foi designado como Chefe de Falange Socorrista Médica, e é devido reconhecer, não só a lei de recuperação, como também o apoio ao grandioso serviço socorrista.”
A Ti rogamos, Pai Divino, através de Jesus Cristo, o nosso Divino Modelo, a Graça de consentir assistência espiritual da parte de André Luís e seus companheiros de trabalho.
A Ti rogamos, Cristo-Verbo, Senhor Planetário e Celeste Derramador do Espírito sobre toda a carne, a bênção do Amor que a Teus irmãos menores dedicas. E apelamos, Senhor, que esta bênção venha segundo os Moldes que revelaste ao mundo, quando pela carne transitaste, indo em busca dos pequeninos, daqueles que a Ti apelavam através de suas chagas, aleijumes, compressões espirituais e toda sorte de sofrimentos.
Desce uma vez mais, Senhor, através dos abnegados serviços de André Luís e seus companheiros, até às brumas deste mundo inferior, distribuindo dádivas espirituais a todos aqueles filhos de Deus, Teus irmãos e tutelados que, por seus desejos de melhora intelecto-moral, venham a se tornar merecedores.
A vós, André Luís e devotados servidores da Soberana Vontade de Deus, que se filtra através de Jesus Cristo, rogamos assistência espiritual, para efeito de Saúde, Paz e Ventura, tudo porém consoante a lei de Causa e Efeito; que se cumpra a Justiça Divina, a fim de que todos aprendam, que por cima da Lei ninguém jamais passará.
Augurando a vós, abnegados servidores da Verdade, do Bem e do Bom, as Graças do Pai Divino e do Cristo Planetário, aguardamos a vossa preciosa assistência, para que assim assistidos, possamos estar sempre vigilantes, para não cairmos em tentação e podermos auxiliar nossos irmãos na caminhada evolutiva.
Sabedores de que há uma Sagrada Finalidade a ser atingida, nos afirmamos desejosos de progredir; e reconhecendo que para Receber é necessário Dar, rogamos a ventura de podermos ser úteis aos nossos irmãos necessitados, servindo de instrumentos de vossa maravilhosa obra de caráter assistencial.
Ao Sagrado Princípio do Todo invocamos, do mais íntimo de nossa Consciência, em sinal de reverência à Verdade, ao Amor e à Virtude, propositando cooperar junto às Legiões de Pretos Velhos, Índios, Hindus e Caboclos, para os serviços que são chamados a desempenhar na Ordem Doutrinária.
Ao Cristo apelamos, como Diretor Planetário e Senhor dos Sete Escalões em que se distribui a Humanidade Terrestre, composta de encarnados e desencarnados, desejando oferecer colaboração eficiente, de caráter fraterno, em defesa da Verdade e da Justiça, contra aqueles que, contrariando os Sagrados Objetivos da Vida, se entregam aos atos que contradizem a Lei de Deus.
Conscientes da integridade da Justiça Divina, afirmamos a mais fiel e intensa observância dos Mandamentos da Lei, conforme o Divino Exemplo do Verbo Exemplar, para todos os efeitos invocativos. Acima de alternativas constituirá barreira contra o Mal, em qualquer sentido em que se apresente, venha de onde vier, seja contra quem for, conquanto que, em defesa da Verdade, do Bem e do Bom.
Conseqüentemente, que aos bondosos Pretos Velhos seja dado refletir, em seus trabalhos, os sábios e santos desígnios daqueles que, traduzindo a Divina Tutela do Cristo Planetário, assim determinarem das Altas Esferas da Vida.
Que as legiões de Índios, simples, espontâneas e valorosas, sempre maravilhosamente ligadas à natureza exuberante, possam agir sob a direção benévola e rigorosa dos Altos Mentores da Vida Planetária. Lutando pela Ordem e pelo Bem, pelo progresso no seio do Amor, que tenham de Deus as graças devidas.
Que às numerosas legiões de Hindus, profundamente ligadas às mais remotas Civilizações do Planeta, formando portanto nas Altas Cortes da Hierarquia Terrestre, sejam concedidas pelo Senhor Planetário as devidas oportunidades, para que forcem, sustentem e imponham a Suprema Autoridade. Que nesta hora cíclica, em que a Terra transita de uma para outra Era, as Mentes humanas possam receber os eflúvios da Pureza e da Sabedoria, a fim de que sintam os Divinos Apelos do Cristo, em favor dos Santos Desígnios do Pai amantíssimo, que é a divinização de todos os filhos.
Que as legiões de Caboclos, humildes e bondosos, tão ligadas aos que peregrinam a encarnação, para efeito de expiações, missões e provas, a todos possam envolver, proteger e sustentar, desde que se esforcem a bem da Moral, do Amor, da Revelação, da Sabedoria e da Virtude, pois que, fora dessa Ordem Doutrinária, não há Evangelho.
Pai Divino, rogamos as Tuas Graças,
Para nós e para toda a Humanidade;
Que todos se queiram, acima de raças,
A fim de que reine, a Tua Felicidade.
Tua Ordem é para a Frente e para Cima,
E queremos atender à Tua Convocação;
Queremos a VERDADE que livra e sublima,
Porque somente a VERDADE é a RELIGIÃO.
Pai Santo, que és a nossa razão-de-ser,
O Sagrado Princípio que Cria e Determina;
No Teu Sagrado Anelo desejamos crescer,
Até virmos a ser Verbos na Ordem Divina.
OBRAS DO AUTOR QUE JÁ ESTÃO NAS LIVRARIAS
[Solange: incluir na lista que já temos mais esta obra, na seqüência de tamanho do título – A Volta de Jesus Cristo]
[Solange: colocar aquela última página com aquela informação do Gostou?]
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